Exposição | Alexandre Marreiros e Emília Tang trabalham conceito de abrigo 

É inaugurada amanhã a exposição “Shelter” na galeria Blanc Art, uma instalação onde o arquitecto Alexandre Marreiros e a curadora Emília Tang trabalham em torno da ideia de abrigo, algo que é mutável conforme o tempo que passa por nós. Este projecto, que começou a ser desenhado no dia a seguir ao rebentar do conflito na Ucrânia, pode ser visto até ao dia 20 de Junho

 

“Shelter”, como uma palavra que nos remete para a tradução literal de abrigo. Mas que abrigo é este? Será imutável para sempre, ou os nossos abrigos físicos e emocionais vão mudando ao longo dos tempos, de forma lenta ou abrupta? Será a sensação de segurança falsa ou verdadeira?

Na noite anterior ao rebentar do conflito na Ucrânia, o arquitecto Alexandre Marreiros jantava com a sua amiga e curadora de arte contemporânea Emília Tang sobre a ideia de abrigo, mas sobretudo pelo facto de esta ser “efémera, que se transforma com o tempo e não tem nada a ver com o que nos é ensinado”. “É um estado de espírito e um pensamento”, frisou.

No dia a seguir, as tropas de Putin invadiam território ucraniano e Alexandre Marreiros não pensou duas vezes: “‘Temos de trabalhar nisto. Ontem discutíamos isto e hoje rebenta uma guerra’”, recordou ao HM.

Para tal os dois decidiram construir uma instalação, e obras de arte que nascem dela, que pode ser vista a partir de amanhã na galeria Blanc Art, na Pátio do Padre Narciso. “A primeira coisa que quis trabalhar com a Emília foi o plano do tecto, algo que nos cobre. Um pátio nunca poderá ser um abrigo, por exemplo. E foi a partir daí que decidimos trabalhar com um plano horizontal a partir do chão.”

Os balões desempenham também um papel, por serem “associados a uma ideia festiva, de celebração”. “Queria fazer uma instalação em que o factor de tempo está agarrado à definição que propomos de shelter. Sabemos que o balão vai mirrando, vai cair e isso representa a noção de tempo. Por isso, todos os dias a instalação vai mudar. Fizemos um registo de quanto tempo os balões aguentam no ar, trabalhamos também o plano vertical, as paredes. Mas todos os trabalhos que vão ser expostos na parede são uma consequência directa da instalação, porque partem todos dela”, adiantou Alexandre Marreiros.

Dois pisos

Desde o início que Alexandre Marreiros e Emília Tang desejavam ter uma instalação e exposição que ocupasse dois pisos. Desta forma há um percurso artístico que pode ser acompanhado pelo visitante. “Estamos debaixo da instalação que cobre todo o piso térreo da galeria e depois temos umas escadas em que, de repente, temos a possibilidade de chegar ao nível dos balões e estar em cima deles. Cria-se aí a ideia de estarmos por cima de algo que nos cobriu lá em baixo.”

Os últimos três meses foram de trabalho intenso em prol de um projecto que é independente, embora conte com alguns apoios. Esta independência trouxe aos autores da instalação “uma maior abertura”.

“Shelter” não é sobre a pandemia nem sequer sobre o quase total encerramento de fronteiras em Macau, mas acaba por remeter para esta sensação de abrigo e de bolha que se criou na sociedade face ao mundo exterior.

“Há um contexto face ao que se vive em Macau, mas na verdade propomos uma desconstrução deste conceito, porque a noção que vem no dicionário é de estarmos abrigados, sempre no domínio de uma construção feita pelo homem, uma casa, por exemplo. Aprendemos isto desde crianças, mas há o factor tempo, pois qualquer coisa que construímos como segurança [pode acabar]. Isto pode estar relacionado com uma pessoa, por exemplo, porque hoje estamos casados e amanhã podemos não estar. Ou podemos perder um ente querido”, exemplificou.

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