A loucura de um beijo

Quem prefere sintonizar os canais de televisão de notícias do país, do mundo e do desporto ficou na semana passada absolutamente atordoado com a decisão editorial nos referidos canais. O país vive momentos de grande dificuldade, os cidadãos que optaram por comprar casa estão desesperados com o aumento das taxas de juros e o consequente aumento da prestação mensal, em alguns casos, já subiu para o dobro.

As famílias que optaram pelo arrendamento andam desesperadas com o possível aumento de sete por cento nas rendas no próximo ano devido à subida da inflação, caso o Governo não venha a travar esse aumento. Nos hospitais prevalece o caos, os médicos entram em greve e as cirurgias e as consultas ficam para as calendas atingindo milhares de portugueses. No corredor de um hospital, um idoso com 96 anos esteve seis horas à espera de atendimento e veio a morrer. Uma jovem de 23 anos, grávida, teve alta do hospital depois de ter manifestado que não se sentia bem.

Assim que saiu da unidade hospitalar veio a falecer. Os agricultores continuam a não receber as ajudas que já foram prometidas há dois anos. O Presidente da República vai continuar a viajar para o estrangeiro. Passam-se no seio da administração pública os factos mais mirabolantes, como o do Joe Berardo, que só de uma vez levantou 350 milhões de euros, sem garantias, da Caixa Geral de Depósitos e depois foi comprar acções no Banco Millennium e anda à boa vida num luxo inacreditável e a anunciar que vai abrir mais museus quando os crimes cometidos foram tantos que há muito devia estar na prisão, como ficou provado nas páginas da revista Sábado.

E com tanta matéria para noticiar, as nossas televisões não tiveram mais nada para divulgar diária e consecutivamente, se não um beijo que o presidente da Federação de Futebol espanhola, Luis Rubiales, deu na boca de uma jogadora da selecção nacional feminina que tinha acabado de se sagrar campeã mundial. Mas, as sessões nos canais televisivos foram seguidas, repletas dos mais variados comentadores, com defensoras dos direitos das mulheres, com a suspensão de Rubiales pela FIFA. Um absurdo total. Uma total loucura.

Mesmo no desporto, a semana foi fértil em transferências de jogadores, o Benfica estava a comprar e a vender jogadores, o Sporting e o FC Porto a mesma coisa e as televisões apresentavam um minuto sobre esse assunto. Ora vejamos: primeiramente quero dizer-vos que um amigo que reside em Madrid, informou-me que há muito que se falava de uma relação íntima entre Rubiales e aquela jogadora.

Depois, se repararem bem, na imagem que publicamos, a jogadora abraçou apertadamente o presidente da Federação de Futebol espanhola e no momento do beijo na boca ainda está a abraçá-lo. Tudo o resto são tretas, oportunismos de associações pseudo defensoras dos direitos das mulheres. Se o presidente Rubiales tivesse entrado no balneário das jogadoras quando elas estiveram completamente nuas a tomar o duche, bem, isso era um crime grave, era um abuso sem perdão, era motivo de noticiários constantes.

Agora um beijo na boca de um homem a uma mulher que, pelos vistos, conheciam-se muito bem, é uma vergonha jornalística o que se passou nos canais televisivos. E ainda mais, como hoje em dia está na moda, se tivesse sido um beijo entre dois homens ou entre duas mulheres nada aconteceria. Se pretendem ser verdadeiramente fundamentalistas, então a FIFA que decida rapidamente que as equipas de futebol femininas terão de ser treinadas por uma mulher, terão de criar uma Federação de Futebol Feminino presidida por uma mulher, os massagistas terão de ser todas mulheres tal como já acontece com as árbitras. De resto, colocar um presidente de uma Federação de Futebol importante como é a espanhola, como um criminoso, como um escroque, um bandido que teve o desplante de beijar na boca uma jogadora, eivado daquela emoção natural de ser campeão mundial, é de bradar aos céus.

O jornalismo português está a passar por uma fase degradante. Não temos um jornal onde se possa ler algo de independente. Agora até veio a lume uma escandaleira que deixou todos os jornalistas sérios de cara à banda. O Governo quer decidir o pagamento acrescido de 40 por cento do salário dos jornalistas. Isto, é comprar os jornalistas, é acabar totalmente com a liberdade de um jornalista, é condicionar a crítica ou a investigação a actos governamentais. Oferecer mais 40 por cento do salário que tenha o jornalista em Portugal? É inacreditável e vergonhoso se isso vier a acontecer. Por que razão o Governo não decide apoiar as empresas proprietárias de órgãos de comunicação social e estas, sim, aumentarem os salários dos jornalistas? Seria mais decente e os jornalistas possivelmente deixariam de se preocupar com um beijo na boca de um homem a uma mulher…

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