Rota das Letras | Nova edição de “O Livro dos Nomes” apresentada no sábado

DR
A Livraria Portuguesa acolhe este sábado, a partir das 18h, o lançamento da nova edição de “O Livro dos Nomes”, com 88 textos da autoria de Carlos Morais José sobre sentimentos despertos por diversos locais do território. Os textos fazem-se acompanhar pelas fotografias de Sara Augusto

 

Há 12 anos a primeira edição de “O Livro dos Nomes”, de Carlos Morais José, director do HM, desvendava segredos e sentimentos do autor sobre cada recanto de Macau por si escolhido. O caminho volta a ser percorrido este sábado, pelas 18h, com o lançamento de uma nova edição da mesma obra, num evento inserido na programação do festival literário “Rota das Letras”.

Trata-se de 88 textos “de amor, ciúme, abandono e indiferença, entre outros sentimentos menos próprios para almas arredias das coisas desta cidade, que não cessa de existir como utopia e vício”, escreveu o autor nas redes sociais. A acompanhar os textos surgem imagens de Sara Augusto, académica que se dedica à fotografia nos tempos livres.

O primeiro contacto da autora das imagens com “O Livro dos Nomes” surgiu em 2016, ano da sua chegada a Macau, conforme contou ao HM. “Comecei desde essa altura a ler e a escrever sobre a obra de Carlos Morais José. Entretanto, durante estes anos, também ele foi conhecendo a minha actividade no campo da fotografia. E o convite surgiu da convergência de interesses comuns e vem a ser preparado desde há um ano e meio.”

Aliar as imagens às palavras “foi um desafio”, devido à distância temporal que separa as duas obras. “Já conhecia essa primeira edição, composta de textos em prosa poética, também traduzidos para chinês.

Desde essa altura que o meu imaginário de Macau também se foi preenchendo. Esta nova edição alcança os 88 textos em prosa poética e apresentam características muito particulares relacionadas com a relação que o sujeito poético estabelece com o espaço.”

Além disso, acrescenta Sara Augusto, “cada lugar apontado é tomado como lugar de experiência e de memória, como se de um lugar interior se tratasse”. Desta forma, “quando falamos dos textos, temos de invocar uma convivência longa e exaustiva do poeta com o espaço”, embora esse não tenha sido o caso de Sara Augusto, que tem “uma permanência muito mais breve em Macau”.

Construção de memórias

Ao trabalhar neste projecto, a autora das fotografias de “O Livro dos Nomes” acabou por “construir memórias pessoais sobre lugares de Macau já conhecidos ou ainda desconhecidos”.

“Esta diferente experiência de Macau está visível nas fotografias. Há circunstâncias em que o poema fala de uma determinada vivência ou memória e em que a imagem revela a minha atenção a determinado detalhe, claramente distinto. Não se pretendeu que as fotografias funcionassem como ilustração, nem os textos como legenda, mas que os dois discursos, mesmo que distintos, pudessem conviver e mesmo convergir”, disse.

Mesmo com 12 anos de distância entre os dois livros, estas edições acabam por se complementar, num fio condutor. “O Macau da edição anterior, transmitida através da poesia, prolonga-se para esta nova edição.

O espaço de Macau no livro não é o Macau turístico, mas é um espaço interior, quase mítico, fundador de memórias. Ora, esse espaço interior não sofre transformações externas tão bruscas, mas prolonga a sua melancolia, em gestos de amor e de abandono.”

A fotografia serve, assim, para transmitir “essa fluidez e um olhar subjectivo sobre espaços por todos vistos quase até à exaustão”. “Numa ou noutra circunstância a conjugação entre fotografia, lugar e texto, foi mais difícil de conseguir, ou pode mesmo ter sido menos bem conseguida. A razão é simples: a memória faz o lugar, E de alguns lugares eu tinha nem o conhecimento, nem a memória. Mas, como disse Baudelaire, ‘a imaginação faz a paisagem’, e a fotografia é também um acto de interpretação e de construção do imaginário”, contou.

Sara Augusto viveu “experiências distintas” com este livro. “Por um lado, havia a curiosidade pelos lugares desconhecidos, dos quais eu não tinha memória. Por outro lado, havia os lugares mais conhecidos em que havia necessidade de ultrapassar o lugar-comum e banal. O longo tempo passado nos templos espalhados por Macau foi dos mais interessantes, explorando os jogos de luz e de sombra.”

Questionada sobre os lugares mais icónicos que fotografou, Sara Augusto remata: “fotografar a fachada das ruínas de São Paulo é sempre um desafio”.

Subscrever
Notifique-me de
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários