Jogo | Analistas da Standard & Poor’s defendem aposta nas massas

Analistas da Standard & Poor’s defendem a massificação do jogo em detrimento das apostas VIP. A ideia tem por base conseguir um retorno que apesar de menor, consegue ser constante. Já a renovação de licenças, deverá acontecer mesmo em 2022, consideram, e não devem ser alargadas a mais operadoras

 

[dropcap]O[/dropcap]s analistas da Standard & Poor’s (S&P) que seguem Macau disseram à Lusa que a aposta na massificação do jogo em detrimento dos grandes jogadores é uma tendência positiva para o Governo e para os operadores.

“A percentagem de grandes jogadores face aos jogadores em massa tem vindo a diminuir, ficou abaixo dos 50 por cento no princípio deste ano, quando antes a relação era de mais de 70 jogadores VIP para 30 jogadores em massa, e isso, na nossa perspectiva, é de salutar”, disse a vice-directora da análise de ‘rating’ empresarial da região Ásia Pacífico, Sandy Lim.

A analista explicou que “a primeira vantagem do aumento dos jogadores em massa e diminuição dos jogadores VIP tem que ver com a volatilidade destes gastos, que estão ligados à liquidez, aos angariadores e ao sentimento geral da macroeconomia, ao passo que os jogadores com menos poder financeiro, apesar de também estarem dependentes de vários factores, têm um comportamento mais estável.

“O ‘mix’ é mais salutar porque há mais estabilidade, os gastos podem crescer pouco, mas crescer constantemente e de forma sustentada”, argumentou a directora do departamento de análise de ‘rating’ empresarial, Sophie Lin.

Margens maiores

Além da menor volatilidade, o aumento da percentagem de jogadores oriunda da classe média tem a ver com as margens: “Os angariadores de grandes apostadores [‘junckets’, no original em inglês] representam 5 a 15 por cento da receita das operadoras, enquanto as margens para os jogadores em massa andam nos 25 a 40 por cento, por isso são muitos mais lucrativos para as operadoras”, argumentou Sandy Lim.

Questionada sobre a evolução a curto prazo desta relação entre o número de jogadores VIP e jogadores da classe média, os analistas responderam que “apesar de poder haver alterações de trimestre para trimestre, a percentagem de jogadores VIP vai continuar a diminuir e os jogadores em massa vão valer mais de 50 por cento, crescendo de forma sustentada”.

O objectivo do Governo e também dos operadores “é promover mais receitas vindas dos jogadores em massa e menos dos jogadores VIP”, concluíram.

Recorde-se que as receitas dos casinos em Macau caíram 2,4 por cento no primeiro trimestre deste ano face ao período homólogo de 2018, e em Abril caíram 8,3 por cento, de acordo com os últimos dados da Direção de Inspeção e Coordenação de Jogos (DICJ) de Macau. Uma das principais razões para a quebra das receitas dos casinos prende-se com a diminuição das receitas angariadas nas salas de grandes apostas, tradicionalmente frequentadas pelos ‘jogadores VIP’: no primeiro trimestre deste ano, o jogo ‘VIP’ sofreu uma redução de 13,4 por cento, em relação ao período homólogo do ano passado, no qual tinha atingido 42,95 mil milhões de patacas.

Licenças em 2022

Standard & Poor’s antecipam ainda que o Governo vá renovar, em 2022, a concessão da licença de jogo aos seis operadores no território.

“O nosso cenário base de análise é que as operadoras de jogo que cobrimos na nossa análise vão conseguir renovar a licença, baseado no histórico de forte investimento na indústria e na sociedade, e também no esforço que estão a fazer para aumentarem a proporção de investimentos no sector ‘não jogo’ e na massificação dos jogadores, por oposição aos jogadores VIP”, disse a directora do departamento de análise de ‘rating’ empresarial, Sophie Lin.

“Quando os operadores falarem com o Governo sobre a renovação das concessões, já têm argumentos para mostrar que têm sido bons cidadãos e que têm cumprido as recomendações feitas nos acordos de concessão em vigor”, acrescentou.

Questionada sobre que alterações podem surgir no âmbito da renegociação dos contratos, Sophie Lin lembrou o exemplo de Singapura e apontou que é previsível que Macau force um aumento do investimento das operadoras em áreas não directamente ligadas ao jogo, como as infraestruturas, e também um maior envolvimento no financiamento do sistema de pensões.

Os do costume

Quanto à eventual entrada em cena de novos operadores em Macau, S&P não antecipa esse cenário, considerando que, mais importante do que a eventual nova concorrência, que teria de ter capacidade para competir com seis casinos já instalados e em plena actividade, “para os operadores a questão é saber se conseguem fazer crescer o seu próprio negócio”, abrindo mais casinos e expandindo as outras actividades turísticas.

Questionada sobre se o facto de os casinos serem propriedade de empresas norte-americanas poder ter influência na decisão do Governo de Macau, num contexto da tensão comercial entre os EUA e a China, Sandy Lim diz que não. “Diria que o ponto não é serem ou não dos EUA, mas sim terem a capacidade de ajudar Macau a investir na indústria não jogo e de melhorar a vida das pessoas, mais do que a nacionalidade dos donos dos casinos”, argumentou.

“Do nosso ponto de vista, a haver impacto da tensão comercial entre os EUA e a China, ele será apenas indirecto; a indústria do jogo pode ser impactada pela volatilidade da moeda e pelas taxas de juro, que afectam a capacidade de aceder aos mercados financeiros, o que é importante porque as operadores usam a emissão de dívida para financiar o desenvolvimento”, acrescentou.

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