Novo Macau | 94 por cento de apoio ao sufrágio universal apesar dos ataques

A Associação Novo Macau divulgou ontem os resultados positivos do atribulado referendo online, com 94 por cento dos participantes a dizerem sim ao sufrágio universal do Chefe do Executivo da RAEM. Os pró-democratas denunciaram também os ataques informáticos de que foram alvo

 

[dropcap]F[/dropcap]oram 5.351 pessoas a reagir favoravelmente à reforma do sistema eleitoral para o sufrágio universal do Chefe do Executivo da RAEM, o que correspondeu a 93,9 por cento dos 5.698 votantes da consulta online, lançada no passado dia 11 de Agosto pela Associação Novo Macau (ANM). Os votos contra ficaram pelos 236, ou 4,1 por cento, e as abstenções foram contabilizadas em 111, ou 2 por cento.

O processo decorreu de forma atribulada, segundo a ANM, desde o início da votação online até ao encerramento prematuro das urnas virtuais, que deveriam ter permanecido abertas até às 12h do dia 25 de Agosto, mas que acabaram por fechar na tarde de 24 de Agosto, véspera da eleição efectiva, sob fortes pressões e ameaças, revelaram ontem os pró-democratas em comunicado.

“Desde 15 de Agosto, a plataforma electrónica de voto sofreu continuamente ataques cibernéticos, maioritariamente do Interior da China. No entanto, o suporte tecnológico conseguiu evitar que os ataques constituíssem uma ameaça à eficiente operação do servidor. A segurança e a integridade dos dados referentes à votação estão 100 por cento assegurados”, referiram.

Logo no dia 14 de Agosto, os voluntários das equipas de rua que promoviam a consulta online à pergunta “Concorda que o Chefe do Executivo de Macau deve ser eleito por sufrágio universal?”, foram “interrompidos, insultados e até atacados fisicamente por pessoas desconhecidas”, numa tentativa de disrupção do processo que a ANM já denunciou junto das autoridades policiais.

Mas houve pior, acusou a Novo Macau, que afirma ter recebido “informação específica a indicar que a situação acima descrita iria intensificar-se ainda mais, o que poderia colocar em risco a segurança dos membros da organização envolvidos. Ocorrências anormais também se verificaram na página electrónica da votação, no dia 23 de Agosto, impossibilitando qualquer voto nesse dia. Após uma prudente análise dos riscos, a ANM decidiu encerrar a votação ao final da tarde de 24 de Agosto”.

Obra profissional

No passado dia 22 de Agosto, já o activista Jason Chau havia enviado para as redacções uma carta onde acusava os mesmos ataques cibernéticos, na qualidade de fornecedor da tecnologia do voto digital. “O que eu posso dizer é que a plataforma enfrentou graves ataques informáticos na semana passada. Embora eu não tenha evidências concretas de que se tratou de ataques promovidos por entidades estatais, posso garantir que os atacantes eram profissionais”.

“Vestígios destas actividades sugerem que a origem é o Interior da China. E o objectivo técnico dos ataques informáticos foi paralisar a página electrónica da votação, criando falsos registos de voto ou roubando os dados protegidos”, escreveu ainda Jason Chau, aludindo à tentativa de intimidação e de interferência no direito legítimo de a população se manifestar. O responsável acrescentou ainda que, ao longo destes dias, teve continuamente que “monitorizar e analisar os padrões dos ataques” para os despistar.

Dentro do esperado

Segundo a Novo Macau, os participantes responderam ao apelo da votação de forma pacífica e de acordo com a lei, apesar de os ataques à iniciativa terem sido uma “clara violação do exercício das liberdades fundamentais dos cidadãos”. O número de votantes, apesar da falta de meios para uma divulgação mais abrangente, esteve “em linha com as expectativas”, pelo que agradeceram a participação de todos, “independentemente do sentido do voto”.

E apesar dos resultados da consulta não serem vinculativos, a Novo Macau enfatizou a sua esperança de que esta amostra de opiniões “seja uma referência importante para o próximo Governo da RAEM, que deveria tentar reiniciar a reforma política durante o seu mandato”, e marcar no calendário os próximos passos para implementar a eleição universal dos órgãos dirigentes.

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