IPM | Arrancou ontem a 4ª edição do “Verão em Português”

Ajudar professores chineses a leccionar a língua portuguesa é o objectivo de mais uma edição da iniciativa “Verão em Português”, que está a decorrer no Instituto Politécnico de Macau. Para Carlos André, o curso marca uma etapa decisiva do ensino do idioma no Continente e poderá definir a qualidade que terá no futuro

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]eve início ontem a quarta edição do curso “Verão em Português”. A iniciativa, a cargo do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa (CPCLP) do Instituto Politécnico de Macau (IPM), dá assim continuidade ao projecto que traz professores de Português do Continente para uma semana de formação.

O objectivo, diz Carlos André, director do CPCLP, é poder desenvolver o ensino da língua na China colmatando as necessidades dos docentes. “O curso foi projectado de acordo com as necessidades que nos são apresentadas pelos professores de Português no interior da China”, referiu o responsável durante a cerimónia de abertura da formação.

Dos conteúdos a leccionar, a organização tem o cuidado de que vão ao encontro das dificuldades. “Como são necessidades muito vastas há sempre o cuidado de organizar a formação de uma forma muito abrangente. Temos alguns módulos de formação nas áreas da cultura e da literatura, e depois uma insistência muito grande na área da língua.”

Entre as maiores dificuldades apontadas pelos nativos de língua chinesa que se dedicam ao ensino do português, Carlos André sublinha a fonética e a gramática. “Neste curso abordamos a formação para a fonética, que é um dos problemas muito sérios dos professores de Português que são falantes nativos de chinês e os problemas das estruturas. A estrutura da língua chinesa e da língua portuguesa são substancialmente diferentes”, salienta. Este ano, o curso conta com 22 participantes. Se normalmente são professores do Continente, esta edição conta com dois formandos de Macau. Para Carlos André, esta situação é natural, porque quando se trata do ensino do português, “os problemas são os mesmos para todos”.

Uma etapa decisiva

A língua portuguesa já é ensinada há muito na China Continental. Começou a ser leccionada nos anos 1960 no Instituto de Rádio Difusão de Pequim e, pouco tempo depois, na Bei Wai de Pequim. Mas o ensino da língua teve uma interrupção ainda nessa década. No entanto, neste momento está, de acordo com Carlos André, num ponto decisivo do seu desenvolvimento.

“A verdade é que, se pensarmos quando é que o português começou a ter este crescimento forte, não foi há tantos anos assim. Foi apenas há dez anos que começou a crescer e a etapa actual é decisiva.” Carlos André explica: “É uma fase em que o que nós fizermos agora vai determinar a qualidade do português no interior da China para os próximos anos. O que tem de ser feito tem de ser feito já. Este é o momento em que as coisas arrancaram e precisam de ser consolidadas. É exactamente nesse ponto que estamos, no ponto a seguir aos primeiros passos, no momento em que a criança começou a caminhar, mas ainda cai muito”, refere o responsável.

As necessidades actuais são dirigidas em três sentidos: é preciso mais formação, são necessários materiais e há que consolidar a rede entre as universidades chinesas e o CPCLP.

Destes três anos de trabalho, o CPCLP tem um balanço muito positivo. “Neste momento há cerca de 180 professores de português no Continente, uma grande parte deles, mais de 100, são chineses e todos eles conhecem o centro”, afirma Carlos André.

O total de formandos a que o centro deu apoio até agora já anda na casa dos 200 e o número de horas de formação em Macau e no interior da China já passa as 1800, em cerca de 30 universidades.

Para já, só é possível formar uma turma, mas no futuro poderá ser diferente. “Quando chegarmos ao momento em que possamos ter duas turmas de 20 formandos no curso de Verão, seguramente que iremos fazer níveis de formação diferente.” Este ano, a divisão já está parcialmente a ser posta em prática. Os 22 alunos vão ser divididos duramente o período lectivo da manhã em duas turmas.

Carlos André afirma ainda que, em breve, haverá notícias de um novo projecto que estará pronto a ser divulgado.

 

 

Português é uma mais-valia

Helena Wu está pela segunda vez a frequentar o curso “Verão em Português” que decorre até ao dia 21 no Instituto Politécnico de Macau. Para a professora de língua portuguesa na Universidade de Nankai, as dificuldades ainda são muitas e esta formação representa uma forma de as ir colmatando. “Na China temos falta de materiais didácticos de formação de professores e este curso ajuda muito”, afirma. Helena Wu não deixa de referir o crescente interesse pela língua portuguesa por parte dos alunos do Continente. A razão, aponta, é simples. “Já é um facto. O português significa emprego na China”.

14 Jul 2017