10 de Junho | Um cartaz mais cinzento do que o habitual por causa da pandemia

Autor do cartaz oficial das comemorações do 10 de Junho desde 1990, o designer macaense Vítor Marreiros desvenda os segredos do trabalho que desenvolveu este ano. É um cartaz mais “cinzentão” devido aos tempos de incerteza por causa da pandemia, mas com a presença de figuras históricas ligadas ao passado de Macau

 

Celebra-se hoje o 10 de Junho – Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas e o HM convidou o designer macaense Vítor Marreiros a falar sobre o cartaz que concebeu para as cerimónias oficiais que marcam a data, ainda que o autor não goste de falar do seu trabalho.

Desde 1990 que Vítor Marreiros é o autor do cartaz, que este ano bebe da influência dos tempos conturbados que se vivem devido à pandemia.

“O trabalho deste ano é cinzentão, sugerindo a altura que estamos a viver actualmente no mundo, ou seja, a pandemia. Volta, à semelhança do ano passado, a ser no Jardim Camões, onde estão os ilustres portugueses que estiveram ou passaram em Macau. Três ilustres poetas, o Camões, Camilo Pessanha e o Bocage que passou de raspão em Macau.”

No cartaz, onde imperam as cores preta e vermelha, estão também as figuras de Fernão Mendes Pinto e de Venceslau de Morais, este último que viveu em Macau e passou os últimos tempos de vida no Japão.

As figuras estão sentadas num banco no jardim Camões, materializando o simbolismo da espera, “como os velhinhos que estão sentados num banco de jardim”. “Também simboliza o acto de pensar na vida e na situação actual que vivemos, o facto de estarmos à espera”, frisou.

O cartaz do ano passado também tinha a pandemia como tema, mas este ano “as figuras estão todas à espera”. “Por ser tão tristonho, escolhi uma frase de Camões: ‘A minha Caravela? Ela balança mas não para’. Isto para dizer que ainda estamos à espera, mas acreditamos que melhores dias virão.”

Vítor Marreiros denota que “entre o cartaz do ano passado e o deste ano há um contraste de estilos, acabando por tocar no mesmo tema, mas de forma diferente”. “No ano passado o cartaz era sobre a comunidade portuguesa a ‘bater’ no vírus, porque esse foi o grande acontecimento no mundo. Foi desde o D. Afonso Henriques, ao português espanhol e ao toureiro, todos a bater no vírus. Acabei por brincar com uma coisa séria, mesmo que se tratem de portugalidades.”

Liberdade total

Vítor Marreiros afirmou que este é um trabalho de proximidade comunitária que lhe dá muito gosto fazer, que não está sujeito a regras impostas pelo cliente. “Todos os anos faço livremente o cartaz. Não há coisa que dê maior prazer a um designer que fazer um trabalho ou arte com total liberdade, respeitando um tema.”

Em alguns cartazes de Vítor Marreiros a figura do escritor Luís de Camões surge junto a pombos. Trata-se de uma “característica muito local, porque é um cartaz feito por um português em Macau”. “Faço questão de mostrar que é em Macau, apesar de falar dos portugueses pelo mundo. As ruas de Macau têm um nome em português e outro nome em chinês. Elas têm tradução mas ninguém usa essa tradução. Os residentes não usam.”

Isto remete para o nome em chinês de jardim Camões, que é Pacapchao, “jardim dos pombos”. “Os cartazes só têm três caracteres em chinês, que significam isso. Tem piada, porque considero que é um cartaz do 10 de Junho, que fala de Portugal e dos portugueses, da comunidade, mas que, ao mesmo tempo, é local, é de Macau. A minha forma de referenciar que é feito em Macau, é colocar os pombos.”

Na visão de Vítor Marreiros, o programa das celebrações “está cada vez melhor e maior”, mesmo que este ano não tenha sido possível trazer artistas estrangeiros. “Devia ainda ser possível arranjar mais datas. A comemoração do 10 de Junho é muito importante para a comunidade portuguesa. Não precisamos de um cartaz nem dos eventos para nos lembrarmos do dia, mas é sempre um bom pretexto para nos sentirmos mais unidos”, rematou.

 

Música | Homenagem a Carlos do Carmo hoje às 20h

Integrado nas comemorações do Dia de Portugal, a Casa Garden acolhe hoje, a partir das 20h, o concerto de homenagem a Carlos do Carmo intitulado “Um Homem na Cidade”. Segundo uma nota oficial, o concerto ficará a cargo da banda da Casa de Portugal, composta por Tomás Ramos de Deus, Miguel Andrade, Ivan Pineda, Luís Bento e Paulo Pereira. O objectivo do tributo será recriar as emblemáticas canções interpretadas por Carlos do Carmo, num concerto de música ligeira com arranjos originais.

CPM | Exposição de Santo António inaugurada em dia de arraial

A partir de sábado, a Casa Garden irá acolher uma exposição alusiva ao Santo António que inclui peças de alunos e professores dos vários ateliers da Escola de Artes e Ofícios da Casa de Portugal em Macau (CPM). A inauguração da exposição às 18h coincide com a organização, no mesmo espaço, do arraial de Santo António, onde, para além de bifanas, sardinhas e bailarico alusivo aos Santos Populares, não faltará, a partir das 19h, um concerto de música portuguesa pela Banda da Casa de Portugal. A partir das 20h30, a animação ficará a cargo de DJ’s e dos habituais sucessos incontornáveis da música popular portuguesa. Segundo a CPM, a entrada é gratuita e “alguma comida também”. A exposição alusiva ao Santo António está inserida nas comemorações de Junho mês de Portugal e estará patente na Casa Garden até 11 de Julho.

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