Automobilismo | Cancelamento do GP seria doloroso para a indústria local

Além de ser um grande evento internacional de elevada importância para o Turismo local, o Grande Prémio de Macau também tem uma enorme influência na pequena, mas vibrante, indústria ligada ao automobilismo da região da Grande Baía. Um eventual cancelamento do maior cartaz desportivo de carácter anual da RAEM seria infausto para os intervenientes, mas não fatal para a indústria

 

A província de Guangdong é um dos maiores polos da indústria ligada aos desportos motorizados na República Popular da China. É do outro lado das Portas do Cerco que estão localizados o circuito de Zhuhai, o primeiro circuito permanente construído no país, e o circuito de Guangdong (Zhaoqing), que servem de base para as dezenas de pequenas e médias empresas que fazem mover o desporto. Sendo o Grande Prémio de Macau o evento mais importante do sul da China, este é uma locomotiva de referência para o desenvolvimento e sustento de muitas empresas da região.

“O Grande Prémio é muito importante para as equipas que estão envolvidas e para todos nós que fazemos vida disto. 2020 foi um ano difícil, com muito poucas corridas, tanto na China Continental, como em todo o continente asiático. O facto de termos tido o Grande Prémio no ano passado foi uma ajuda”, esclareceu ao HM, Rodolfo Ávila, que combina as suas actividades de piloto profissional, com o cargo de director desportivo da Asia Racing Team, uma das mais fortes equipas com base operacional em Zhuhai e com múltiplas passagens pelo Grande Prémio de Macau nas corridas de GT, Fórmulas e Turismos.

O piloto Rui Valente, um conhecedor da realidade das equipas sediadas no circuito dos arredores de Zhaoqing, partilha da mesma opinião. “Sem o Grande Prémio de Macau, esta malta deixava de facturar como seria naturalmente, pois não vinha cá ninguém. Seriam carros parados, sem pilotos para andar neles, transportadoras sem nada para transportar, mecânicos e equipas sem trabalho fora do continente, fornecedores de pneus, combustível, tudo em contentores. Seria com certeza um ano sem muitos renminbis para muitos”, explicou ao HM.

Para além de ser uma montra internacional altamente respeitada, a prova que se realiza tradicionalmente no terceiro fim de semana de Novembro no Circuito da Guia reveste-se de real importância, não só para equipas e pilotos, como para uma vasta panóplia de provedores e prestadores de serviços que flutuam na órbita das corridas de automobilismo.

“O Grande Prémio é um fim de semana só, mas gera entusiasmo e serve como alavanca para a realização de outros eventos. Antes do evento, há corridas de apuramento e preparação, treinos privados e uma série de preparativos que proporcionam o sustento a uma série de empresas e pessoas que não têm outro meio de sobrevivência sem ser as corridas”, refere Rodolfo Ávila.

Preparadas para o impacto

Por estarem no topo da pirâmide, as equipas locais seriam as primeiras a sentir o forte impacto de um possível cancelamento do evento. Contudo, com o crescente nas duas últimas décadas do profissionalismo no desporto neste ponto do globo, estas foram diversificando as suas actividades para outras competições e outras áreas de negócio para não ficarem tão dependentes de um só evento.

“Se o Grande Prémio de Macau fosse cancelado, teria certamente um impacto financeiro nas equipas participantes”, reforçou ao HM, Paul Hui, o chefe de equipa da Teamworks, a equipa que venceu a Taça de Macau de Carros de Turismo por uma série de vezes e a Corrida da Guia em 2020. “Contudo, a maioria das equipas serão capazes de navegar num cancelamento de curto termo. As maiores equipas diversificaram os seus fluxos de receitas estabelecidos no seu modelo de negócios. As equipas locais serão capazes de utilizar a sua flexibilidade para compensar a falta de diversidade. Em suma, um cancelamento de curto termo irá afectar as equipas, mas não irá danificá-las de forma permanente”.

Rui Valente refere também que a anulação do evento da RAEM “não seria terminal para a grande maioria das equipas”, isto porque, nos tempos que correm, “muitas ainda têm as corridas da China e agora tu tens muitos campeonatos”.

Importância da Grande Baía

O Grande Prémio de Macau representa o cartaz desportivo internacional mais antigo na região da Grande Baía, que para além do território e da RAE de Hong Kong, inclui nove outras cidades da província de Guangdong – Jiangmen, Guangzhou, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan e Zhaoqing. Desde 2018 que há no programa do Grande Prémio uma corrida destinada aos pilotos da Grande Baía, mas a integração do evento na estratégia da região deverá acentuar-se nos próximos anos.

“O Grande Prémio de Macau deve ir para além de ‘Macau’, mas posicionar-se para servir como evento especializado situado na região da Grande Baía, ajudando a apoiar as indústrias relacionadas com o apoio e desenvolvimento automóvel e performance”, afirma Paul Hui. “Mas claro, eu não sei se a indústria automóvel faz parte das indústrias-alvo para a estratégia da região da Grande Baía.”

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