Covid-19 | Novas restrições preocupam hotéis, restaurantes e sector das convenções

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Associações ligadas ao turismo temem que o novo surto possa piorar ainda mais a frágil situação de Macau. Sector hoteleiro diz que as novas restrições vão deitar por terra a recuperação que se esperava no Verão. Chan Chak Mo espera mais apoios para a restauração e uma análise ampla das autoridades. O sector das convenções espera que o Governo siga os exemplos de Singapura e Tailândia e abra fronteiras, mediante condições

 

Na sequência do novo surto de covid-19 detectado em Macau, associações ligadas ao turismo temem que as restrições impostas pelas autoridades, venham a agravar a situação já de si precária do sector.

“Penso que os turistas do interior da China começaram a perder a confiança em termos de quando podem vir a Macau, porque estão preocupados, claramente, em ficar aqui presos”, disse à Lusa o vice-presidente da Associação de Hotéis de Macau, Rutger Verschuren.

Recorde-se que na madrugada de domingo, as autoridades decretaram o estado de prevenção imediata, depois de terem sido detectados 12 casos de covid-19, tendo sido decidida a realização de uma testagem geral da população num período de 48 horas, medida que vai ser repetida hoje e amanhã.

Além de aplicarem medidas de isolamento em várias zonas da cidade, as autoridades avançaram com novas restrições à entrada de turistas do Interior da China. Aqueles que atravessam as fronteiras têm de apresentar agora um certificado de teste de ácido nucleico com resultado negativo feito nas 48 horas anteriores, em vez de num período de sete dias.

A Associação de Hotéis de Macau, que representa 59 estabelecimentos da região, de quatro e cinco estrelas, admitiu que, por questões de saúde pública, apoia a política de prevenção do Governo. Já no que diz respeito ao negócio, o organismo considerou que as medidas “extremamente stressantes” vieram deitar por terra os planos de recuperação para o Verão.

“Perante a situação actual, podemos dizer adeus a Junho e pelo menos a metade de Julho, mas temos alguma esperança em Agosto”, notou Vershuren, apontando que “com um surto destes leva, pelo menos, dois meses para [o sector começar a] recuperar”.

A pão e água

Também o presidente da União das Associações dos Proprietários de Estabelecimentos de Restaurantes e Bebidas de Macau, Chan Chak Mo, notou que o mais recente surto e programa de resposta das autoridades “vão ter um impacto imediato” no negócio. “Mas depende de como o Governo consegue controlar a transmissão do vírus. Se tudo correr bem, prevejo que para a semana volte tudo ao normal”, disse Chan Chak Mo, realçando esperar que as autoridades criem, “mais tarde, se possível, um plano de auxílio económico”.

De referir que, na sequência do mais recente surto, Governo anunciou no domingo sete medidas de apoio a empresas e residentes de Macau, no valor total de dez mil milhões de patacas, sustentadas pela reserva financeira, que vão desde benefícios fiscais a uma moratória por um ano do pagamento de empréstimos bonificados.

“Para já, são boas medidas, mas tudo depende do avançar da pandemia. Se persistir e [os turistas] não puderem entrar em Macau, isso pode indicar um problema iminente e recorrente e penso que o Governo deve olhar para a situação”, constatou o também deputado da Assembleia Legislativa.

Pouco convencionais

Synthia Chan, representante da área das convenções e exposições (MICE, na sigla inglesa), um sector “continuamente afectado” pela pandemia, mostrou-se mais céptica quanto ao apoio económico anunciado pelo Executivo.

“Não ajuda a indústria, pelo que entendi”, salientou a presidente da Associação de Comércio e Exposições de Macau. “O sector MICE depende muito dos turistas da China ou de fora para que os eventos tenham sucesso”, disse, frisando que “Macau é um destino muito turístico” e os viajantes MICE são “o topo dos turistas” e aqueles “que estão dispostos a gastar dinheiro”.

“Este surto agora, com as restrições fronteiriças – que nós entendemos – não vão possibilitar a recuperação da economia”, completou.

As medidas de restrição e controlo contra a covid-19 levaram Macau, que em 2019 contabilizou quase 40 milhões de visitantes, a fechar a fronteira a estrangeiros e a impor uma quarentena obrigatória a quem chega de fora, à excepção do Interior da China. Só no mês passado, o número de visitantes caiu 30,6 por cento em termos anuais, de acordo com dados divulgados na segunda-feira pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC).

Para fazer frente à baixa turística, aponta o vice-presidente da Associação de Hotéis de Macau, várias unidades hoteleiras têm “criado programas para reduzir custos e obter receitas”. “Muitos trabalhadores viajam entre Zhuhai [cidade fronteiriça] e Macau, e não o podendo fazer, têm de ficar em algum lado. Como não têm um apartamento, podem reservar um hotel, mas claro, [agora] não podem utilizar as instalações, porque não está nada aberto”, notou.

No que diz respeito aos próximos passos, Synthia Chan sugeriu que Macau observe as regiões vizinhas e “entenda como se adaptar” a esta nova realidade.

“Em Singapura ou na Tailândia, eles abriram [as fronteiras], mas com requisitos de entrada: precisa-se de pelo menos duas vacinas à covid-19 e testes feitos 24 ou 48 horas antes. Lembro-me de ir a uma exposição na China e antes de entrar no evento tive de fazer um teste no local”, contou.

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