UNICEF | Organização alerta para aumento de ataques contra crianças

Os diversos conflitos bélicos que se fazem sentir no mundo não são perigosos apenas para os adultos. A UNICEF alertou ontem para o facto de os ataques contra crianças terem triplicado face a 2010. Esta foi, sem dúvida, uma “década mortífera”. Uma sequência de raids aéreos na véspera de Natal no nordeste da Síria foi um dos tristes exemplos recentes que mereceram a crítica da UNICEF

 

[dropcap]A[/dropcap] década que agora termina foi “mortífera” para as crianças que vivem nas várias zonas de conflito no mundo, denunciou ontem a UNICEF, revelando que, desde 2010, foram registadas mais de 170.000 violações graves contra menores.

Em plena contagem decrescente para o fim de 2019, o Fundo das Nações Unidas para a Infância alerta que as crianças continuam a pagar um “preço mortal” à medida que os conflitos armados avançam em todo o mundo e que o ano que está prestes a acabar conclui uma “década mortífera” que testemunhou “uma média de 45 violações graves por dia contra crianças”.

Segundo os dados da UNICEF, os ataques contra crianças aumentaram quase três vezes desde 2010.
A agência da ONU identifica como violações graves seis situações específicas: assassínio e mutilação de crianças; recrutamento e utilização de crianças por forças e grupos armados; violência sexual contra crianças; ataques contra escolas ou hospitais; rapto de crianças; e negação do acesso humanitário às crianças.

Num comunicado divulgado a partir de Nova Iorque, a organização frisa que, desde a adopção da Convenção sobre os Direitos da Criança (em 1989), nunca houve tantos países em conflito, com dezenas de focos armados violentos que matam, mutilam e forçam as crianças a abandonarem as respectivas casas.

“Em todo o mundo, os conflitos estão a durar mais tempo, causando mais derramamento de sangue e ceifando mais vidas de crianças”, afirma a diretora executiva da UNICEF, Henrietta Forre.

“Os ataques contra crianças continuam sem abrandar, enquanto as partes em conflito desrespeitam uma das mais básicas regras em cenário de guerra: a protecção das crianças. Por cada ato de violência contra crianças que chegam aos jornais e geram ondas de indignação, há muitos mais que não são reportados”, frisa a representante.

Triste exemplo

Pelo menos oito civis, entre os quais cinco crianças, foram mortas na véspera do dia de Natal na sequência de raides aéreos russos numa aldeia no noroeste da Síria, abrigo de deslocados, indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

A UNICEF foi uma das primeiras organizações a reagir à ofensiva que vitimou crianças, manifestando-se alarmada com o “peso da intensificação” da violência.

De acordo com a organização não-governamental, os ataques visaram a aldeia de Joubass, no sul da província de Idleb, matanto civis deslocados, que se tinham abrigado numa escola e junto a esse edifício.

As forças do regime síria, com o apoio da aviação russa, têm intensificado os bombardeamentos na região, ao mesmo tempo que decorrem violentos combates no terreno contra grupos jihadistas e rebeldes. Cerca de 80 civis foram já mortos em consequência desta nova escalada dos combates.

A Turquia indicou que se encontra em conversações com a Rússia para obter um novo cessar-fogo em Idleb, sublinhando que estes combates violam uma trégua em vigor desde agosto. “Estes bombardeamentos devem cessar imediatamente”, sublinhou o porta-voz da Presidência turca, Ibrahim Kalim, numa conferência de imprensa acompanhada pela agência France Press.

As forças do regime sírio retomaram o controlo de quatro dezenas de vilas e aldeias numa área de 320 quilómetros quadrados, de acordo com um comunicado divulgado pelo exército sírio, que garante a determinação de continuar a avançar até que a totalidade da província de Idleb esteja “limpa de terroristas e dos seus apoiantes”.

Situação não é nova

O exemplo dado acima não tem sido caso raro no passado recente. Já em 2018, a UNICEF tinha denunciado a situação de fragilidade em que viviam milhões de menores afectados por conflitos em todo o mundo, tendo criticado na altura os líderes mundiais por não serem capazes de evitar os actos de violência cometidos contra essas crianças e de falharem na responsabilização dos autores de tais agressões.

De acordo com a UNICEF, em 2018, foram registadas mais de 24 mil violações graves contra crianças, o que já representava então “um número duas vezes e meio superior ao registado em 2010”.

Ainda em relação a 2018, os dados recolhidos apontam para mais de 12 mil crianças mortas ou mutiladas. “O uso continuado e generalizado de ataques aéreos e de armas explosivas (como minas terrestres, morteiros, dispositivos explosivos improvisados, ataques com mísseis, armas de fragmentação e artilharia) é a principal causa de vítimas infantis em conflitos armados”, indica a organização.

Segundo afirmou a UNICEF, este cenário não se alterou em 2019, denunciando que, só durante os primeiros seis meses do ano, foram contabilizadas mais de 10 mil violações contra crianças.

A agência da ONU admite, no entanto, que os números reais devem ser “provavelmente muito maiores”.
Da Síria ao Iémen, passando também pelo Iraque, Afeganistão, Burkina Faso ou pelo leste da Ucrânia, a UNICEF relata várias situações que ao longo dos 12 meses de 2019 afectaram violentamente as crianças e que fizeram vítimas entre os mais jovens.

Criada em 1946, a UNICEF está presente em 190 países e territórios, prestando no terreno serviços de saúde, nutrição, educação e proteção às crianças mais vulneráveis.

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