Radical USA ou No Future 2016?

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s teorias de supremacia racial – que como se sabe também se baseiam em dados estéticos e antropométricos – que têm aparecido associadas a Donald Trump são de um bizarrismo absoluto se nos decidirmos a julgar a beleza dos focinhos e o fulgor de inteligência que salta pelos olhos do próprio Trump, de Steve Bannon – o seu escolhido para White House Chief Strategist e conhecido extremista de direita, das três autarcas que chamaram “macaca” a Michelle Obama após cuidadoso exame à sua aparência e agora de Richard Spencer – líder do movimento neonazi americano – que apesar de um corte de cabelo de estética alemã dos anos 30 não esconde o sebo físico e mental.

Quanto aos primeiros peço desculpa por dizer isto mas por favor comprem um espelho antes de abrir a boca. Quanto a Spencer tudo isto é grave. Muitíssimo grave. As recentes imagens da conferência onde utilizou o termo “Hail Victory” e onde várias pessoas na audiência se exultaram com saudações nazis são, no mínimo, preocupantes. No radicalismo do seu discurso questiona-se se os opositores de Trump são pessoas – “Indeed, one wonders if those people are people at all”, exige que se viva no mundo que imagina – “We are the dreamers of the day, those who do not want our vision or even our fantasies to be escapes from reality. We want them to be the reality… We demand to live in the world we imagine”, faz a retórica do branco vitimizado (eu sei apetece dizer WTF) – “a white who takes pride in his ancestors’ accomplishments is evil, but a white who refuses to accept guilt for his ancestors’ sins is also evil”, prossegue em exprimir ódio por judeus ricos – “a wealthy Jewish celebrity bragging about the end of white men”, ataca a cor racial e considera que os esquerdistas são comunistas até confirmar o pior – “America was until this past generation, a white country, designed for ourselves and our posterity. It is our creation, it is our inheritance, and it belongs to us… They need us, and not the other way around… We are, uniquely, at the center of history… No one mourns the great crimes commited against us. For us, it is conquer and die… We were not meant to beg for moral validation from some of the most despicable creatures to pollutte the soil of this planet. We were meant to overcome, overcome all of it”, e acaba com – “Hail Trump. Hail our people. Hail Victory.”

O aparecimento desta eloquência de teor nazi, em discurso público, nos Estados Unidos junto com o crescimento da extrema direita numa Europa complexa apenas confirma que o mundo onde a intransigência é questionada, em que muitos de nós acreditamos e considerarmos como certo, está em perigo iminente. O New York Times publicou, à uns meses e antes do Brexit, um gráfico sobre o crescimento da extrema direita na Europa onde era possível de ver que os únicos dois países da Europa sem extrema direita reflectida em votos são Portugal e Espanha e que o país que se segue com o número mínimo é a Alemanha. Nesse mesmo gráfico pode-se também ver como Hungria a Áustria lideram uma tendência inquietante. Se Le Pen vencer as eleições francesas no inicio do próximo ano será mais uma afirmação dessa tendência e passaremos a olhar para o quinteto do conselho de segurança das nações unidas como a afirmação da manipulação de massas através de uma oratória de prepotência e conservadorismo do poder. Se Le Pen ganhar junta-se a Trump, Putin, Xi Jinping e Theresa May e neste momento torna-se essencial que, aquilo que muitos pensamos nunca vir a defender aconteça que é a continuação de Angela Merkel à frente da política alemã.

Para que o mundo possa manter alguma sanidade tem que haver tolerância, independentemente de opiniões políticas diferentes, religião, raça e género. Um mundo regido por déspotas é um mundo perigoso. Uma América onde alguém como Spencer aparece é uma América muito perigosa. Temos todos que fazer uma breve revisão da história e de alguns crimes contra a humanidade: A colonização de todo o restante mundo pelos europeus, durante séculos consecutivos, e sem números concretos de mortos (200 milhões?) ; Toda a escravatura no mundo inteiro sem números concretos de mortos (200 milhões?); A colonização da América pelos europeus com mais de 100 milhões de mortos; O “Grande Salto em Frente” de Mao Zedong com 45 milhões de mortos em quatro anos e mais uns calculados 33 milhões de mortos durante o resto da sua permanência à frente da China; O Holocausto com 17 milhões de mortos mais todos os outros horrores do nazismo de Hitler e calculados 65 milhões de mortos pela segunda guerra mundial; O genocídio de Holodomor com 7,5 milhões de mortos mais os restantes calculados 50 milhões de mortos do regime de Estaline; Gengis Khan com as suas conquistas pela força e calculados 40 milhões de mortos (10% da população mundial no seu tempo); A acção britânica na índia com calculados 27 milhões de mortos; A queda da dinastia Ming com 25 milhões de mortos; A rebelião Taiping na China com 20 milhões de mortos; O Império Romano e a sua queda com pelo menos 7 milhões de mortos; As invasões de Napoleão com calculados 4 milhões de mortos; A guerra do Vietnam com mais de 4 milhões de mortos; A guerra civil da Nigéria com pelo menos 3 milhões de mortos; O genocídio do Camboja com pelo menos 2,5 milhões de mortos; As bombas atómicas em Hiroshima e Nagasaki; Aleppo…

O infindável número de atrocidades onde a mesma retórica de Spencer da conquista, do nacionalismo, da imposição política ou da superioridade racial resultou em crimes horrendos contra a humanidade – os quais não nos podemos esquecer – foi aplicada, não é um bom prenúncio. Um ser humano é um ser humano com os mesmos direitos que todos os outros seres humanos. Não há melhor nem pior. A Europa não é a origem do mundo. Não há raças superiores. Não há religiões superiores. Os homens não são superiores às mulheres. As pessoas com escolhas sexuais diferentes não são pessoas doentes e etc… Este é o ano 2016 e não é 1949, 1933, 1928, 1206, 1769, 1635, 1850 e etc… Há-que entender isto.

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