Perfil PessoasLiliana Noronha Medalha, professora de Português Filipa Araújo - 31 Jul 20153 Ago 2015 [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]asceu nas Caldas da Rainha mas bem cedo se mudou para a capital portuguesa, Lisboa. Licenciada em Línguas e Literaturas Clássicas e mestre em Ensino de Português como Língua Segunda e Estrangeira, Liliana Noronha Medalha decidiu arriscar e concorrer a uma vaga disponível para docente no Instituto Português do Oriente (IPOR). “Cheguei a Macau no final de Maio do ano passado”, relembra a jovem professora. Em conversa com o HM, Liliana, sempre de sorriso tímido, mostrava-se atenta ao que ao seu lado acontecia. Uma criança empoleirada na cadeira a espreitar para a professora, uma mãe concentrada no telemóvel, um empregado de mesa que pouco percebia e falava Inglês. Liliana ri-se e comenta: “o mais estranho foi isto tudo”. Assume-se como “perfeitamente adaptada”, mas consciente de que Macau não será um local onde vai ficar durante muito tempo. A sua ligação com o estilo europeu é inegável e isso nota-se a cada palavra que a professora diz. “Sim, gosto muito da Europa, apesar de Macau ser a primeira experiência fora das fronteiras portuguesas, portanto não tenho termo de comparação. Mas identifico-me muito com o estilo europeu”, partilha. Vir para “o outro lado do mundo” nunca foi ideia que passasse pelos planos da docente de Língua Portuguesa. “É engraçado não é? Nunca pensei, nunca me tinha passado pela cabeça vir para a Ásia, nunca esteve nos meus planos, mas com a situação económica de Portugal quando vi a vaga disponível quis arriscar, e aqui estou”, explica. Diferenças acentuadas As diferenças culturais são notórias, não fosse estarmos na China. “O primeiro impacto são as diferenças, em tudo. Comportamentos das pessoas, o clima e tantas outras coisas. Mas no início tudo é surpresa, tudo é novo, assumimo-nos como turistas, parece que as coisas não são reais”, partilha Liliana, depois de conseguir pedir o almoço, numa mistura de Cantonês com Português e Inglês. Canalizando o nervosismo da sua “primeira entrevista” para o garfo que tinha nas mãos, Liliana volta a olhar para a crianças e diz-nos “depois, quando assumimos que vivemos em Macau, que não somos turistas, temos de saber lidar com essas diferenças, porque elas podem ser boas ou más, dependendo da nossa capacidade de gerir [as situações]”. Amores meus Sem esconder, Liliana Noronha Medalha conta que a maior motivação para aguentar as saudades que sente de casa e da sua família são os seus “miúdos”. O amor pelo ensino sempre esteve muito presente na sua vida. “Adoro dar aulas, adoro os miúdos”, conta, acrescentando que tem turmas de várias faixas etárias, dependendo dos cursos, mas que maioritariamente são adolescentes “que em breve vão para Portugal” que ensina. “Essa troca de informações é muito simpática. Falamos muitas vezes sobre a minha experiência como portuguesa, a viver em Lisboa. Como eles vão para lá agora é giro”, explica. Mas o mais interessante é saber “que os alunos são todos iguais seja em que país for”, ainda que haja claramente “um maior respeito pela figura do professor aqui em Macau”. Os hábitos e posturas na sala de aula trouxeram a Liliana histórias para a vida. “No início, estava cá há pouco tempo, e os miúdos comiam na sala, mas não era uma espécie de snack, eram bolas de peixe, ou fast-food, comida de faca e garfo”, partilha, entre risos. “Não sabia muito bem como reagir, mas assumi que era uma coisa natural para a cultura chinesa. Foi um jogo de adaptação entre mim e eles”, acrescenta. Amizades no território Não foi difícil para a docente “conhecer pessoas” e a própria garante que, entre portugueses, é fácil conhecer muita gente. “Mas acredito que seja um bocadinho mais difícil criar relações de profunda amizade. Para aqueles que ficam aqui um período de tempo”, defende. Ainda assim, em pouco mais de um ano, Liliana já tem amigos com quem irá tentar manter relação, seja onde for. Nos seus tempos livres, aos fins-de-semana ou até ao final do dia, o que mais sente faltam são “cafés ou esplanadas” em que possa estar e descomprimir de um dia ou semana de trabalho. Ainda assim, na falta desses espaços, a jovem professora gosta de partilhar momentos com os amigos, nas suas casas ou em lugares em que todos possam estar tranquilos. “Não é importante os sítios, mas sim os momentos que partilhamos todos juntos”, remata. Apesar de Macau não fazer parte dos seus planos a longo prazo, e “embora toda a gente diga isso”, Liliana está convicta que isto será uma experiência para vida.