Sinais II

[dropcap style≠‘circle’]H[/dropcap]á uma ideologia na nossa relação com o futuro. O facto de estarmos desde sempre já lançados na direcção de um futuro não está sempre presente. Essa consciencialização ocorre de diversos modos. Podemos reflectir activa e teoricamente sobre a relação entre espera e futuro. Mas é desprevenidos, contudo, que o futuro nos chega. Quando temos uma decepção e também quando dizemos que a “expectativa foi excedida”. A decepção e o “excesso” de satisfação transformam o modo como temos estados depostos na realidade. Fazem-nos perceber que estávamos a viver uma ilusão que foi desiludida ou então, mesmo numa determinada expectativa percebemos que a realidade nos ultrapassou e excedeu. Em ambos os casos na superação das expectativas ou na sua decepção percebemos que de algum modo estamos numa relação com o futuro. Não é, obviamente, apenas nestas circunstâncias que estamos numa antecipação de futuro. Estes casos são picos altos ou baixos que permitem compreender por contraste que fazemos experiência de vida orientados pelo futuro. O mais das vezes e primordialmente estamos precisamente à espera, à espera de que não haja novidades, de que as coisas sejam como até aqui. Há uma projecção do futuro que de algum modo prevê as coisas sem surpresas. A homogeneidade sem surpresas nem novidades nivela o quotidiano sem grandes expectativas ou esperanças mas também sem ânsia ou desespero. O “stress” vem da repetição contínua de tudo ser igual ao mesmo, sem a alteração que traga variedade ao que tem sido. Mas há uma ideologia na nossa relação com o futuro. A ideologia frisa uma possibilidade e tende a neutralizar a outra. Podemos estar sempre à espera de uma única coisa boa ou de coisas boas que estão por acontecer. Podemos estar à espera de uma coisa péssima ou de várias coisas más por acontecer. Há pessoas que esperam o pior, para se prepararem para o embate e o impacto que as coisas más têm nelas. Há pessoas que esperam sempre o lado positivo das coisas, mesmo que não sejam optimistas que esperem sempre o melhor de tudo. Há quem não espere nada. Há quem espere tudo. A acentuação de uma possibilidade em detrimento de outra define possibilidades existenciais ou cosmovisões. Há pessimistas e optimistas como há pessoas com sentido crítico nem pessimistas nem optimistas, mas realistas ou pragmáticas. Há quem prepare a guerra para viver em paz. Há quem viva continuamente na possibilidade iminente do conflito para poder ter sossego. Há quem viva a antecipar apenas o curto prazo de um dia de cada vez ou quem tenha visões de futuro a longo prazo. A nossa relação com o futuro é uma relação com conteúdos de futuro. A nossa agenda mental, virtual ou física tem a nossa realidade preenchida com o que fazemos, com quem nos encontramos, mais ou menos a curto prazo. A nossa agenda está mais cheia para as próximas semanas e meses do que daqui a uns anos. A relação com a forma do nosso futuro é diferente da nossa relação com os eventos futuros que estão por vir. Não é possível viver sem uma relação com o nosso futuro. As possibilidades de interpretação da relação com o nosso futuro são as que foram consideradas. Esperar tudo ou não esperar nada, esperar tudo o que mau ou esperar tudo o que bom, ser optimista ou pessimista, estar preparado para o que aí vem: a bonança ou tempos difíceis. A antecipação em que nos encontramos na nossa relação com o futuro é a da espera, da boa esperança ou da expectativa de um mal iminente e, por isso, é do futuro que vem a promessa e a ameaça. A promessa e a ameaça são sentidas já no presente e agem sobre o passado há pouco e há muito. E podemos perguntar como é o futuro sem nós o presenciarmos. Como será o futuro de quem conhecemos sem nós cá e o futuro dos outros que não conheceremos nunca e nunca teriam nada que ver connosco? Como será o futuro do crente que põe o seu coração da possibilidade intrínseca da fé em Deus e na vida eterna? O que é uma antecipação da vida eterna diferente da finita? É possível antecipar uma vida que não terá nunca fim como um grande domingo à tarde ensanduichado entre um sábado e uma segunda-feira que vai repetir sempre a vida que temos, em que nada se passa porque, embora não tenhamos medo, também já não esperamos nada? É possível uma antecipação baseada num futuro eterno que não é vago e vão de nós mas que terá um outro registo, onde não há assassinos nem criminosos, onde a vida é como a sonhamos, em que todos estarão como estiveram?

Do sonho em vigília sou acordado. Nada nunca muda, embora estejamos sempre à espera que alguma coisa aconteça que nos livre desta morte.

 

presença deste facto ocorre por contraste. Estamos habituados à passagem das horas nos dias a passar está

Os sinais dos tempos

Ocorre ocasionalmente uma lembrança de qualquer coisa a fazer no futuro.

Um “lembrete” do TM.

Ler a agenda

Saber o que se tem num dia

Antecipação do bom tempo e do calor dos dias e de como vai estar

Vêm aí dias mais duros

O pensamento de que as coisas são negras no meio como se antecipam

Aquilo por que ainda vamos passar

A espera do pior de tudo para aliviar o que temos

A compreensão de que nada é como achamos que vai ser

A espera pelo melhor de tudo

Tudo à nossa maneira, como queremos, a possibilidade de fazermos tudo o que nos apetece.

De onde vem a ideia de que tudo vai ficar mal ou de que tudo vai ficar bem

O que os outros nos dizem

Antecipação, antevisão, prognóstico.

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