Um pingo de sangue da Dinastia de Bragança

A Quarta Dinastia de Portugal, a dos Bragança, ou Bragantina, contou com quinze reis, não tendo o título de Duque de Bragança os reis D. Pedro II, D. Miguel, D. Luís e D. Manuel II. Também os bens da Casa de Bragança estiveram sempre separados administrativamente dos da Casa Real, como impôs por Carta de Lei D. João IV, o primeiro rei dessa dinastia.

A Casa de Bragança teve origem durante a Dinastia de Avis (1385-1581), com D. Afonso (1370-1461). Filho bastardo de D. João I, em 1401 casou com D. Beatriz Pereira Alvim, filha única de D. Nuno Álvares Pereira, que lhe deu um grande dote e o condado de Barcelos. Assim, D. Afonso ficou a ser o oitavo Conde de Barcelos e só em 1442 se tornou o primeiro Duque de Bragança.

Houve ainda mais seis duques de Bragança, até a Casa de Bragança chegar em 1640 ao trono de Portugal.

  1. João (1604-1656), filho de D. Teodósio, o sétimo Duque de Bragança e da Duquesa espanhola D. Ana de Velasco e Girón, em 1630 tornou-se D. João II, 8.º Duque de Bragança. Com sangue meio português, meio espanhol, foi pelo povo aclamado Rei de Portugal a 1 de Dezembro de 1640, com o nome de D. João IV (1640-56), O Restaurador, inaugurando assim a Dinastia de Bragança. Casado com D. Luísa de Gusmão, filha do Duque de Medina Sidónia, grande de Espanha, teve quatro filhos: D. Teodósio (1634-1653), cujo rei em 27 de Outubro de 1645 lhe deu o título de 9.º Duque de Bragança, mas por ter morrido antes de seu pai, sucedeu no trono o irmão D. Afonso (1643-1688). Logo em 1656 D. Afonso II, 10.º Duque de Bragança, sendo durante a sua menor idade regente D. Luísa de Gusmão. Como Rei Afonso VI (1656-67), O Vitorioso, casou-se em 1666 com Maria Francisca Isabel de Sabóia, filha do Duque de Nemours, que no ano seguinte requereu a nulidade do matrimónio, alegando incapacidade física do monarca. Abdicou em 1667 para o irmão mais novo D. Pedro (1648-1706), que ficou regente do Reino entre 1667 a 1683. Ainda estava vivo D. Afonso, quando D. Pedro se casou com a francesa Maria Francisca, ex-esposa do irmão, de quem teve D. João (1689-1750), nascido era já Rei D. Pedro II (1683-1706), O Pacífico.

Com sangue meio francês, um oitavo português e três oitavos espanhol, D. João, desde 1689 D. João III, 11.º Duque de Bragança, e depois Rei D. João V (1706-50), O Magnânimo. Casou-se com D. Maria Ana, filha do Imperador da Áustria, de quem teve, entre outros, D. José (1714-1777) e D. Pedro (1717-1786).

O Rei D. José (1750-77), O Reformador, desde nascença 12.º Duque de Bragança, casou-se com D. Mariana Vitória, filha de Filipe V, Rei de Espanha, de quem teve como filha primogénita D. Maria (1734-1816). Esta em 1750 tornou-se Duquesa de Bragança e em 1760 casou-se com o tio D. Pedro, pois filho do Rei D. João V e irmão do Rei D. José, que viria a ser o Rei D. Pedro III pela aclamação em 22 de Fevereiro de 1777 da Rainha D. Maria I (1777-1816), A Piedosa. Tiveram três filhos, D. José (1761-1788), D. João (1767-1826) e D. Mariana. Já D. Pedro III tinha morrido em 1786, assim como o filho primogénito D. José, que desde 1777 fora D. José II, 14.º Duque de Bragança, quando em 1792, por sofrer de doença mental, a Rainha D. Maria I foi afastada dos negócios públicos ficando estes entregues ao Príncipe D. João, o segundo filho. Pela morte do irmão mais velho, em 1788 tornou-se D. João IV, 15.º Duque de Bragança, e após a morte da Rainha no Rio de Janeiro a 20 de Março de 1816, foi nesse dia aclamado Rei D. João VI (1816 -1826), O Clemente.

  1. João, ainda apenas como Duque de Beja, casara-se em 1785 com D. Carlota Joaquina de Bourbon (1775-1830), filha de Carlos IV, Rei de Espanha, de quem teve, Francisco António (1795-1801), D. Pedro (1798-1834), D. Isabel Maria (1801-1876) e D. Miguel (1802-1866).
  2. João VI, Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, antes de regressar a Portugal continental a 22 de Abril de 1821 nomeou o filho D. Pedro Regente do Brasil. Este tinha-se casado em 1817 com a Arquiduquesa Leopoldina Josefa Carolina (1797-1826), filha do Imperador da Áustria, e entre outros filhos nasceu a primogénita D. Maria da Glória (1819-1853).

Após 13 anos no Brasil, D. João VI a 3 de Julho de 1821 regressou a Lisboa com a família e a corte, ficando apenas D. Pedro, que a 7 de Setembro de 1822 declarou o Brasil independente, sendo a 12 de Outubro aclamado Imperador D. Pedro I (1822-1831).

Em 1826, com a morte do Rei D. João VI a 10 de Março, o Imperador D. Pedro I do Brasil (1822-1831), já como 16.º Duque de Bragança e também Rei D. Pedro IV, abdicou do trono de Portugal em 2 de Maio de 1826 a favor da filha de sete anos D. Maria da Glória, que então se tornou Duquesa de Bragança e Rainha D. Maria II (1826-1828).

  1. Miguel, segundo filho do Rei D. João VI e irmão de D. Pedro, usurpou o poder à sobrinha, com quem estava prometido casar quando esta atingisse a maior idade. Rei D. Miguel (1828-34), O Absolutista, de Junho de 1828 a 27 de Maio de 1834, nessa data definitivamente derrotado pelo exército liberal de D. Pedro. D. Miguel, que nunca teve o título de Duque de Bragança, a 1 de Junho foi expulso de Portugal, sendo a sua linhagem perpetuamente banida do país.

De volta ao trono, a Rainha D. Maria II (1834-1853), A Educadora, casou-se com o príncipe alemão Fernando de Saxónia Coburgo Gota, de quem teve entre outros filhos, D. Pedro (1837-1861) e D. Luís (1838-1889).

  1. Pedro, pela morte da rainha sua mãe, em 1853 tornou-se D. Pedro II, 18.º Duque de Bragança, e Rei D. Pedro V (1853-61), O Esperançoso, mas sem filhos sucedeu-lhe o irmão D. Luís.

O Rei D. Luís (1861-89), O Popular, casou-se com Maria Pia de Sabóia, filha de Victor Manuel, Rei de Piemonte e futuro Rei de Itália, de quem teve D. Carlos (1863-1908), que em 1863 se tornou 19.º Duque de Bragança e em 1889 Rei D. Carlos (1889-1908), O Martirizado. Casou-se com D. Amélia de Orleães, filha de Luís Filipe, Conde de Paris e pretendente à coroa de França, tendo dois filhos, D. Luís-Filipe (1887-1908) e D. Manuel (1888-1932).

O Príncipe D. Luís-Filipe, desde 1889 20.º Duque de Bragança, foi por elementos da Carbonária assassinado conjuntamente com o Rei D. Carlos a 1 de Fevereiro de 1908. Daí ser Rei D. Manuel II (1908-10), O Estudioso, mas por pouco tempo, pois deposto a 5 de Outubro de 1910 pela implementação da República. Fugiu de Portugal com a mãe D. Amélia e em 1932 faleceu no exílio sem descendência.

Assim, o sangue do último Rei de Portugal, D. Manuel II, mais de metade era francês, um quarto italiano, um oitavo alemão, um pouco menos de 1/13 austríaco, 1/24 espanhol e 1/683 português, sendo este último apenas proveniente de quem deu início à Dinastia de Bragança, D. João IV.

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