Pintura | Antiga Leprosaria acolhe exposição de Bernardino de Senna Fernandes

Uma das casas da antiga Leprosaria de Ká-Hó recebe a partir de amanhã uma exposição de pintura da autoria de Bernardino de Senna Fernandes. Ao todo, a mostra inclui 26 obras sobre Macau e Lisboa, onde os traços não procuram alinhar-se com a realidade. Para o filho do autor, esta foi a forma de cumprir a vontade de Bernardino de Senna Fernandes de voltar a expor em Macau

 

A galeria de arte operada pela Associação de Reabilitação de Toxicodependentes de Macau (ARTM) numa das casas da antiga leprosaria da Vila de Nossa Senhora de Ká-Hó acolhe a partir de amanhã, uma exposição de pinturas da autoria de Bernardino de Senna Fernandes. A mostra reúne 26 pinturas a óleo e aguarela, que colocam Macau e Lisboa, no centro da tela.

Ao HM, Jorge de Senna Fernandes, filho do pintor conta que a ideia surgiu com o intuito de cumprir o desejo do pai de voltar a expor obras suas em Macau. Isto depois de ter realizado uma primeira exposição no território, ainda nos anos 90 do século passado.

“O meu pai organizou uma exposição em Macau em 1992 e, desde aí, que ficou a vontade de realizar uma segunda exposição aqui, só que não teve oportunidade de o fazer em vida. Depois de ter deixado um certo legado artístico, aproveitei a oportunidade que a ARTM me deu para cumprir esse desejo do meu pai”, apontou.

Para Bernardino de Senna Fernandes, explica o filho, pintar era um hobby que foi aprimorando ao longo do tempo ao seu ritmo e gosto, mas que, nem por isso, deixou de atrair a atenção de interessados e apreciadores da sua obra.

“Para o meu pai, pintar era um hobbie, já que ele não fazia disto vida. Era apenas para se distrair. Havia muita gente que gostava do que ele fazia e, quando iam lá a casa, comprava-lhe uma série de quadros e ele sempre foi fazendo as obras a seu gosto. O meu pai não era um pintor consagrado, mas ao longo da sua vida foi designer, trabalhou em vários sítios e participava em várias exposições e feiras internacionais como a FIL”, partilhou.

Macau no coração

Quanto às 26 obras expostas, estas retratam ângulos, locais e paisagens de Macau e Lisboa, duas cidades em que viveu o pintor. Depois de ter crescido em Macau até aos 18 anos, Bernardino de Senna Fernandes rumou a Portugal para continuar os estudos. De malas e bagagens, mudou-se para Coimbra, casou-se e assentou arraiais, regressando a Macau apenas 30 anos depois. Contudo, de todas as vezes que visitou o território, fez questão de recolher material, fazer esboços e fotografar algumas zonas da cidade para depois pintar Macau a partir de Lisboa.

“Estamos a falar de pinturas de locais específicos das duas cidades. Em Macau podemos ver várias zonas conhecidas e em Lisboa, bairros típicos, por exemplo. A zona de Alvalade, onde viveu, também aparece retratada. [Depois de partir do território], o meu pai veio a Macau três vezes, levou uma série de registos daqui. Às vezes levava o bloco para a rua e fazia os seus esquissos. Outras vezes utilizava fotografias, que é algo que se faz muito hoje em dia, pois já não há muitas pessoas a pintar na rua”, disse ao HM.

Sobre o estilo de Bernardino de Senna Fernandes, Jorge de Senna Fernandes destaca o “traço muito típico” do pintor que, apesar de não primar pelo realismo, permite a quem vê a obra identificar o local retratado.

“É uma série de obras que não são muito realistas, com um traço muito típico do meu pai, que permite identificar as zonas representadas. As obras não são tão realistas como uma fotografia, mas acho que as pessoas vão gostar, porque o que ele fez em vida, a meu ver, tinha qualidade e toda gente sempre gostou do que ele fazia”, sublinhou.

A partir de amanhã, a exposição de pintura de Bernardino de Senna Fernandes pode ser vista na galeria da ARTM em Ká-Hó (Hold On to Hope Project) até dia 11 de Janeiro.

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