Arquitectura | Exposição no Porto mostra obras de Siza Vieira na Ásia

Chama-se “in/disciplina” e é a mais recente exposição do arquitecto português Álvaro Siza Vieira, vencedor de um Pritzker. Patente no Museu de Serralves, no Porto, a mostra revela os 60 anos de trabalho do arquitecto e inclui esboços de projectos desenvolvidos na Ásia, em países como a China e a Coreia do Sul

 

[dropcap]O[/dropcap] único português vencedor do prémio Pritzker em 1992, a mais importante distinção na área da arquitectura, protagoniza uma nova exposição sobre uma intensa carreira que há muito adquiriu uma dimensão internacional. “In Disciplina” foi inaugurada esta terça-feira no Museu de Serralves, no Porto, e mostra não apenas os principais trabalhos de Siza Vieira na Europa, mas também na Ásia.

A mostra aborda o período de maior internacionalização do arquitecto iniciado em 2000, quando este começou a projectar não apenas para a América do Sul, mas também para o Extremo Oriente. “Nessas latitudes, o arquitecto demonstra uma capacidade única de reinterpretar a geografia e a cultura autóctones, ora ‘ancorando-se’ a referências locais, ora ‘soltando-se’, à procura de formas mais livres, sinuosas ou mesmo auto-referenciais”, apontam os curadores desta exposição, que destacam projectos como a Paju Book City, na Coreia do Sul, e o China Design Museum, em Hangzhou, China.

Citado pela agência Lusa, Álvaro Siza Vieira garantiu que não lhe apetece tirar férias, apesar da longa carreira. “Às vezes acho que já vivi demais, mas isso não quer dizer que me apeteça ir de férias”, declarou o arquitecto de 86 anos de idade e natural de Matosinhos. Durante a conferência de imprensa, Siza Vieira agradeceu à Fundação Serralves pela “segunda grande exposição de obras” dele, referindo que a “montagem deve ter dado um trabalho tremendo”.

Esboços e apontamentos

Na exposição “in/disciplina” pode descobrir-se, por exemplo, vários esquissos (esboços de uma obra), desenhos de retrato e apontamentos de viagem que o arquitecto registava nos seus cadernos desde o tempo de estudante.

A mostra arranca com uma réplica de grande dimensão do primeiro esquisso que Siza Vieira registou fora de Portugal, feito em Berlim, recordou o arquitecto, explicando que reflecte a percepção da cidade, que, segundo o artista, é “feita de fragmentos”. O trabalho do arquitecto que intervém nalguns dos fragmentos é “tentar estabelecer relações entre eles”, explica, referindo que esses fragmentos visíveis nas cidades “reflectem o seu desenvolvimento e os diferentes períodos e tendências”.

Depois de falar da importância da “multiplicação da luz” nas salas do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, edifício da autoria de Siza Vieira, e que está a celebrar o 20.º aniversário, o arquitecto lembrou que em Portugal a “intensidade da luz nas ruas é quatro vezes mais elevada do que na Alemanha”. “Isso dá um gasto tremendo de luz”, referiu, lamentando que nas ruas públicas em Portugal se esteja a fazer o contrário de uma poupança energética.

A in/disciplina retrata o “trajecto de vida do Siza através dos seus cadernos de esquissos, que guardava e onde registava tudo”, explicou, por seu turno, o curador da exposição, Nuno Grande, referindo que esses esboços mostram a inquietude e a “indisciplina na disciplina” constante do arquitecto.

A exposição tem também um conjunto de fotografias escolhidas pelos “amigos fotógrafos” de Siza Vieira, e que foram “fundamentais para levar a todo o mundo a obra de Siza Vieira, acrescentou Nuno Grande.

A mostra que revela 30 projectos realizados entre 1954 e 2019, percorrendo a trajectória de Álvaro Siza desde o período da sua formação até à sua plena afirmação autoral, vai estar patente em Serralves até 2 de Fevereiro de 2020, e foi organizada pela Fundação de Serralves, com a contribuição “fulcral do arquivo de Álvaro Siza Vieira, do Álvaro Siza Vieira Fonds no Canadian Centre for Arquitechure (Canadá) e da Fundação Calouste Gulbenkian”.

A obra da Casa de Chá da Boa Nova (1958–1963) e a Piscina de Marés (1958–1965), ambas em Leça da Palmeira, são algumas das maquetes que podem ser vistas.

Distinguido com o Prémio Pritzker em 1992, Álvaro Siza recebeu ainda, entre outros, o Prémio Mies van der Rohe (1988), o Prémio Nacional de Arquitectura (1993), a Medalha Alvar Aalto (1998) e a Medalha de Ouro (2009), do Royal Institute of British Architects, o Leão de Ouro da Bienal de Veneza (2002), pelo melhor projecto, e o Leão de Ouro de Carreira (2012).

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