Interface 21

15 de Fevereiro de 2021

«… a face do amor é ausência de rosto»
«A Idade da Escrita», Ana Hatherley

 

Aproximamo-nos de um tempo em que a nossa componente fechada e dialogante a partir das vibrações fonéticas irá ser remexida, posta à prova, alterada, e quiçá, modificada. Estamos numa «Interface» mais complexa que as primeiras, apenas para fazer negócios ou criar plasma a partir de correntes sanguíneas demasiado alvoraçadas para o contemplar de outras realidades a haver. Vamos caminhar de forma rápida para um tecido apaixonante e desconhecido que fará acontecer a alma num projecto de luz, e transpor a barreira dos egos hiper-esclarecidos, vamos em sintonia experimentar um ritmo amoroso, telepatia, canalizar os dons, aproximando-nos da zona que os sonhos esperavam.

Lembramos a « Máquina do Mundo» camoniana e quase nos comove esta lonjura, este programa do saber ditado ainda no vazio dos tempos que foram permanecendo vazios até hoje, fora da imensa e maquinante composição da luz das trovas que o compõem, e esta metáfora de forte estranheza dada abeirou-se por fim do jovem e inssurecto século XXI no dia de amanhã que está chegando através do seu verso « estamos a passar o mundo da luz tão clara radiante….» e o poema se alinha com sua estrutura mais feliz que não é o debitar estados de espírito (alegando como também Pessoa bem viu “que sentimentos todos nós temos”) mas encontrar a alma do amor refulgindo nas formas imateriais de um domínio que a ciência toda poema e propósito, alongou para desocultar a palavra dos poetas, fora sempre dos procurados eu(s) que tem de ser extra ego para assim chegar também aos sonhos dos sonhadores mal dormidos que não sabem nem desconfiam ser estes, manifestos.

Chegados à exaustão por uma determinada maneira de nos exprimirmos será esta a encruzilhada que faz sentido anotar- Pixel – unidade de energia desmaterializada «vejo Deus e não sei quem é e penso que é um número que me empurra…» na zona do cérebro que ativada irá produzir a maior revolução em estafados conceitos de definição de humano; não intrusivo, menos instrumental, e esmagadoramente capaz de um rumo que não vamos ousar já designar. Efetivamente esta velha anatomia é demasiado enredada em estímulos sobreviventes e de passagem de gene para se consentir saborear a quinta essência da sua vasta competência, mas – telepaticamente a caminho, que a sincronicidade dos dados está lançada e sair do aterro da asfixia rumo a outros oxigénios que este mata nos fluxos da própria respiração- tanta virulência pode atordoar as mais elementares formas de expressão nas inúmeras “cabeças de vento”, que a morte, essa, é sempre cerebral, mas a vida longa celebrada, não será longa para martírio dos dias, mas inalterável até muito longe em interface com esferas que nos permitem a partir do futuro breve ir ainda mais longe até aos passados que pensamos perdidos.

Subitamente a compaixão, o contacto latente com a alma de outro vagueando no suporte, estamos leves e os sonhos transformam-se pelas superfícies reais que nos estão destinados para melhorar dons desconhecidos, latentes, e quase se atravessa aqui o poder litúrgico surgido da mão que bate à porta «estou à tua porta, e bato».

Cansado de errares. A estrela que te orientava e nunca viste perde o brilho
e o que em ti era sentido de orientação. Há uma noite absoluta para o teu seguir.
E a única verdade que te sobra é estares sentado. Cansado de errares.
Não te sentes. «Pensar».

– Enquanto te sentes, não te sentes, e passemos à Interface.
[Trazes de mim a notícia gritante do quanto o transbordo é urgente, fecho este postigo, silvado, agreste,
e outra vida surge na transparência de um novo nascimento. Quem não for encontrado, que não sofra, e espere o tornar da luz. Era vazio o início, e na longa caminhada vieram as sombras até serem de pedra e erguermos com elas as estátuas]

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