UCCLA | Mostra de arte contemporânea celebra relações entre China, Macau e Portugal 

É inaugurada a 30 de Outubro a exposição “O Fio Invisível – Arte Contemporânea Portugal – Macau – China”, com curadoria de Carolina Quintela e iniciativa da UCCLA – União das Cidades Capitais da Língua Portuguesa. Artistas de Macau como Rui Rasquinho, José Drummond, Wong Ka Long ou Mio Pang Fei vão apresentar as suas obras

 

[dropcap]H[/dropcap]á uma lenda chinesa, transmitida pelos japoneses ao mundo ocidental, que nos conta que, quando nascem duas pessoas, elas ficam para sempre ligadas graças a um fio vermelho invisível que é atado nos seus tornozelos por um deus e que une estas pessoas para sempre. Esta crença constitui o mote para a exposição “Fio Invisível. Arte Contemporânea Portugal – Macau – China”, que é inaugurada a 30 de Outubro e que estará patente até 20 de Janeiro do próximo ano. A mostra é uma iniciativa da UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa e conta com curadoria de Carolina Quintela.

Ao HM, a curadora explicou que as obras dos 14 artistas escolhidos pretendem relembrar a comemoração dos 40 anos de relações diplomáticas entre Portugal e a China, bem como os 20 anos da transferência de Macau para a China.

“O fio invisível, e a crença chinesa, é quase uma aproximação à questão do fado português e ao prenúncio de algo que vai acontecer. Em relação aos artistas que escolhi, e às pessoas que trabalham neste projecto, é quase como se todos nos encontrássemos neste momento perpetuando esse mesmo fio, que se estica, enrola, mas que nunca se rompe.”

De entre os 14 artistas escolhidos, destaque para nomes ligados a Macau, como é o caso de Rui Rasquinho, José Drummond, Mio Pang Fei ou Wong Ka Long. Além de artistas chineses, Carolina Quintela teve ainda a preocupação de escolher autores portugueses que, não vivendo em Macau ou na China, possuem uma forte ligação aos dois territórios, como é o caso de José Maçãs de Carvalho ou Nuno Cera, entre outros.

Obras multidisciplinares

Carolina Quintela aponta o facto de a exposição organizada pela UCCLA conter obras de vários estilos, que vão desde a fotografia à pintura ou à instalação.

“Esta exposição é pensada para homenagear estas ligações entre os dois países sempre neste confronto entre o olhar ocidental sobre o oriente e vice-versa. As várias obras vão desde a fotografia, pintura ou instalação, pensando sempre nesse olhar crítico e contemporâneo sobre essa relação, sobre a forma como ela se mantém e o que mudou.”

A curadora frisa o trabalho de Wong Ka Long na ligação que faz ao 25 de Abril de 1974, quando se deu a queda do Estado Novo em Portugal. “É um artista de Macau com uma relação muito próxima a Portugal. O seu trabalho mostra capacetes de guerra pintados a óleo, quase a fazer-nos lembrar a porcelana chinesa, mas a imagem que vemos são cravos, o símbolo da liberdade em Portugal.”

O trabalho de Mio Pang Fei está inserido nesta mostra graças à parceria com a Fundação Oriente, que cedeu uma das suas obras. “Mio Pang Fei é um artista muito importante da China que faz uma pintura que nos lembra a estética do Ocidente. Com pinceladas muito abstractas acaba por fazer aqui uma representação do que é a pintura contemporânea na China, fugindo dos cânones chineses”, destaca Carolina Quintela.

Num plano oposto está Rui Rasquinho, aponta a curadora, por ser um artista “que tem um trabalho super delicado em papel, com uns cadernos e livros articulados que se estendem e que têm esse lado tridimensional, como qualquer coisa que se vai descobrindo”. “O desenho super delicado com aspectos figurativos acaba por ser descoberto com o tempo em que vemos a obra, que parece muitas das vezes oriental”, acrescentou.

A curadora referiu ainda o trabalho do fotógrafo português António Júlio Duarte, que esteve em Macau em 1999 aquando das cerimónias da transferência de soberania. As suas imagens surgem expostas ao lado da obra de Nuno Cera, com o objectivo de estabelecer um paralelismo temporal.

“É curioso ver essas fotografias lado a lado para ver que há coisas que mudaram e outras não”, disse a curadora, que lembra ainda outras obras presentes nesta mostra que nos revelam “o impacto da abertura da China ao Ocidente e do desenvolvimento económico e social”.

“António Júlio Duarte tem muitas fotografias sobre Macau, sempre quadradas, o que na cultura chinesa é um símbolo de estabilidade. Na década de 90 registou o momento antes de Macau passar para a China e fez um registo, uma encomenda da FO. Depois há as fotografias do Nuno Cera que nascem de uma residência artística em Macau e onde se vê o impacto da abertura da China e o que tinha mudado desde a entrega de Macau”, acrescentou Carolina Quintela. A exposição acontece na Casa das Galeotas, em Lisboa.

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