O que se ganha, o que se perde

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação Novo Macau é um excelente case-study para quem estiver interessado em compreender a sociedade chinesa local e o modo como se tem, descontinuamente, modificado.
Fundada algures em finais de 80 por Ng Kuok Cheong, a associação tornou-se conhecida por assumir posições pró-democracia, na ressaca de Tiananmen. Juntou-se-lhe Au Kam San, que surgiu com um discurso ainda mais radical. Os dois marcavam o espaço público pelas referidas posições políticas e pelo facto de não estarem ligados a nenhum dos núcleos de poder tradicional. Foi um sucesso.
Com o passar do tempo, surgiram novas caras na ANM, gente mais nova que rapidamente assumiu funções importantes na associação, começando a vocalizar e agir de modo diferente. E quais foram essas as grandes diferenças? Basicamente duas: primeira, a defesa de causas fracturantes do ponto de vista moral, como o casamento gay, os direitos dos transexuais, entre outras; e, segunda, os métodos de acção mais públicos e frequentes, muito influenciados pelo ambiente agitado de Hong Kong.
Como se sabe, a ANM teria algum apoio de sectores católicos da sociedade chinesa, nos quais não caem certamente bem alguns “excessos” de activistas como Jason Chao. Por outro lado, é algo estranho que não tenham surgido personalidades de charneira, mesmo em termos de idade, entre os actuais rapazes fortes da ANM e os deputados que acabaram de fundar uma outra associação, marcando de vez uma linha muito clara entre eles e os outros. Parece estarmos perante um gap geracional, de difícil explicação.
Contudo, se pensarmos bem, facilmente concluiremos que a sociedade de Macau conheceu uma fortíssima ruptura, nos anos 90 e seguintes, o que fez com que uma geração tivesse crescido muito distante da que a precedeu. Daí que Ng Kuok Cheong e Au Kam San não se entendam nem concordem com Jason Chao e Scott Chiang. É certo que todos continuam a desejar mais democracia, mais responsabilização dos titulares dos cargos, eventualmente sufrágio universal. Ou seja, em termos de política pura e dura não me parece que os objectivos sejam muito diferentes. E, no entanto, não se entendem…
Parte desta falta de entendimento passará, creio, pela própria linguagem e referências, que são basicamente muito diferentes nas duas gerações. São estilos que não convivem bem na mesma sala. A ver vamos como, nas próximas eleições, se vai organizar o baile.
Mas o mais interessante disto tudo é que este fenómeno não se deve limitar à ANM, a uma única associação mas ser transversal em Macau. Deve ser vivido no seio das famílias, nas empresas e no próprio Governo. Resta saber o que se ganhará. O que se perde é diário nas nossas vidas.

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