Covid-19 | A resposta de Pequim ao ressurgimento de casos

[dropcap]V[/dropcap]oos cancelados, escolas encerradas e um regresso ao confinamento são algumas das medidas que Pequim está a avançar para travar a disseminação de um novo surto de covid-19 que tem vindo a evoluir nos últimos dias na capital chinesa.

Esta quarta-feira, a China diagnosticou 44 novos casos da doença covid-19, incluindo 31 em Pequim, após um surto detectado no principal mercado abastecedor da capital do país.
A cidade com 21 milhões de habitantes aumentou o nível de emergência na terça-feira, visando conter a disseminação deste novo surto, que soma 137 casos nos últimos seis dias, após dois meses sem registos de novos contágios.

Origem desconhecida

No início do ano, no auge da epidemia do novo coronavírus na China, Pequim foi classificada como uma espécie de “Grande Muralha Sanitária”, uma vez que todos aqueles que chegassem de fora eram colocados imediatamente e obrigatoriamente em quarentena.

Como resultado, e segundo os dados oficiais disponíveis, foram apenas registados 597 casos de infecção e nove vítimas mortais na capital chinesa.

Em Maio, várias medidas de restrição seriam suspensas, num sinal de normalização gradual no país.
Apenas as ligações aéreas internacionais se mantiveram como excepção. As companhias aéreas continuam a não poder aterrar diretamente em Pequim para evitar os chamados casos de contaminação “importados” do estrangeiro.

O aparecimento de um novo caso na semana passada na metrópole chinesa veio reavivar os receios de uma nova vaga de contaminação.

Dezenas de pessoas que trabalham ou frequentam o mercado abastecedor de Xinfadi (na zona sul de Pequim) acabaram por testar positivo para o novo coronavírus.

O local, o principal mercado abastecedor de produtos frescos da capital chinesa, terá sido frequentado por mais de 200 mil pessoas desde 30 de Maio, de acordo com as autoridades locais.

A origem deste novo foco de contágio mantém-se, até ao momento, desconhecida.
Os ‘media’ chineses avançaram que o novo coronavírus tinha sido detectado, nomeadamente, nas tábuas utilizadas para cortar o salmão importado neste mercado.

No entanto, segundo realçou o epidemiologista e chefe do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças, Wu Zunyou, “isso não é suficiente para certificar que (o vírus) provém de produtos do mar importados”.
“Poderá (também) ter vindo de uma pessoa infectada”, admitiu o especialista, em declarações citadas pelas agências internacionais.

Plano de actuação de Pequim

A capital chinesa está a regressar às medidas de confinamento e ao encerramento de várias estruturas, como escolas, que já tinha reaberto maioritariamente e ontem voltaram a ser encerradas. Os pavilhões desportivos também voltaram a ser fechados.

Bares, restaurantes e lojas terão novamente de fechar portas ou impor restrições aos clientes, como a medição da temperatura corporal ou limitar o número de pessoas nos respectivos espaços.

Também está em curso uma operação de desinfecção nos restaurantes da capital e 11 mercados de Pequim estão totalmente ou parcialmente fechados.

As autoridades locais lançaram uma vasta campanha de rastreio, e, desde sábado, foram testadas cerca de 356 mil pessoas, de acordo com informações oficiais.

Na terça-feira, as autoridades de Pequim exortaram os habitantes a evitarem as viagens “não essenciais” para fora da cidade, proibindo os residentes das áreas afectadas pelo novo surto a saírem da capital.
Neste momento, 27 bairros de Pequim estão em quarentena.

Muitas cidades e províncias já estão a impor, neste momento, o cumprimento de uma quarentena aos viajantes procedentes de Pequim. Ontem, os dois aeroportos da capital cancelaram mais de mil voos e a capacidade de lotação dos transportes públicos foi reduzida para 75%.

“Um passo à frente”

Um porta-voz das autoridades locais, Xu Hejian, afirmou ontem que Pequim está empenhada nesta “corrida contra o tempo” face ao novo coronavírus. A capital chinesa deve “estar sempre um passo à frente da epidemia e tomar medidas mais restritivas, decisivas e determinadas”, reforçou o representante.

Na segunda-feira, um alto funcionário chinês chegou a admitir que o encerramento das escolas pode durar até ao Outono e, perante tal eventualidade, foi pedido às escolas que fornecessem mais conteúdos educativos através da Internet.

Apesar do ressurgimento de casos da doença covid-19, as agências internacionais descreveram ontem que Pequim se mantém uma cidade movimentada, apesar de um expressivo decréscimo no tráfego diário, e sem uma aparente sensação de pânico.

As autoridades “aumentaram o nível de risco de epidemia em algumas ruas ou bairros, mas não em toda a cidade”, afirmou Lu Jiehua, professor de sociologia na Universidade de Pequim, citado pela agência France Presse (AFP).

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