Perfil PessoasAna Rita Amorim, tradutora e revisora Filipa Araújo - 3 Jun 2016 [dropcap style=’circle’]É[/dropcap] uma mulher do mundo e uma força da natureza. Ana Rita Amorim nasceu em Luanda, mas bem cedo voou para Portugal. “O meu pai era militar em Luanda e a minha mãe foi lá ter com ele. Por isso nasci lá, mas não estive muito tempo. Com três ou quatro ano voltámos para Portugal”, começa por contar ao HM. Ana Rita Amorim é tradutora e revisora no Museu das Telecomunicações e não tem dúvidas de que Macau é a sua casa. “Eu sou de Macau, sinto-me como macaense. Esta é a minha terra”, aprontou-se a colocar os pontos nos “is”. Foi aos 18 anos que Ana Rita, a viver em Portugal, decidiu “experimentar a vida”, fazer as coisas por ela. “Isto foi no início dos anos 90, foi numa altura em que Portugal ficou economicamente numa situação complicada, não se contratavam pessoas, era difícil arranjar um trabalho onde contratassem mais do que três ou seis meses. Havia trabalho, mas eram coisas temporárias, não nos dava segurança nenhuma”, recorda. Em 1997, surge a oportunidade de vir até cá. “Se não gostasse, sabia que passado dois anos com a transferência [de soberania] voltaria para Portugal, para ao pé da família. Pensei que seria uma experiência interessante”, conta. Sem ter de tratar de toda a burocracia inerente às fronteiras e documentação necessária, Ana Rita Amorim não hesitou e comprou uma viagem de vinda para Macau. “A ideia foi: ‘vou comprar um bilhete só de ida para me obrigar a ter que encontrar um trabalho lá para pagar o de volta’. Isto eu tinha de cumprir”, conta, mostrando o perfil de aventureira que tão bem a caracteriza. Do outro lado A chegada a Macau não se mostrou uma surpresa feliz. “Quando cheguei, odiei. Não gostei nada. Os dois primeiros três meses foram difíceis, não gostava de nada, estava tudo em obras, o clima não me agradava. Custou-me muito”, recorda. Contrariamente ao que pensava, a comunidade também não se mostrou fácil de conquistar. “A pessoa que chegava a Macau, nos anos 90, sentia-se quase que isolada. Existiam muitos portuguesas, mas parece que quase não os via. Sentia-me perdida e não falar a língua não ajudou”, aponta. A vida está sempre em mudança e, mesmo o que parece certo pode, de um dia para o outro, mudar. Foi isto que aconteceu com Ana Rita Amorim e a sua relação com o território. “Aconteceu uma coisa muito engraçada. Depois de arranjar trabalho e de me estar a tentar a habituar à vida de casa, saí de Macau, fui viajar. Nesta primeira viagem de férias, dei por mim a sentir falta das pessoas daqui e de Macau. Houve uma mudança em mim”, recorda. Amor para sempre Entretanto as amizades começaram a ser cada vez mais fortes. “Quando dei por mim tinha-me apaixonado por Macau, pelas suas gentes, pelo trabalho, pelo cultura”, assume. Mais do que isso, Ana Rita Amorim encontrou o amor, um amor que momentos antes de poder ir estudar para a Escócia a fez ficar por aqui. Um amor que trazia consigo filhos e que Ana Rita Amorim assumiu como seus. “São meus filhos, são os meus filhos, todos”, faz questão de deixar claro. Não esquece que depois da transferência da soberania o seu contrato de trabalho não foi renovado. “Na altura foi difícil encontrar emprego. Mas eu não podia ir embora, tinha aqui tudo, a minha família. Eu já era de cá”, explica. Entre trocas, foi nos Correios de Macau que assumiu funções nos últimos dez anos, estando nos últimos sete no Museu das Comunicações. Local em que, diz, adora trabalhar. Vencer sempre São 21 anos em Macau e de muita vida. “Eu já me sinto na cultura aqui, por exemplo, a minha passagem do ano é no Ano Novo Chinês. Visto-me de vermelho. As tradições que sigo são as de cá”, partilha. Quem conhece Ana Rita Amorim percebe que a energia vive nela. Apaixonada por desporto, a tradutora não se recorda de uma modalidade que não tenha praticado. Aficionada por futebol, com 43 anos, é jogadora na equipa feminina de Macau Show di Bola. Mas, desengane-se quem ache que isto é tudo. É que Ana Rita não passa sem um bom treino de Crossfit. “Adoro desporto”, reforça. O amor é tanto que a jogadora gostaria de passar para treinadora. “No futuro gostava de tirar um curso de treinadora de futebol ou assistente. Acho que Macau não investe muito na parte feminina do futebol. As mulheres jogam até muito tarde com os homens e depois são um bocadinho largadas. Gostava de pegar nessas jogadoras e trabalhá-las. Isto tem futuro em Macau, porque aqui é um ponto de culturas”, remata. Mãe, mulher, profissional e atleta, Ana Rita Amorim veio para ficar e daqui não sai.