Inéditos de Agustina Bessa-Luís editados “a curto prazo”

[dropcap]U[/dropcap]ma antologia de contos inéditos de Agustina Bessa-Luís, que morreu hoje aos 96 anos, e a correspondência entre a escritora e o britânico John Wilcock serão editados “a curto prazo” pela editora Relógio D’Água, que a representa.

“A curto prazo haverá a edição de alguns inéditos, a correspondência com [o jornalista e escritor britânico] John Wilcock e alguns contos também”, anunciou hoje, em declarações à Lusa, Francisco Vale, responsável pela atual editora de Agustina Bessa-Luís, a Relógio d’Água.

A correspondência “sairá este ano” e “é possível” que o mesmo aconteça com os contos.
“Isso não temos ainda a certeza, porque está a ser feita uma recolha, um levantamento. Sabemos que há vários, até bastantes contos inéditos, pelo menos nunca publicados em livro, e outros absolutamente [inéditos], que nem sequer saíram em revistas, e seria uma antologia desses contos que gostaríamos de fazer sair ainda este ano, talvez em outubro”, adiantou Francisco Vale.

Embora a escritora estivesse afastada da vida pública e da escrita desde 2006, devido a problemas de saúde, para o editor não é possível deixar de sentir “o seu desaparecimento como uma perda, para a literatura portuguesa e para os leitores de Agustina”.

A Relógio d’Água irá, “obviamente, continuar, com tanta ou mais convicção a divulgar a obra” de Agustina Bessa-Luís, “que passa em grande parte pela reedição das obras que estavam já afastadas das livrarias há alguns anos”, além da publicação dos já referidos inéditos, “que a família, nomeadamente a filha Mónica Baldaque [artista plástica e também escritora] considera de particular interesse”.

Em 2017, Agustina Bessa-Luís deixou a sua editora de sempre, a Guimarães Editores, fundada em 1899, e que, atualmente, faz parte do grupo editorial Babel.

Desde que a obra da escritora passou a ter a chancela da Relógio d’Água, já foram reeditadas “15 [títulos], com prefácios de escritores, que permitem que a obra da Agustina chegue a novas gerações de leitores, que foram desde Gonçalo M. Tavares a António Lobo Antunes, passando por muitos outros, como Bruno Vieira Amaral, João Miguel Fernandes Jorge, António Barreto, António Mega Ferreira, Pedro Mexia, e um original, ‘Deuses de barro’”.

De acordo com Francisco Vale, “por ano sairão cerca de seis/sete títulos” e “o próximo romance que irá sair é ‘O Sermão do Fogo’ [editado originalmente em 1962 e reeditado em 1995], um excelente romance que será reeditado ainda em junho”.

“A obra dela é muito extensa, muito vasta, muito diversificada em géneros também e, portanto, temos pelo menos, em termos só de reedições, trabalho para dois/três anos mais, pelo menos”, afirmou o editor.

Simultaneamente, irá realizar-se “uma série de iniciativas que ajudem a manter viva, e que chegue a novos leitores, a obra de Agustina, como [a ópera] ‘Três mulheres com máscaras de ferro’, congressos, encontros, debates, que temos organizado”.

Entretanto, está a ser preparada uma homenagem à escritora na Feira do Livro de Lisboa, que decorre até 16 de Junho, no Parque Eduardo VII. “Em princípio, será no sábado, às 16:30, mas estamos ainda a confirmar as presenças das pessoas nessa homenagem, que será feita de leituras de fragmentos da obra da Agustina e, eventualmente, de alguns dos prefácios que entretanto acompanham a sua obra, que temos reeditado”, partilhou Francisco Vale.

Além disso, a Relógio d’Água irá procurar “expor o melhor possível” a obra de Agustina Bessa-Luís, nos pavilhões da editora, na Feira do Livro.

O nome de Agustina Bessa-Luís, que nasceu em 15 de Outubro de 1922, em Vila Meã, Amarante, destacou-se em 1954, com a publicação do romance “A Sibila”, que lhe valeu os prémios Delfim Guimarães e Eça de Queiroz.

Recebeu igualmente o Grande Prémio de Romance e Novela, da Associação Portuguesa de Escritores, em 1983, pela obra “Os Meninos de Ouro”, e em 2001, com “O Princípio da Incerteza I – Joia de Família”.

Foi distinguida pela totalidade da sua obra com o Prémio Adelaide Ristori, do Centro Cultural Italiano de Roma, em 1975, e com o Prémio Eduardo Lourenço, em 2015.

Sobre Agustina, o ensaísta Eduardo Lourenço disse, em declarações à Lusa, no final da cerimónia da entrega do prémio com o seu nome, que é uma autora “incomparável”, a “grande senhora das letras portuguesas”.

Em 2004, Agustina recebeu os Prémios Camões e Vergílio Ferreira. Foi condecorada como Grande Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada, de Portugal, em 1981, elevada a Grã-Cruz em 2006, e com o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras, de França, em 1989, tendo recebido a Medalha de Honra da Cidade do Porto, em 1988.

Questionada sobre o que escrevia, a autora disse, num encontro na Póvoa de Varzim: “É uma confissão espontânea que coloco no papel”. A cerimónia fúnebre da escritora Agustina Bessa-Luís decorrerá hoje, na Sé Catedral do Porto, seguindo depois para o cemitério do Peso da Régua, Vila Real, onde será sepultada “na intimidade da família”, revelou hoje o Círculo Literário Agustina Bessa-Luís. O Governo declarou um dia de luto nacional, na terça-feira, pela morte da escritora.

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