China / ÁsiaCidade Proibida abre-se para celebrar 40 anos de relações diplomáticas com Portugal Hoje Macau - 6 Mar 20197 Mar 2019 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] guitarrista Pedro Jóia já tinha actuado em Pequim, mas o concerto de ontem teve um sabor especial: decorreu no Antigo Palácio Imperial chinês e assinalou o 40.º aniversário das relações entre Portugal e China. “É, de facto, de uma grande carga simbólica”, reconheceu, à agência Lusa, o músico português, no final de um espectáculo conjunto com Duan Chao, uma das mais aclamadas instrumentistas do ‘erhu’, instrumento musical originário da China, de duas cordas e tocado com um arco. O concerto, de cerca de uma hora, esgotou a sala de espectáculos da Cidade Proibida, complexo construído durante a dinastia Ming (1368-1644) e onde residiram 24 imperadores chineses, que se sucederam durante mais de 500 anos. “Caiu mesmo bem”, afirmou Ricardo Oliveira, professor de português numa universidade de Pequim, sobre o concerto. “A amizade entre Portugal e a China reflectiu-se na conjugação musical”, considerou. Mas se espectáculos de fado não são novidade no país asiático, o último foi com a fadista Cuca Roseta, assim como reportórios conjuntos, António Chainho tocou com a cantora Gong Linna, o espaço escolhido foi algo “sem precedentes”, afirmou o embaixador de Portugal em Pequim, José Augusto Duarte. “Abrir a Cidade Proibida à noite, para um espectáculo nosso, é inédito”, disse. “Estamos muito lisonjeados com esta atitude das autoridades chinesas”, contou. Emoções conjuntas Outrora fechado aos cidadãos comuns, sendo a entrada punível com pena de morte, o antigo Palácio Imperial é hoje a principal atracção turística da capital chinesa. Para muitos na plateia, a oportunidade de aceder ao Antigo Palácio Imperial, já depois das horas de encerramento – o espectáculo começou às 18:30 em Pequim -, foi mesmo um incentivo extra. “Muito raramente a Cidade Proibida abre durante a noite”, lembrou uma estudante chinesa. O complexo encerra para turistas às 16:30, no Inverno, e às 17:00, no Verão. Apenas convidados de alto nível, incluindo o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante uma visita a Pequim, no ano passado, têm normalmente o privilégio de admirar o complexo à noite. O clima era igualmente convidativo: lá fora, a temperatura ultrapassava os dez graus, assegurando o fim do rigoroso Inverno pequinês. Portugal e a República Popular da China estabeleceram relações diplomáticas em 8 de Fevereiro de 1979, mas devido àquele dia ter coincidido este ano com a celebração do Ano Novo Lunar – a principal festa das famílias chinesas – a celebração acabou por decorrer ontem. Outros eventos culturais vão realizar-se ao longo de 2019, incluindo festivais de cinema, literatura, teatro ou música, em paralelo com o ano da China em Portugal, num programa pensado pelos dois Governos. “A cultura é um instrumento fundamental para aproximar os povos, dialogar e criar emoções conjuntas”, sublinhou Augusto Duarte. “Este será um ano que reforçará em muito a visibilidade do grande talento dos portugueses junto da opinião pública chinesa”, disse.