Exposição | Espaço e Lugar a partir de amanhã na Casa Garden

Um reflexão sobre Macau sentido como espaço físico e lugar emocional é a proposta de “Espaço e Lugar”. A mostra reúne os trabalhos de Maria Mesquitela, João Palla, Alexandre Marreiros, Sofia Campilho e Maria Albergaria, e tem inauguração marcada para amanhã, às 18h30 na Casa Garden

 

[dropcap]”[/dropcap]Espaço e Lugar” é a exposição que tem inauguração marcada para amanhã às 18h30, na Casa Garden, e que reúne os trabalhos de cinco artistas de diferentes sectores das artes plásticas. De Macau vão estar presentes as criações dos arquitectos João Palla e Alexandre Marreiros.

Já de Portugal vêm os trabalhos de Maria Albergaria, Maria Mesquitela e Sofia Campilho. Juntos “dialogam entre si através de um tratamento e de uma abordagem visual do território dando primazia ao cenário urbano e à sua envolvência natural”, apontou a fotógrafa Maria Mesquitela ao HM.

O tema coloca frente a frente as concepções de espaço e de lugar numa metamorfose capaz de transformar o primeiro conceito no segundo.

Aos arquitectos coube essencialmente a interpretação do espaço, enquanto objecto concreto, sendo que o lugar é o tema sujeito à interpretação “mais individual dos artistas, daquilo que os aproxima emocionalmente do espaço, transformando-o ou não no dito lugar”.

“Para ser lugar é preciso uma aproximação emocional, por exemplo, uma casa onde nós habitamos é um lugar. Mas se calhar uma estação de metro é um espaço, a menos que seja um sítio de referência diário, de uma rotina, com a qual existe uma ligação”, explica Maria Mesquitela.

A unir os dois conceitos está Macau e a vivência da cidade quer por quem cá está, quer por quem vem de fora e a sente pela primeira vez. “Somos três artistas portuguesas que vimos de fora, e vamos abordar a cidade, o nosso primeiro, segundo e terceiro impacto, é como se estivéssemos a ver a cidade, este espaço de fora para dentro, ou seja uma visão mais sensitiva, sensorial, em que não há uma crítica sobre o sítio, porque não o vivenciamos”, aponta a fotógrafa referindo-se à participação das três portuguesas. Para Mesquitela, é neste movimento que se vai percepcionando a identificação de um lugar.

João Palla e Alexandre Marreiros, habitantes do território, têm uma abordagem feita “muito mais de dentro para fora”, visto que Macau já é o seu lugar e que acabam por ter que se afastar para analisar o espaço em si. “Ou seja, é mais parcial, talvez com alguma crítica em que mostram a cidade com alguns pormenores muito particulares”, revela Maria Mesquitela.

Matérias primas

Também os meios usados são diversos e variam de autor para autor. Maria Mesquitela, fotógrafa, vai usar o meio que lhe serve de profissão. Depois de três vindas a Macau em que sentiu a cidade sempre de formas diferentes e foi acompanhando as sensações de imagens, a artista mostra agora estas transformações em forma de fotografia. “O meu trabalho é muito ao nível da imagem, por ser fotografia, com uma percepção mais imediata”, diz. Em “Espaço e Lugar” vão estar presentes 3 peças de instalação, que conjugam a “textura com as cores de Macau” em panos.

Já Sofia Campinho utiliza a técnica mista para dar corpo ao seu trabalho artístico de onde se destaca o uso do desenho, de recortes e da pintura. Talvez por ter passado na sua formação académica e profissional pela área da Psicologia, apresenta aqui “um trabalho mais relacionado com a vivência das pessoas, mais íntimo”, conta Maria Mesquitela.

“Por exemplo, tenta procurar o indivíduo que vive numa cidade como Macau, quando é que ele se isola, quando é que está em contemplação, quando é que está em movimento”. Para o efeito, a artista usou motivos e materiais locais – “algumas folhas e papéis com caligrafia e com rezas” – aos quais adaptou a sua percepção da cidade.

A aplicação de ouro a vários suportes é o mote para as criações de Maria Albergaria. No trabalho em que traz a sua representação de Macau, Albergaria debruçou-se sobre a flora local e “foi procurar os jardins e toda esta natureza, que é muito bonita, e juntou-lhe o ouro, que é a sua técnica primordial o que, no fundo, também está muito relacionada com Macau”, conta Mesquitela.

Das mulheres artistas que vieram de fora saem as obras “mais românticas, sensitivas e muito imediatas”.

Por outro lado

As mesas de jogo são o mote de João Palla que vai apresentar uma instalação em que aborda o tema da principal actividade local. A ideia é representar “o casino, como um lugar que molda a cidade”. O trabalho do arquitecto é uma observação “sobre os diferentes tipos de mesa de jogo, apropriando-se delas numa reinterpretação do lugar do jogo não esquecendo a importância dos casinos, para o bem e para o mal”.

Alexandre Marreiros estará como peixe na água na exploração que faz do seu “tema preferido que é o território arquitectónico e urbano, que está relacionado com esta abordagem do espaço e do lugar”.

Marreiros construiu o seu trabalho na observação do crescimento da cidade de Macau, e mostra o que considera ser uma “arquitectura de aparência” ou de “cosmética”, o antes e o depois de Macau, e a rapidez com que o território evolui e se transforma, “talvez como um inventário”. Uma das peças presentes, “Bestiário da arquitectura” é precisamente sobre a arquitectura contemporânea de Macau, “numa contemplação e crítica do espaço habitado e, portanto, o que é lugar e o que não é lugar”.

O resultado, é “um misto de interpretações de quem vem de fora e de quem está dentro, de como cada pessoa interpreta este tema”, remata a fotógrafa.

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