Entrevista Grande Prémio de MacauChong Coc Veng | Presidente da Associação Geral de Automóvel de Macau-China (AAMC) admite que território pode receber campeonato TCR Ásia João Santos Filipe - 14 Nov 201915 Nov 2019 A AAMC vai estudar a possibilidade de os pilotos locais competirem com viaturas que adoptam o regulamento TCR Ásia. Se houver interesse, uma prova deste género até pode ser integrada no Grande Prémio de Macau, nos próximos anos. Chong considera ainda que cabe aos pilotos locais viabilizarem carreiras internacionais e que o Governo já fornece grandes apoios [dropcap]E[/dropcap]stá ligado ao Grande Prémio de Macau desde 2000. Mas quais são as primeiras memórias das corridas? Acho que as memórias mais antigas e presentes que tenho são de 1979 quando comecei a participar nas corridas, o que fiz até 1989. Na altura era uma espécie iniciado que nem conhecia muito bem os regulamentos. Como foram resultados? Não foram nada de especial, mas uma vez fiquei em primeiro. Só que depois como alguém apresentou queixa sobre o carro, houve uma inspecção técnica e perdi alguns lugares ou acabei desclassificado… Deve ter sido isso, acho que fui desclassificado. No ano seguinte participei em mais corridas, antes de Macau, e consegui terminar no pódio. Onde correu, além de Macau? Até deixar de correr em 1989 competi em diferentes lugares na Ásia, como no Japão, onde participei na Taça Mitsubishi Mirage. Também havia uma competição com este carro em Macau, mas nunca participei nessa prova, só no Japão. Ao longo da sua carreira que carros gostou mais de conduzir? Gostei muito de correr com o Toyota Celica e com o Mitsubishi Lance. Foram realmente carros com que gostei mesmo de competir. Também corri com um Ford Capri que me deixou boas memórias. FOTO: Rómulo Santos Deixou as corridas em 1989 e em 2000 assume um lugar na organização do evento. Qual é a tarefa mais complicada, ser piloto ou organizador? Como piloto só é preciso focarmo-nos nas corridas, mas como gestor é necessário olhar para um panorama muito mais amplo. Temos de conhecer as opiniões dos pilotos, mas também perceber o ambiente das corridas, saber o que a organização pretende, quais os objectivos com as provas e ainda cumprir as directrizes da FIA. São experiências muito diferentes. Assumo que a tarefa de organização seja mais difícil… Eu não vou dizer isso porque eu gosto destes desafios. Gosto de ter um desafio para ultrapassar. Desde que está envolvido, qual é a edição do Grande Prémio que foi mais bem sucedida? Honestamente, não encaro o Grande Prémio em termos de edições positivas ou negativas. Não acho que tenha havido uma edição muito muito muito boa ou outra má. Vejo as corridas como um desafio e vejo esta equipa [da comissão organizadora], que tem muita dedicação e uma grande paixão pelo automobilismo, a trabalhar para responder a esse desafio e a dar o seu melhor para que as coisas corram bem. Este ano vamos ver os novos Fórmula 3 em acção. Quem teve a iniciativa de trazer este modelo para Macau? A mudança partiu da Federação Internacional do Automóvel [FIA], que sugeriu que o novo modelo estivesse em Macau já este ano. Mas a decisão só foi tomada depois de várias reuniões e discussões entre a Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau [COGPM] e a FIA. Este é um carro mais potente do que o anterior, o que coloca alguns desafios à organização… Foi preciso fazer melhoramentos na pista. O Circuito da Guia tinha uma homologação de classe três da FIA e para recebermos estes carros foi preciso aumentar o nível para o dois. Foi um processo feito através dos estudos da FIA, que tem uma comissão para trabalhar na segurança dos circuitos. Estudaram-se todas as curvas do circuito e adoptaram-se as recomendações, que focaram a adopção de novos equipamentos de segurança, ou seja, aumentou-se a segurança do circuito, que acabou homologado com o nível dois. A mudança acontece após o espectacular acidente da Sophia Floersch. Dificultou a escolha? Sabemos que é sempre difícil evitar os acidentes nas provas de automobilismo. Portanto, o que se faz é estudar profundamente qualquer acidente que resulte das provas para, se possível, evitá-los ou minimizar os efeitos. Foi nesse sentido que aplicamos os pareceres da FIA para aumentar a segurança e nos próximos anos vai ser este modelo de F3 em Macau. Até hoje André Couto foi o único vencedor de Macau na F3. Quando é que este feito pode ser repetido? Eu tenho sempre a esperança que os pilotos locais tenham bons resultados. Mas se tivermos em conta que Macau é um território pequeno, com poucos pilotos, acho que o facto de se chegar a este nível já é muito positivo. Nós gostávamos que houvesse vitórias, mas depende principalmente do trabalho árduo dos pilotos. O que quer dizer? Gostávamos muito de ter outros pilotos como o André Couto, com esta experiência e qualidade. Mas isso depende de vários factores e dos esforço do próprio piloto. Como sabemos, o automobilismo exige muitos recursos financeiros e eu não acredito que haja lugar no mundo onde os pilotos sejam tão apoiados financeiramente como em Macau. Porém, o apoio do Governo e da AAMC tem limites, por isso tem de ser o piloto a conduzir o processo e a arranjar apoios financeiros. O Governo não pode financiar as carreiras dos pilotos a 100 por cento, eles têm de arranjar outros patrocínios. Como encara que os pilotos estrangeiros consigam apoios das empresas locais, mas que o mesmo não aconteça com os pilotos de Macau? É uma pergunta que não me compete responder. São escolhas das empresas, que têm a sua actividade comercial e decidem os pilotos que patrocinam de acordo com os seus interesses. Agora, quando se fala dos subsídios atribuídos pelo Instituto do Desporto [ID] parece-me que não existem as injustiças que muitas vezes se contam. Acho que nenhum Governo atribui um subsídio maior a um piloto do que a outro quando estão nas mesmas condições. Quanto à AAMC, como apoiam os pilotos locais? Como os apoios financeiros partem do ID, o nosso apoio é mais na parte técnica, nas questões relacionadas com a interpretação dos regulamentos da FIA. Também disponibilizamos uma rede de contactos com outras associações para os pilotos interessados em participar em corridas fora de Macau. Existe um intercâmbio frequente entre a AAMC e outras associações que fazem parte da FIA. No último ano, o presidente da COGPM colocou a hipótese da Taça do Mundo de GT sair de Macau. Este ano o número de inscritos subiu de 15 equipas para 17. É suficiente? Consideramos que se tivermos mais de 15 equipas profissionais, que o número é consideravelmente aceitável. Estamos a falar de equipas profissionais, de topo, que têm outras alternativas e lugares onde podem correr. Por isso, no nosso entender este número muito próximo dos 20 carros é satisfatório. Na Taça de Carros de Turismo de Macau os pilotos queixam-se porque não gostam que as classes 1.600cc Turbo e 1.9500cc ou superior estejam em pista ao mesmo tempo. Há planos para alterar os regulamentos? Temos sempre em mente os pilotos. Esses regulamentos foram adoptados há alguns anos e sabemos que é bom mudar. Mas quando mudamos, temos de ter consciência de que há mais custos para os pilotos, que precisam de comprar outros carros. E a maior parte dos pilotos são amadores, não têm recursos para aguentar mudanças constantes nos regulamentos. Ponderam criar uma corrida em Macau com o regulamento do Campeonato TCR Ásia? É uma hipótese que está a ser considerada. Mas se houver mudança vai ser feita de forma gradual, ou seja, ao longo do anos, o que não impossibilitará os carros actuais de poderem correr. A hipótese abre as portas para que mesmo o Campeonato TCR Asia venha a Macau… Uma corrida com os regulamentos TCR Ásia permitiria convidar não só os pilotos locais, mas também outros pilotos asiáticos. Estamos até a estudar a possibilidade de Macau fazer parte desse campeonato. Mas isto tem de ser feito por fases. Primeiro, temos de ver se há interesse dos pilotos locais, que é o primeiro aspecto a ser considerado. Se estas mudanças foram implementadas talvez seja mais para 2022 ou 2023. Também temos de ver como se desenvolve o automobilismo nos próximos anos. Isso faria com que tivesse de ser disputada uma outra corrida do Grande Prémio? Sim, os carros com o regulamento TCR Ásia não iriam competir com os 1.600cc ou 1.950cc. Mas, primeiro o AAMC está a analisar se este tipo de viaturas interessa aos pilotos locais. Só numa segunda fase é que vamos comunicar com a COGPM, que tem a decisão final. Há dois anos que o apuramento para a Taça de Carros de Turismo de Macau é realizado na pista de Zhaoqing. Antes era disputado em Zhuhai, poderá haver mudanças no próximo ano? Em 2020 pode ser disputado numa pista diferente. É uma decisão que só vai ser tomada depois de Janeiro. Mas na selecção de uma pista temos em conta diferentes aspectos, como a proximidade, devido aos custos da logística, a existência de hospitais, hotéis, entre outros. Achamos que a rotatividade é importante para que os pilotos não se aborreçam e tenham uma experiência diferente. Há alguma pista em mente? Não, só vamos começar a estudar o assunto após o Grande Prémio de Macau, em Janeiro do próximo ano. Anteriormente foi apresentado um plano para a expansão do edifício do Grande Prémio que nunca foi concretizado. Como estão os trabalhos? Esta é uma pergunta que compete ao ID responder. Não tenho todos os dados para poder dar uma resposta. Mas gostava de ter um edifício maior para trabalhar? Claro que sim. Estamos num edifício construído em 1993 e desde esse período a sociedade sofreu muitas mudanças e uma grande evolução. Por isso, gostava que o edifício também fosse desenvolvido, porque mesmo as exigências das corridas – e Macau é um evento com muito valor para a FIA – também mudaram. Agradecimentos à herança portuguesa O presidente da AAMC fez questão de sublinhar a importância da Administração Portuguesa no que diz respeito ao Grande Prémio de Macau e à tradição do automobilismo. “Temos uma tradição muito longa e enraizada no desporto automóvel. É um aspecto em que temos de agradecer aos portugueses porque faz parte da herança e foi o desenvolvimento da prova que fez com que o interesse pela modalidade se desenvolvesse desta forma”, afirmou Chong Coc Veng, presidente do AAMC. “Naquela altura Portugal tinha eventos com nível mundial no automobilismo e trouxe essa experiência para Macau”, acrescentou.