Perfil PessoasGemmany Cheong, artesã Flora Fong - 11 Set 2015 [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma pessoa pode ter vários papéis. Quando não se conhece e se olha para Gemmany pela primeira vez, podemos achar que esta jovem é apenas uma secretária normal de uma empresa normal, que entra e sai de trabalho à mesma hora normal de todos os dias. Que gosta de maquilhagem e de pintar as unhas. Mas esta jovem de 26 anos faz coisas que a maioria de nós não faz. “De dois em dois dias, vou alimentar os cães abandonados em vários sítios de Macau com comida cozinhada pela minha mãe, nas noites depois do trabalho.” Já há algum tempo que a mãe da jovem faz arroz com frango todas as semanas, pondo a comida em caixas para que Gemmany se dirija aos locais onde se passeiam animais vadios e possa alimentá-los. Sempre que alimenta um animal, ela passar a conhecer bem os sítios onde vivem os cães abandonados em Macau – normalmente vai às zonas da Areia Preta, das Portas do Cerco e aos lotes de construção desocupados. É possível que este interesse da jovem tenha surgido por causa da mãe, que adora cães, e passa este gosto aos familiares. “Agora temos oito cães e um gato em nossa casa. A minha mãe começou por adoptar primeiro o cão de uma vizinha quando eu andava na escola primária. No início, o meu pai não gostava de ter tantos cães mas, passo a passo, a mãe convenceu-o e ele aceitou. Desde então, adoptámos cada vez mais animais nos locais de construção e noutros sítios”, conta Gemmany ao HM. Um dos oito cães foi também encontrado mais recentemente pela sua mãe na rua. Ambas tentaram durante muito tempo procurar um novo dono, mas não conseguiram, pelo que resolveram levá-lo para casa, sendo este agora mais um membro da família. Se a despesa com os animais é grande? Gemmany não acha. “É apena comida e champôs para tomar banho. O dinheiro gasto é limitado, não é muito.” Trabalhos diversos Há vários anos, a jovem começou por dar atenção a cães abandonados quando trabalhava como uma espécie de cabeleireira numa loja de animais. Gemmany não percebia como é que alguns donos podiam ser tão cruéis para com os seus bichos e surgiu, então, a ideia de os ajudar, através da criação de uma página no Facebook denominada “I See You”. E foi também aqui que a jovem encontrou a sua nova vocação. “Como sempre gostei de fazer arte, comecei a fazer peças de artesanato. Depois de vendidas, o lucro que faço pode ajudar a comprar comida para os cães abandonados” explicou. As peças de artesanato são normalmente instrumentos para gatos e cães, gravatas, molduras, roupas e objectos de decoração, que são colocados à venda num canto especificamente feito para “I See You”, na loja de animais onde trabalhava. Mas como este não é o seu trabalho a tempo inteiro, o lucro não é estável. Felizmente, Gemmany consegue todos os meses doações em dinheiro e comida para os cães. “Normalmente são os clientes da loja que me conhecem e têm sempre vontade de doar comida à ‘I See You’”, conta. Amor em tempos de abandono Nos tempos livres, Gemmany frequenta cursos de formação de software de design, mas a vida desta jovem não podia ser contada sem se falar dos animais. Gemmany gasta todos os fins-de-semana a dar banhos aosn cães. Olhando para o futuro, não tem planos para suspender a alimentação dos cães abandonados, a criação de artesanato ou, obviamente, deixar de ter os oito cães e o gato que pertencem à sua família. A criação de artesanato começou em Outubro do ano passado, ainda que, como lamenta, o tempo seja escasso para a criação, já que o seu trabalho de secretária não lhe permite total dedicação. Mas a jovem nunca parou ou parará de ajudar os animais. A página da rede social que criou ajuda também os donos a procurar os animais perdidos nas ruas, partilhar ofertas e pedidos de comida para cães abandonados de forma a alertar a consciência dos outros e tenta também ajudar a procurar donos para os animais, cooperando com a Associação de Protecção de Animais Abandonados (AAPAM) e o Canil de Macau. Algo que pode não ser fácil. “Uma vez, uma cadela teve seis bebés num local de construção. Tentei com muito esforço e havia muitas pessoas a mostrar vontade de adoptar pelo facto de eles serem de graça. Mas, depois, começam a pensar e muitos contactaram-me a dizer que já não conseguiam adoptar por diversas razões. Este problema é comum e frustrante.” Através do Facebook, a jovem quer ainda promover o conceito da substituição de compra de animais por adopção. Na opinião da Gemmany, a alimentação dos cães abandonados é um trabalho significativo e a vida de Gemmany é, por isso, gratificante. “Eles agradecem-me por encontrá-los e lhes dar amor e comida. Acredito.”