Livros | Balanço da participação de Macau no Correntes d’Escritas

Não podia ter corrido melhor a primeira presença de Macau no principal festival literário português. O balanço é feito por Rogério Beltrão Coelho, editor, homem que há muito luta pela visibilidade da literatura do território. Para que se possa ir mais longe, é importante que as instituições percebam a importância de estar lá fora

[dropcap style≠’circle’]“M[/dropcap]ontadas nas línguas, as palavras viajaram. Atravessaram mares, lentamente, uma língua de cada vez; hoje desembarcam instantâneas, todas ao mesmo tempo. (…) A nossa língua, as nossas palavras, são por ali essa espuma. São palavras exiladas que subsistem nas vozes internas, pouco se fazem ouvir; há um ruído contínuo que urge traduzir, compreender.”

As palavras são de Carlos Morais José e foram deixadas no Correntes d’Escritas, o festival literário da Póvoa do Varzim que decorreu no final do mês passado e que teve, pela primeira vez este ano, a participação de um autor de Macau. Morais José levou a Portugal o romance “O Arquivo das Confissões – Bernardo Vasques e a Inveja”, uma obra lançada pela Livros do Oriente, de Rogério Beltrão Coelho e Cecília Jorge.

Para Beltrão Coelho que, nos últimos tempos, tem dinamizado a Associação Amigos do Livro em Macau, a presença do território no festival literário mais relevante de Portugal foi “extremamente importante”, o que, “aliás, foi salientado no discurso de inauguração pelo Presidente da República”. “Deu-se a conhecer aos escritores e ao público que existe uma literatura em Macau, uma literatura pujante e com um representante que, no meio daquela mesa, foi um dos mais aplaudidos e enaltecidos”, relata.

A sequência deste tipo de participações estará sempre dependente de convites de quem organiza os eventos, mas para que, em Portugal, se fale mais dos livros de Macau é preciso investir em iniciativas, e é necessário “o apoio institucional e a compreensão institucional”, algo que, “infelizmente, não se nota”.

“Parece que Macau não tem interesse em que, fora do território, se tenha uma imagem que vá para além do jogo, uma imagem cultural, da existência de uma literatura pujante e que interessa ao espaço de língua portuguesa”, lamenta o representante da associação.

“Macau é muito longe e ali predomina a cultura chinesa. Mas existe, talvez surpreendentemente, uma literatura escrita em português”, contou Carlos Morais José a quem o ouviu na Póvoa do Varzim, lembrando que se escreve do e no território desde os meados do século XVI até aos nossos dias. “Quer se queira quer não, quer se saiba ou não saiba, Macau ocupa um lugar singular na literatura portuguesa”, acrescentou o autor.

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