Extremistas católicos criticam negociações entre Vaticano e China

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m grupo de extremistas católicos, a maioria oriundos de Hong Kong, criticaram ontem um possível acordo entre a China e o Vaticano na questão da nomeação dos bispos, principal fonte de discórdia entre os dois estados.

Numa carta dirigida aos bispos de todo o mundo, quinze extremistas afirmam estar “chocados” e “decepcionados” face à possibilidade de o Vaticano reconhecer bispos nomeados pelo regime de Pequim. “Caso [aqueles bispos] forem reconhecidos como legítimos, os fiéis no continente chinês serão mergulhados na confusão e dor, e criar-se-á uma divisão na igreja chinesa”, lê-se na carta.

Os extremistas lembram que o regime chinês sempre praticou perseguição religiosa. “O Partido Comunista Chinês (PCC), sob a liderança de Xi Jinping, já destruiu em várias ocasiões cruzes e igrejas, e a Associação Patriótica mantém mão dura sob a igreja”, acrescenta.

Pequim e a Santa Sé não têm relações diplomáticas, divergindo sobretudo na nomeação dos bispos, com cada lado a reclamar para si esse direito. A China tem cerca de 12 milhões de católicos, mas as manifestações católicas no país são apenas permitidas no âmbito da Associação Patriótica Católica Chinesa, a igreja aprovada pelo PCC e independente do Vaticano.

Milhões de católicos chineses estão, porém, ligados às chamadas igrejas clandestinas, constituídas fora do controlo daquele organismo estatal e que juram lealdade ao papa. Uma nova medida do Governo chinês, aprovada este mês, reforça o controlo das autoridades sobre as actividades religiosas e estabelece novas responsabilidades legais e multas. Um dos objectivos desta medida é precisamente combater as igrejas “clandestinas”.

“Xi deixou claro que o partido endurecerá o controlo sob as religiões. Não há possibilidade de a igreja desfrutar de mais liberdade. Além disso, o Partido Comunista tem um largo historial de promessas não cumpridas”, afirmam os extremistas. A carta apela à Santa Sé para que não cometa um “erro irreversível e lamentável”.

Vários órgãos de comunicação próximos da Santa Sé afirmam que um acordo entre ambos os Estados está pronto e pode ser assinado nos próximos meses, mas não se sabe ainda como será resolvida a questão da nomeação dos bispos. No caso do Vietname, país vizinho da China e também governado por comunistas, um acordo assinado em 1996 estabelece que a Santa Sé propõe três bispos a Hanói, e o governo vietnamita escolhe um deles.

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