Natasha Stankiewicz, bailarina e instrutora de aerial arts: “Coloane ajuda-me a respirar”

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]atasha Stankiewicz está quase a completar uma década, um aniversário redondo, desde que saiu da Polónia para se fixar em Macau. Quando chegou era uma jovem de apenas com 21 anos e com uma cidade completamente nova à sua disposição, onde não era difícil encontrar diversão e espanto. “Havia sempre sítios para ir, coisas a acontecer e com Hong Kong muito próximo ia lá com frequência”, conta.

Nos primeiros tempos, a bailarina confessa que as suas relações sociais se cingiam a estrangeiros, “não tinha grande conexão com os locais”. Algo que seria alterado através da arte a que se passou a dedicar e que partilhou com os locais.

Enquanto bailarina, Natasha Stankiewicz participava em vários espectáculos onde tinha de dançar suspensa em fitas, uma modalidade coreografada que se chama aerial. As suas performances aguçaram a curiosidade do público de Macau e foi frequentemente abordada para dar formação. E assim nasceu a Aerial Arts Association Macau.

Através da organização que fundou, Natasha Stankiewicz passou a integrar-se mais com os locais de origem chinesa. “Podemos ter uma língua diferente, mas ao trabalharmos juntos reparei que a cultura não é assim tão distinta, que no fundo somos todos iguais”, conta.

Hoje em dia, através da associação, a bailarina e instrutora começou a envolver-se cada vez mais com as pessoas treinam na associação de forma a poder servi-las melhor.

Através da prática do aerial, a polaca consegue motivar e ir de encontro às necessidades das pessoas. “O Governo diz que os trabalhos de gestão devem ir para os locais, mas eles nem sempre estão orientados para isso. Portanto, as nossas actividades agora destinam-se a fornecer qualidades de liderança, confiança, motivação e mostrar às pessoas que não é preciso ter medo de maiores responsabilidades.”

Respirar fundo

Os treinos de Natasha Stankiewicz resultam, com frequência, na participação dos formandos em espectáculos que acontecem em Macau. Para a instrutora, o aerial é também uma questão de superação, de ultrapassar medos e encontrar forças onde antes estavam fraquezas.

“Ao princípio, os treinos eram orientados apenas para pessoas com formação em ballet, ou artes circenses, era muito intensas em termos físicos”, conta. Porém, com o aumento da popularidade do ioga, e do exercício físico entre a população, Natasha Stankiewicz conseguiu demonstrar que “o aerial é para toda a gente”.

“O objectivo é chegar a um patamar mais elevado e as pessoas perceberem quais as suas limitações e a forma de as contornar”, explica a instrutora.

A bailarina entende que através desta actividade os instruendos ganham capacidades que se podem traduzir em melhorias na forma como desempenham as suas profissões, mesmo em empregos sedentários de escritório. A ideia de superação está fundada no mantra “quem consegue fazer aerial consegue fazer tudo”.

Outra das metas das aulas que Natasha Stankiewicz ministra é a busca do autoconhecimento. A própria bailarina, precisa de momentos de recolhimento, algo que, apesar de gostar do rebuliço da cidade, encontra apenas na tranquilidade de Coloane. “É um sítio onde se pode parar, que me ajuda a respirar e a sair da maluquice que é Macau”, conta. Estes momentos de recolhimento e introspecção são para a bailarina uma forma para se encontrar e reflectir sobre a sua vida. “No meio do barulho não há espaço para pensarmos em nós próprios, por isso, às vezes, preciso de silêncio”, reflecte a polaca.

Com quase dez anos de Macau, Natasha Stankiewicz não só deslumbra no palco e no ar, como ensina os locais a ganharem asas e voar.

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