O jogo de Mahjong – 搓麻將的女人

* por Julie O’yang

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]equim 2008 é o nome do quadro pintado pelo artista sino-canadiano Liu Yi 刘溢. Foi finalizado em 2005 e exposto no ano seguinte na Feira de Arte de Nova Iorque. Pouco depois foi postado na Internet e incendiou opiniões em todo o mundo. Muita gente defendia, incluindo internautas e críticos de arte, que neste trabalho estavam subjacentes mensagens de natureza política. Recentemente, na sequência da polémica em torno do Mar do Sul da China, o quadro voltou a ser notícia.
Antes de mais nada, reparemos bem na figura representada no quadro pendurado na parede da esquerda. Quem é este homem? É sem dúvida uma combinação de três antigos lideres chineses altamente carismáticos: Sun Yat-sun, Chiang Kai-shek e Mao Tsé-Tung. Vê-se que o rosto do homem tem uma mistura dos traços dos três. Mas qual será o significado desta representação? Do meu posto de vista, significa que a China, separada nas suas várias facções e, em conjunto, dá origem a uma situação insolúvel, frustrante, um puzzle de diferentes ideologias e identidades. Continuemos a observar a figura do quadro, porque existem mais aspectos importantes. É o único que está vestido, e olha com indiferença as mulheres em diversos estados de nudez.
A que tem tatuagens nas costas representa a China. À esquerda, intensamente concentrada no jogo, está a mulher que representa o Japão. Vestindo uma camisa e com a cabeça inclinada, temos a América. A que está deitada de forma provocadora, é a Rússia. E a rapariguinha em pé, do lado, é Taiwan.
E que dizer das peças que seguram? As peças visíveis da rapariga China, “Ventos de Leste”, significam o renascimento da China como potência mundial. Significam também, que o poderio militar da China já foi colocado sobre a mesa. A China parece estar bem posicionada, no entanto não conseguimos ver o resto do jogo. A mulher tatuada segura ainda algumas peças debaixo da mesa.
A América mostra-se confiante, mas lança um olhar a Taiwan para tentar ler a sua expressão e, ao mesmo tempo, parece querer sugerir-lhe qualquer coisa.
À primeira vista, a Rússia não aparenta interesse no jogo, mas se olharmos com mais atenção, um dos seus pés estica-se em direcção à América, enquanto com uma das mãos passa sorrateiramente algumas peças à China. Superpotências envolvidas em jogos duplos e trocas secretas. O Japão observa muito sério as suas peças, sem se dar conta das acções dos demais… E se estas mulheres tivessem estabelecido como regra despir uma peça de roupa sempre que uma delas perdia? Por isso há quem sugira que o pintor indica que a vitória final se travará entre a China e a América. E, embora a América tenha muitas capacidades, elas estão a jogar Mahjong, um jogo chinês, e não Póquer, um jogo ocidental. A América nem sequer se lembrou de cobrir o baixo ventre, enquanto joga contra a China segundo as regras chinesas, por isso será que tem alguma hipótese de ganhar?
Não há dúvida de que este pintor é um grande contador de histórias. Liu Yi: “…Pego nos sonhos das massas e faço magia com eles.”

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