Plenário do PCC e covid-19 explicam ausência de Xi na COP26

A ausência do Presidente Xi Jinping da conferência do clima COP26, que termina na sexta-feira ao fim de duas semanas, não é surpreendente face à actual situação interna da China, apontam analistas, destacando os desafios das metas ambientais estipuladas por Pequim.

“Visto pelo prisma da política interna chinesa, nunca houve muitas chances de que Xi comparecesse pessoalmente na COP26”, diz Melinda Liu, jornalista radicada em Pequim há mais de três décadas.

Em causa, estão as restritas medidas de prevenção contra a covid-19, que praticamente eliminaram as viagens de e para o país asiático, que continua a insistir numa política de “zero casos”, ao contrário do resto do mundo, que está a aprender a coexistir com o vírus.

Quem chega à China oriundo do exterior tem que cumprir uma quarentena de até 21 dias.

Como resultado, Xi Jinping não sai da China desde o início da pandemia.

O encontro em Glasgow coincide ainda com uma reunião-chave do Partido Comunista Chinês (PCC), que arrancou na segunda-feira.

O plenário do Comité Central do PCC, que decorre até 12 de Novembro, reúne os 300 membros mais poderosos do Partido e vai servir para lançar as bases para um terceiro mandato de Xi Jinping, que será oficializado no próximo Congresso do PCC, no Outono de 2022.

Metas ambiciosas

A China é o maior emissor de gases poluentes do planeta e cerca de dois terços da sua produção energética assenta na queima do carvão. O país tem, no entanto, assumido ambições ímpares para a transição energética.

O Presidente chinês, Xi Jinping, reafirmou, em Setembro passado, na Assembleia das Nações Unidas, os compromissos chineses para o clima: neutralidade carbónica “antes de 2060” e atingir o pico das emissões “antes de 2030”.

O país tem já um dos programas de energia nuclear mais ambiciosos do mundo e um acelerado desenvolvimento da capacidade instalada em energia renovável.

Zhang Xiaohui, reitor de economia da Escola de Finanças PBC da Universidade de Tsinghua, estima que, para atingir a neutralidade carbónica até 2060, a China vai ter que investir mais de 46 biliões de dólares.

Mas o principal problema não é a falta de capacidade instalada de energia renovável, mas antes a ausência de capacidade de armazenamento da electricidade produzida e de uma ordem de mérito que penalize o uso de fontes poluentes, explica Renato Roldão, especialista em alterações climáticas a viver em Pequim desde 2008.

Uma liberalização dos preços da electricidade para as indústrias, pondo fim aos limites impostos pelos reguladores, acrescentaria custos consoante as emissões de carbono da fonte utilizada na geração de energia.

“Nessas situações, a forma de despacho na electricidade é diferente, ou seja, o que chamamos em Portugal a ordem de mérito”, descreve Roldão.

Neste cenário, os preços adicionais cobrados pela emissão de gases com efeito de estufa encarecem o carvão, relativamente ao gás natural, e este último em relação às renováveis.

A pior crise energética das últimas décadas, que afectou nos últimos meses a China, obrigou o país a reactivar minas de carvão, expondo a sua dependência face àquele combustível fóssil, numa altura em que os líderes mundiais se reuniam na conferência do clima.

Para atingir os objetivos de descarbonização, a China tem que encerrar e substituir, nos próximos 20 anos, 660 centrais termoeléctricas a carvão.

“É o equivalente ao total da produção energética em toda a União Europeia”, aponta Wuttke.

Segundo o empresário, as metas estipuladas por Xi Jinping em Setembro surpreenderam não só os países ocidentais, como os próprios ministérios na China.

“Mas ele está a falar a sério e um Presidente com tanto poder, se delineou estas metas, é para cumprir”, resume.

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