Perfil PessoasJosé Macedo, arquitecto Filipa Araújo - 6 Nov 20156 Nov 2015 [dropcap style=’circle’]J[/dropcap]á viveu em quase todos os continentes. O Rio de Janeiro foi, e continua a ser, a sua cidade de eleição. José Macedo, um português a viver na Ásia desde 2010 não controla o brilho no olhar quando relembra o Ipanema, a água de côco e a bossa nova. O mundo gira e com ele gira também a vida. Quis o programa Inov Contacto trazer o arquitecto para Hong Kong e foi lá que ficou por quatro anos seguidos. “Vim nesse programa para Hong Kong, mas o ano passado fui convidado para pertencer ao projecto do Galaxy e abracei essa aventura”, conta ao HM. Porque não há coincidências, quis o acaso que a conversa do arquitecto com a equipa do HM acontecesse no dia em que José Macedo comemorava um ano de estada neste território. “A verdade é que é muito pouco comum alguém passar de Hong Kong para Macau, o mais habitual é o contrário. Confesso que é um trajecto que poucas pessoas fazem, mas como eu gosto de experimentar e já vivi em quatro continentes decidi arriscar”, conta. Na região vizinha, José Macedo trabalhava na área de arquitectura empresarial e decidiu experimentar “trabalhar para o cliente”. Música no coração No saco das paixões, carrega o gosto e a dedicação pela música. O brilho no olhar volta a invadir a nossa conversa e José Macedo explica que a dada altura, durante a sua permanência em Hong Kong, sentiu carência “de festas mais indie, mais alternativas”. Pela necessidade nasceu um duo de DJ. Com um amigo, de origem espanhola, nasce um projecto que vem trazer, ou pelo menos tentar, aquilo que os amigos procuravam. “Começámos devagar, passo a passo, até que começámos a ser convidados para festivais de música e festas. É um bichinho que sempre tive”, partilha. A chegada a Macau pareceu-lhe agridoce. “Não gostei logo de Macau porque tirou-me esta parte da minha vida na música. Sabia que não ia encontrar aqui o mesmo que estava a fazer em Hong Kong, mas, também sabia, que há sítios em que as coisas não vêm ter contigo de forma natural, tens de as procurar ou criar. Macau dá-te essa oportunidade. A oportunidade de criares. Só falta que as pessoas sejam abertas e aceitem”, assina. Locais como a Live Music Association, ou bares de música mais alternativa foram os espaços escolhidos pelo arquitecto. Ainda assim, nos momentos de mais calma é Coloane que se destaca. “É um sítio que dá para te refugiares um bocadinho”, remata. Paraíso fiscal Assumindo que tudo depende de pessoa para pessoa, José Macedo, entre gargalhadas, assume que olha para Macau como um “paraíso fiscal”. “É fácil viver aqui e tens alguma qualidade. Tudo depende de pessoa para pessoa. A mim, Macau não me preenche a 100%, mas vejo que há muitas pessoas que, por tudo o que o território é, se deixam estar e ‘metem as pantufas’, ficam acomodadas. Faltam algumas coisas aqui”, partilha. Uma grande escola de artes seria ouro sobre azul para o território. “Isso iria trazer novas visões, novas experiências e, mais que isso, espírito crítico”, aponta. O crescimento veloz da cidade exige alguma preparação, organização, criatividade e “de novo o espírito crítico”. Paciência de chinês Ainda no mundo da música, durante o ano que marcou a sua passagem por aqui, José Macedo foi conhecendo pessoas e projectos locais. Uma maior aposta no que é local e bom deveria fazer parte dos planos de quem manda, defende. Para o arquitecto não se pode desistir, e quem quer vingar terá de ser muito paciente e tentar, “tentar sempre”. Assumindo-se como “um bicho da Taipa”, José Macedo lamenta não ter tido muito tempo para conhecer o verdadeiro lado de Macau. “Se vives e trabalhas na Taipa vives o que aquilo é, e lá não é o que de Macau tem de verdadeiro”, aponta. A compra de uma mota ajudou a colmatar as escassas visitas, brinca. “Tive de facto mais acesso e fui descobrindo aos poucos, gostei”, remata. Por razões pessoais, José Macedo deixa, em breve, Macau para trás. Consigo leva momentos, muitos momentos, pessoas e aprendizagens para a vida. Voltar nunca será carta fora do baralho, mas neste momento não existe uma resposta. Por enquanto a única certeza com que nos deixa é a saudade.