Yongle e a campanha contra os Mongóis (XV-2)

Três meses depois da inauguração do Palácio Imperial em Beijing e dois após a partida da sexta viagem marítima, na noite do dia 8 da 4.ª lua do ano Xin Chou (辛丑), 19.º ano do reinado de Yongle, devido a uma trovoada, na noite de 9 de Maio de 1421, deflagrou um grande incêndio na Cidade Proibida.

Este foi o ponto de viragem do reinado de Yongle. Estava doente e tudo começou a correr mal ao terceiro Imperador da dinastia Ming. Cinco dias depois, ordenou a suspensão temporária das viagens marítimas e transferiu os fundos para custear as suas últimas três campanhas contra os mongóis.

O território da China entre 1279 a 1368 fora governado pelos mongóis do clã dos Borjigin, descendentes de Genghis Khan, sendo a dinastia Yuan afastada pelo povo han, após vinte anos de lutas e revoltas, que criou a dinastia Ming em 1368, conquistando quase toda a China, ficando os mongóis no poder em Shaanxi até 1369, em Sichuan até 1371, e Yunnan até 1382.

O décimo primeiro e último Imperador Yuan da China, o mongol Khan Toghan-Temur (1333-1368), com o nome póstumo Shundi e de templo Huizong, era filho do Imperador Mingzong e fora coroado Imperador a 10 de Julho de 1333 e aí reinou até 10 de Setembro de 1368, quando fugiu para as estepes do Norte. No planalto da Mongólia criou a dinastia Yuan do Norte onde, entre 1368 e 1370, foi o Imperador Shun de Yuan, fazendo a capital em Shangdu, mudando-a em 1369 para Yingchang.

Desde Maio de 1370, Zhu Di (1360-1424), o futuro Imperador Yongle, no reinado do seu pai o Imperador Hongwu, o primeiro da dinastia Ming, combatia no Norte os mongóis, sendo em 1380 colocado como príncipe de Yan a governar Beiping, pois as fronteiras do Norte encontravam-se ameaçadas por constantes investidas dos mongóis, vencendo-os em 1390, após dez anos de duros combates.

Quando Tögüs Temür (1378-1388), o terceiro Khan da dinastia Yuan do Norte já com a capital em Karakorum, foi em 1388 derrotado pelo exército Ming, a maior parte das tribos mongóis renderam-se à dinastia Ming, que os incorporou em três forças militarizadas a servirem de proteção às regiões fronteiriças do Norte. No entanto, os mongóis Oirat e os mongóis do Leste permaneceram hostis para com os Ming até 1408, quando Mahmud, chefe dos mongóis Oirat, enviou uma missão tributária à corte Ming que, em 1409, ofereceu aos líderes Oirat o título de Wang (Rei vassalo).

Tal exacerbou o conflito entre os Oirat e a dinastia Yuan do Norte, levando ainda em 1409 o Khan Öljei Temür (1408-1412) a executar o embaixador chinês. Na Mongólia Central e do Leste em 1403, Bunyashiri do clã Borjigin declarara-se Khan Öljei Temür e promoveu Arughtai a Grande Chanceler, mas a dinastia Yuan do Norte não foi reconhecida pela maioria dos clãs mongóis, levando o Khan Öljei a atacar a Confederação dos Quatro Oirats, que governava a Mongólia do Oeste.

CAMPANHAS MILITARES CONTRA OS MONGÓIS

Entre 1410 e 1424 o Imperador Yongle empreendeu cinco campanhas militares contra os mongóis no planalto da Mongólia.

Na primeira campanha, Yongle partiu de Beijing em Março de 1410 levando seis exércitos e cem mil soldados e perante tal multidão Bunyashiri pretendeu fugir, mas o seu ajudante de campo Arughtai não concordou e assim se separaram, seguindo em diferentes direcções. O exército Ming deu primeiro caça às forças de Bunyashiri, derrotando-as a 15 de Junho de 1410, mas Bunyashiri conseguiu fugir. De seguida foram os Ming combater as forças de Arughtai e após uma batalha este escapou com o que sobrou das suas tropas. O Imperador Yongle regressou a Beijing a 15 de Setembro de 1410 e mais tarde Arughtai enviou-lhe cavalos como tributo, recebendo privilégios comerciais dos Ming.

Na Primavera de 1412, o mongol Oirat Mahmud encontrou-se com Bunyashiri e matou-o e por isso pediu uma recompensa à corte Ming, mas não sendo atendido Mahmud ficou zangado e daí fez prisioneiros os enviados Ming. O Imperador Yongle mandou um eunuco para os libertar, mas a tentativa não teve sucesso. Mahmud sentindo-se ameaçado, em 1413 despachou 30 mil tropas mongóis ao encontro do exército Ming e a iminente guerra foi denunciada à corte Ming por Arughtai. De Beijing saiu o Imperador a 6 de Abril de 1414, a liderar a campanha contra os mongóis Oirats, que foram esmagados e forçados à retirada, fugindo Mahmud ao exército Ming. O Imperador retornou a Beijing em Agosto de 1414, [mas só chegou à capital Nanjing a 14 de Novembro de 1416] e Mahmud pretendeu reconciliar-se com a corte Ming, mas Arughtai antecipando-se, atacou e matou Mahmud em 1416.

Arughtai esperava ser de novo recompensado pelos Ming, mas apenas foi agraciado com títulos, sem conseguir os ambicionados privilégios comerciais. Hostilizado, começou a atacar as caravanas Ming que percorriam os caminhos comerciais do Norte e em 1421 deixou de enviar tributo, conquistando no ano seguinte a fortaleza de fronteira Xinghe.

Tal levou o Imperador Ming a lançar em 1422 a terceira campanha militar e com um imenso exército atacou Arughtai, mas ele fugiu estepes dentro, terreno não propício aos chineses e por isso apenas 20 mil homens foram em perseguição. Estes acabaram por ser capturados e enviados para a comandaria Uriankhai, nas mãos de Arughtai. Irritado, Yongle foi atacar três tribos mongóis Uriankhai, não envolvidas com as hostilidades de Arughtai, regressando o exército Ming a Beijing a 23 de Setembro de 1422.

MORTE DO IMPERADOR

Em Agosto de 1423, o Imperador Yongle lançou uma quarta campanha, numa acção preventiva contra as forças de Arughtai e de novo este fugiu ao confronto com as tropas Ming. Esen Tügel, um comandante dos Mongóis do Leste rendeu-se aos Ming e em Dezembro, o Imperador Yongle retornava a Beijing.

Já Zheng He regressara da sexta viagem marítima no nono mês do ano Gui Mao (癸卯) (21.º do reinado de Yongle, 1423) trazendo os enviados de 16 reinos e países da Ásia e África, incluindo Mogadíscio, Brava, Suoli, Adem, Djeffer, Meca, Ormuz, Calicute, Cochim, Kayal, Lacadive, Ceilão, Lambri, Sumatra, Aru e Malaca em número de 1200 pessoas. Para receber os dignitários estrangeiros das missões diplomáticas e de amizade à China, a corte Ming organizou uma grande e espectacular cerimónia.

Devido a Arughtai continuar a varrer a fronteira Norte da China, em Kaiping e Datong, Yongle lançou em 1424 a quinta campanha. Partindo no início de Abril na direcção das forças de Arughtai, este de novo evitou encontrar-se com as tropas de Yongle. Alguns comandantes Ming queriam persegui-lo, mas o Imperador sentindo-se muito fatigado, ordenou o fim da campanha e o regresso a Beijing. Em 12 de Agosto, o Imperador já bastante doente, faleceu na viagem de retorno.

Na capital encontrava-se desde Abril de 1424 Sri Maharaja (Xi-Li-Ma-Ha-La, 西里麻哈剌) a fazer uma visita oficial à corte Ming para comunicar a morte de seu pai, o Xá Megat Iskandar e para o Imperador Yongle o proclamar sucessor do Reino de Malaca.

Enviado ainda por o Imperador Yongle, Zheng He em 1424 partira numa missão diplomática a Palembang acompanhado pelo capitão de guerra da armada Zhou Wen na posição de vice-Qian Hu (comandante de mil soldados). Zhou Wen (周闻, 1385-1470) nascido em Hefei com o nome Shang Shengyuan (尚声远), não era eunuco e ocupara o lugar do seu meio-irmão, cuja posição militar era de Bai Hu (a controlar cem soldados), após este morrer. Devido ao porte físico, alto e forte, em 1402 aos 18 anos fora promovido em Taicang e escolhido como oficial militar por Zheng He para o acompanhar nas viagens das expedições de 1409 (a Ormuz), 1413, 1417, 1421 (onde só foi até à Índia).

Devido à morte do Imperador Yongle a 12 de Agosto de 1424, Zheng He com Zhou Wen regressaram de Palembang, encontrando já Zhu Gaozhi, o filho mais velho de Yongle, desde 7 de Setembro de 1424 como Imperador Hongxi, o quarto da dinastia Ming.

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