h | Artes, Letras e IdeiasO Sol desce Amélia Vieira - 22 Jun 202222 Jun 2022 DR Desce e sobe o glorioso Sol Nado que agora aqui se levanta até ao grande meio-dia, o zénite da sua hora solar que sobe nesta altivez de Solstício com suas festas-fogueiras, que a Estrela arde, e seu reflexo é por ela acender chamas. São assim os Santos da temporada, para quem a flama é o brilho que falta para que tudo fique da altura dos efeitos consagrados. Grande foi a enxurrada de labaredas que veio como uma goela do inferno por esta altura num pequeno país cujo elemento é todo mar, como se de uma revolução solar se tratasse para nos lembrar que não controlamos o Fogo. Ninguém salta fogueiras destas que ressuscitam em nós o efeito da tragédia que é uma dimensão bastante mal interpretada nestas paragens. Advento, poderemos assim chamar a tais realidades, talvez manifestação assombrosa daquilo que se foi fazendo ao tempo das Inquisições, ecos de imagens que muita liturgia impôs aos olhos incautos dos que não sabiam que se poderia criar realidade através da criação, e não só; efeitos de má gestão que se esqueceu da terra e a foi usando sem sentido, um território que se afundou no drama de ninguém saber como adequar cultivos, restaurar funções e abrir caminhos. Debruçado sobre si mesmo nas honras marítimas, veloz a mudar o rumo da embarcação para os interesses continentais, tudo esqueceu, tendo que ser desperto pela absoluta forma de um desastre. Este é também o locar levado pela « Barca dos Loucos» que por via europeia entrou na deriva de maus e implacáveis ventos, que eles acendem Fogueiras, e destroem os verdes pinhos que sustinham as areias, que o mar também pode triunfar pela terra adentro como uma língua de fogo contra a costa se tudo for de facto a medida que falta a uma reposição que perto anda desta fronteira, mesmo que a Lua fique sorumbática a ser observada de viés pelos telescópios de alta precisão nos seus eclipses audazes e suas cores de cereja, quem não a encontrar por dentro, e ao Sol, e às coisas no osso, e aos vestígios disto tudo numa superfície maior, nada entenderá, e rápido esquece o que aconteceu. Que nós já nem podemos avançar agora com a nossa presença na vida uns dos outros. – Não se pode estar com ninguém! Abalroámos os dons de saber estar por causa das superabundâncias de fluxo personalista. Creio mesmo que tendemos para o canibalismo de massas, que os taumaturgos ficaram esquecidos nas ordens das vestes naturais. Um Estado que se agarra ao mantra das tribos (núcleos e clãs) não está vocacionado para compreender o bem individual e os seus direitos quando essas arcaicas associações faltam. Mas é esta componente que não foi implantada enquanto capacidade maior que impede que um território seja considerada uma Nação. Laxismo severo, que o desdém toca enquanto processo moral para o nivelamento. Gravitar depois disto nestas cinzas pode retirar as competências de que a vida sempre se reveste para se reinventar, que a intriga é sujeito passivo onde até a plebe aparentemente ilustrada acaba por fixar as bases da sua própria ruína. Não há muita noção, a ver pela desproporcionalidade do lixo fabricado, de como separá-lo mesmo agora, e esse entulho do pequeno rectângulo galvanizado pelo muito que o desperdício traz, encherá de novo as piras por onde todos os Infernos gostam de passar. Gestos simples que o quotidiano agradece para não sucumbirmos às Fúrias. Que os nossos olhos dançaram nas páginas mais bonitas… e nos momentos aflitos elas nos saltam pelas fontes sagradas que fazem da dor presença bem-dita, e nesses instantes entendemos do essencial como se sentíssemos através das lágrimas o dom de continuar vivo, apenas e só, graças a elas. Não hás-de sofrer mais sede muito tempo, Meu coração queimado! Anda no ar uma promessa, …. – A grande frescura vem… Mantém-te forte, meu valente coração! Não perguntes: por quê? F. NIETZSCHE – in- O Sol desce…