Lok Hong, director do comité de preparação da 11ª Bienal de Design: “Macau é como uma página em branco”

A Bienal de Design de Macau avança a todo o vapor. Para a edição deste ano, passados dez dias da abertura do concurso, a organização recebeu cerca de 550 submissões de designers. O período de inscrição mantém-se aberto até 30 de Junho. Falámos com o jovem director da iniciativa, Lok Hong, ele próprio vencedor do evento em 2013

Quais são as expectativas para a bienal deste ano?

Na última edição, a 10.ª, tivemos à volta de dois mil participantes e este ano esperamos uma participação ainda maior de designers em competição. Só nos primeiros dez dias em que começámos a aceitar trabalhos para o concurso recebemos cerca de 550 submissões. É uma resposta muito encorajadora que revela grande interesse e adesão da classe pelo evento. Nesta edição temos como propósito maior oferecer um palco global para que os talentos mostrem a sua criatividade. Temos expectativas de receber trabalhos de muitos designers internacionais para a competição, queremos que este ano a bienal seja maior, que alargue o seu espectro. Desejamos chegar mais longe e tornar o evento num acontecimento global.

Quais são as novidades que destaca nesta edição?

Temos uma novidade importante que é a atribuição do prémio Macau Design Award of Best Branding. Acho que esta distinção é o resultado de uma realidade que temos vindo a registar. Penso que nos dias de hoje a atmosfera das indústrias criativas locais está a melhorar. Esperamos que este prémio possa inspirar os mais jovens para a criação da sua marca. Queremos escolher um caso de sucesso que ilustre a forma como o design de marcas pode criar valor comercial em Macau. Esta distinção é dada tanto à equipa responsável pelo desenho e concepção da marca, como ao cliente. Isto porque queremos premiar as conquistas da marca e encorajar a contribuição do cliente no projecto. Um grande projecto de branding não se esgota no aspecto do design, no visual do produto, também conta a estratégia comercial e o entendimento que o cliente tem do seu modelo de negócio. Nesse aspecto, ambos os lados merecem ser celebrados e distinguidos.

Pode dar-nos a conhecer um pouco o seu trajecto até chegar a director da Bienal de Design de Macau?

Fiz os meus estudos académicos, mestrado em Design de Marcas, em Londres, e depois voltei a Macau. Fui o vencedor da bienal de 2013. Nesse ano ganhei uma dezena de prémios e isso deve ter chamado a atenção da Associação de Designers de Macau, que me convidou para ser um dos membros. Até que este ano me convidaram para dirigir a bienal. Profissionalmente, sou uma pessoa que gosta de experimentar várias áreas e acho que posso fazer um bom trabalho aqui. Sou completamente apaixonado pela área do design e acho que Macau é uma cidade muito especial, pequena. É aliciante em termos criativos, apesar de não ser como Hong Kong, onde há um mercado enorme que oferece imensas oportunidades para trabalhar com empresas internacionais. Em Macau não se explora muito as potencialidades do design. É como uma folha em branco e, portanto, sinto que as possibilidades são infinitas para trabalhar neste ramo. Assim sendo, como não há um grande mercado estabelecido, há mais liberdade para os designers experimentarem.

De onde partiu o seu interesse pelo design? Houve algum episódio que o tenha marcado?

Sim, houve um acontecimento. Assisti à palestra de um designer muito popular em Hong Kong, Tommy Li, em que ele conta a experiência que fez com uma microempresa local onde aplicou técnicas de design para incrementar o volume de negócio. Os empresários sabiam produzir o produto, tinham esse know-how, mas não empregavam qualquer estratégia específica para gerir o negócio. O designer interveio nessa empresa e, com a sua ajuda, a microempresa expandiu o negócio exponencialmente, abrindo mais de 500 sucursais. Foi uma experiência. Percebi, então, que o design não se esgota na forma como dizemos o que sentimos, mas também se estende à maneira como pode afectar os comportamentos das pessoas no sentido social e, acima de tudo, comercial.

O lema da bienal deste ano é “design com valor”. Pode explicar o que significa este conceito?

É um conceito um pouco abstracto, talvez seja melhor dar alguns exemplos para elucidar do que se trata. No Japão, o design de embalagens faz crescer consideravelmente as vendas, procura-se satisfazer um gosto particular com um produto que tenha uma embalagem bonita da cultura “kawaii” [fofinho]. Este tipo de design tem um grande poder de atracção sobre os clientes e os produtos acabam por reinventar a sociedade, a dar-lhes outros moldes. Outro bom exemplo é o que se passa em Taiwan com o uso do design de propaganda para atrair jovens e para lhes apresentar marcas. Acho que o design vai muito mais além de uma mera forma prática de vender uma ideia, pode também ser uma ferramenta para criar oportunidades que se materializem em resultados comerciais, ou que acrescentem utilidade a algo. Isto é o que está por detrás do conceito “design cria valor”, porque o design, hoje em dia, está relacionado com todos os sectores da sociedade. Esta é a mensagem que queremos passar à comunidade e ao Governo de Macau, o design é um instrumento que pode melhorar a sociedade e ajudá-la a redefinir metas.

Foi a área que estudou. Esta foi uma proposta sua?

Sim, porque o meu interesse pende mais para a parte do branding. Nesse aspecto tenho muita sorte que o desenvolvimento do design em Macau esteja a crescer e a corresponder às exigências do mercado. Quando era estudante interessei-me muito pelo sector do marketing em Macau. Havia pouca coisa visível, nas ruas só se encontravam uns quantos pósteres interessantes, também tínhamos alguma boa artwork proveniente do Governo, mas não se via nada de especial que sobressaísse no ramo da publicidade e na área comercial. Mas hoje em dia basta andar na rua e olhar para os autocarros, ou para os arranjos que vemos nas montras para encontrar bons exemplos de design. Acho que essa evolução não é por acaso e se deve muito à influência da bienal e da Associação de Designers de Macau, que tem tido um papel formador mostrando às pessoas o que é bom. O design não tem de se limitar à área cultural, também o podemos aplicar as formas mais comerciais. Acho que esse foi o salto mais considerável nos anos mais recentes em Macau.

Como vê a evolução da Bienal de Design de Macau?

Este evento tem crescido muito rapidamente, de ano para ano. No princípio, a competição era dirigida apenas para locais e os juízes eram pessoas com alguma popularidade em Macau. Procuravam bons produtos que ganhassem a competição e coisa ficava por aí. Nos últimos cinco anos começámos a convidar juízes internacionais e temos cada vez mais designers de diversas proveniências a participar na nossa competição. O valor da nossa bienal tem crescido a um ritmo muito veloz. Hoje em dia, o nosso alcance vai muito além de Macau, chega ao Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos.

Quem são os juízes da bienal deste ano?

Temos três juízes internacionais que tive o prazer de conhecer pessoalmente. Quando estudei em Londres viajei por países como a Holanda, Alemanha e França. Na Europa há um grande mercado de branding e pósteres e também bons especialistas na matéria. Um dos juízes é o representante da agência LAVA, uma empresa de design de Amesterdão que tem uma subsidiária em Pequim. Esta empresa é muito popular no trabalho que faz de branding. Fizeram um belíssimo trabalho, por exemplo, no Museu de Design de Moscovo, assim como com o design da Cimeira de Segurança Nuclear. Temos também Steffen Knöll, de Estugarda, um excelente designer de pósteres de renome internacional que já expôs em Macau. O outro júri é Guang Yu, um jovem designer chinês muito talentoso. O trabalho dele é inspirador muito arriscado. Este ano temos três juízes internacionais bem diferentes, com estilos e visões diferentes.

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