Museu do Oriente | Exposição “Pureza” mostra obras de jovens artistas

[dropcap]A[/dropcap]o entrar na sala de exposições é difícil ficar indiferente ao filme de dezassete minutos que passa continuamente. O som chama a atenção para o écrãn onde se repetem as imagens. São figuras humanas numa fábrica, vestidas com um uniforme amarelo, e que surgem penduradas como bonecos num processamento em série.

Seguimos numa distopia? “We don’t want boring repetitive work”, dizem os trabalhadores. Na mesma projecção, a fazer recordar o “Sonho” de Kurosawa, uma mulher move-se entre cenários de diferentes desenhos. As imagens mostram o etéreo do sonho. E a não realidade prossegue entre um homem que dá ordens e as vozes que dizem estar fartas dos Media.

O homem grita e ostenta um casaco comprido cheio de olhos ficcionados. “Gene Sugar” foi o nome escolhido pelo jovem artista Lu Shan para a vídeo-projecção, apresentada em 2016 pela primeira vez. Lu Shan é um entre os 23 artistas chineses escolhidos que compõem “Purity, Purification”, uma exposição de arte contemporânea chinesa que inaugurou a 22 de Novembro no Museu do Oriente em Lisboa.

Resultado de uma co-produção entre o Museu do Oriente e a CICA – China International Culture Association -, a exposição pretende mostrar uma jovem face da arte contemporânea chinesa. Depois de duas décadas de grande divulgação e procura de arte contemporânea chinesa pelos maiores museus e galerias do mundo, “Purity, Purification” é apresentada como uma “exposição de jovens artistas”, nomes que se afirmaram nas últimas décadas no contexto artístico mundial. Na verdade, alguns nasceram no final dos anos 70 e começaram a expôr no início deste século.

Com uma visão claramente influenciada pelas mudanças recentes do país, os trabalhos expostos levam-nos a uma China onde materiais tradicionais, como o bambu, a madeira ou a cerâmica, são apresentados numa outra forma conceptual. Entre pintura, instalação, vídeo, fotografia e escultura, a exposição reflecte a variedade que também os une – aos artistas – em volta de um conceito de uma China que já se afirmou como global.

Insustentável leveza

Sob a curadoria de Liu Chunfeng, “Purity, Purification” pretende revelar um olhar jovem, sobretudo pela idade dos participantes, nascidos entre os finais de 70 e os anos 90. Mas mostra, por outro lado, uma maturidade exposta ao retratar temas actuais, questões polémicas, dúvidas que se colocam a muitos, numa sociedade moderna cada vez mais homogeneizada.

“Rejuvenescimento”, por exemplo, é uma obra de vídeo e fotografia de Tang Yuhan que faz alternar as caras de duas mulheres de diferentes idades, levando-nos à questão entre ser jovem e envelhecer. Repetem-se continuamente e a dado momento quase parecem unir-se. Bu Xianlei, outro artista presente, mostra uma instalação de bambu, uma caixa totalmente feita de cana de bambu de onde saem vários utensílios feitos do mesmo material. “Uma das formas de um metro cúbico” é o nome escolhido para a instalação que nos leva a questionar a problemática do espaço, um tema tão actual para a China.

Hu Ke, um artista nascido em 1978 e já conhecido por algumas das suas esculturas, mostra em Lisboa dois trabalhos sendo que num deles, o seu homem sem cabelo surge sentado no topo de um livro que arde e para o qual ele olha assustado vendo as folhas que são consumidas pela chama.
“Purity, Purification” aborda conceitos que são transversais ao Ocidente e ao Oriente. No título da exposição, propositadamente deixado apenas em inglês e em mandarim, fixamo-nos nos caracteres – Puro. Ponto. Transformação. É este o ponto de partida. A exposição estará patente todos os dias até 14 de Janeiro de 2019.

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