Indústria de viagens | Macau procura distanciar-se de Hong Kong

Macau tem tentado convencer a indústria de viagens de que os protestos em Hong Kong não estão a afectar o território, encorajando pacotes turísticos que excluem a ex-colónia britânica

 

[dropcap]N[/dropcap]uma altura em que Hong Kong assinala quatro meses de protestos marcados pela violência nas ruas, os Serviços de Turismo de Macau têm encorajado agências de viagens no sudeste asiático a lançar pacotes que incluam Macau e mais duas, três ou até quatro cidades chinesas da província de Guangdong. A estratégia foi apontada numa resposta à Lusa pela própria Direcção dos Serviços de Turismo (DST), no mesmo dia em que é conhecido o número de entradas no território durante a “semana dourada”.

Nos primeiros sete dias de Outubro, Macau recebeu 984.996 visitantes, um aumento de 11,5 por cento face a igual período do ano passado, segundo dados oficiais divulgados ontem, que não discriminam, contudo, o número de turistas e de excursionistas. São estes últimos – que chegam a Macau através de um pacote muito popular entre agências chinesas e no qual Hong Kong está incluído – que mais preocupam as autoridades.

Em Agosto, mês em que os protestos em Hong Kong chegaram a paralisar durante dois dias um dos mais movimentados aeroportos do mundo, as viagens em grupo para Macau registaram uma queda de 18,7 por cento, de acordo com a DST.

Nesse mesmo mês, o número total de visitantes cresceu, mas a ritmo lento, sublinhou o mesmo organismo. “O número total de visitantes em Agosto registou um crescimento homólogo de 6,5 por cento, o que representa uma diminuição significativa em comparação com o crescimento de 16,3 por cento registado em Julho”, vincou a DST, na resposta à Lusa.

De portas abertas

Os protestos na antiga colónia britânica são “a principal razão” identificada pela DST, que para inverter os números tem representantes no estrangeiro a contactar diferentes agências garantindo que Macau “está em pleno funcionamento”.

Os novos pacotes, promovidos pela DST junto das agências de viagens asiáticas, como na Malásia e na Tailândia, contemplam Macau e as nove cidades da província chinesa de Guangdong que fazem parte do projecto da Grande Baía.

Algumas agências de viagens do mercado indiano reforçaram também a promoção de produtos para Macau, utilizando como escala cidades no sudeste asiático com voos directos para o território.

9 Out 2019

Duas residentes de Macau mortas em acidente na Austrália

[dropcap]U[/dropcap]m acidente entre um carro particular e um autocarro de turismo causou a morte de duas residentes de Macau, a norte de Perth, na Austrália. Esta noite estava igualmente uma outra residente, de 23 anos, internada num estado considerado grave, mas que não coloca a sua vida em risco. A tragédia aconteceu no Sábado, pelas 14h00 de Macau, quando o Nissan SUV tripulado por uma das residentes locais tentou atravessar um cruzamento, na estrada Indian Ocean Drive, em direcção às rochas Pinnacles. Esta é uma das atracções turísticas mais famosas do Parque de Nambung, que fica a 190 kilómetros a norte de Perth. Terá sido nessa altura que a colisão com um autocarro de turismo, que tinha no interior 34 passageiros, aconteceu.

O impacto fez com que o carro em que as turistas de Macau circulavam capotasse e fosse arrastado pelo autocarro durante vários metros. Quando as equipas de salvamento chegaram ao local, uma das residentes já estava morta e outra acabaria por morrer já no hospital. O transporte foi feito de helicóptero.

A residente de 23 anos que se encontra em estado grave, mas estável, está no Hospital Royal Perth, onde já está a ser acompanhada por funcionários do Consulado da China em Perth.

O acidente causou igualmente feridos ligeiros entre alguns dos tripulantes do autocarro que foram socorridos e receberam alta poucas horas depois.

 

“Mau cruzamento”

Horas depois do ocorrido, o superintendente da Western Police Australiana lamentou a tragédia, de acordo com a Rádio ABC. “Segundo as informações que temos, as pessoas que infelizmente perderam a vida ocupavam o lugar do condutor e do pendura”, disse Domenic Wood, à Rádio ABC. “É um cruzamento mau… E claro quando há um choque lateral há sempre o risco de ser fatal, especialmente quando o choque é com um veículo pesado”, explicou sobre o ocorrido.

A polícia australiana sublinhou ainda a importância de prestar auxílio às famílias dos envolvidos, que no Sábado foram apenas identificadas como chinesas. Só ontem, em comunicado, é que o consulado chinês em Perth confirmou que as vítimas são residentes de Macau. Segundo a mesma informação, o consulado vai cooperar com as autoridades australianas e prestar todo o auxílio necessário aos familiares das vítimas.

Nos últimos anos a estrada em questão, que abriu em 2010, tem sido um local com vários acidentes. Em Dezembro do ano passado dois turistas chineses haviam perdido a vida num acidente que aconteceu no mesmo cruzamento.

16 Set 2019

O lugar de todos nós

[dropcap]E[/dropcap]stive há pouco tempo no Alentejo, perto de uma semana, na casa de uma amiga. Tirando a quase completa ausência de elevações, o cenário e ambiente são-me muito familiares; como já tive oportunidade de escrever em diversas crónicas, para enfado ou desespero dos meus três leitores, os meus pais são do Algarve profundo, aquele que volta costas ao mar com o desprezo de um toureiro ante um touro anoréctico. Esse Algarve é em tudo semelhante ao Alentejo. Diz aliás o ditado que um algarvio é apenas um alentejano sem travões.

O sossego que se sente naquelas planícies borbotando de calor é apenas interrompido pela inoportuna consciência das obrigações ancoradas em Lisboa e subitamente desprovidas de qualquer sentido. Parte da perfeição – ou imperfeição – do Alentejo é a anisotropia geográfica na distribuição de internet (perdoem-me, mas sempre quis escrever isto). Na mesma localidade há zonas apetrechadas com rede móvel de dados suficiente para três dias de Pornhub, ao passo que, apenas dois metros para a direita de onde se está, o sinal é tão fraco que um indivíduo se vê obrigado a mover o aparelho em todas as direcções na busca de um pauzinho de rede.

Para mitigar essa dificuldade há as vendas e os cafés, museus vivos dessa forma de estar do Alentejo onde agora, entre uma prateleira de garrafas empoeiradas e um calendário do talho Gomes, se exibe com desarmante naturalidade e algum orgulho a password do wifi.

À cata de sinal aportei no café Botas, no qual se servia um café muito aceitável e se navegava a cerca de 20 Mbps. Cumpridas as formalidades dos mails, fui descendo de degrau em degrau para a cave da procrastinação até dar por mim a fingir interesse na compra de tubagens galvanizadas para escoamento de águas residuais em climas frios.

Quando tomei consciência da ausência neuronal – que se instala de forma tão insidiosa como subtil – resolvi arrumar a trouxa, contar os trocos para pagar os dois cafés consumidos e fumar o cigarro abaladiço. Lá fora sob o toldo absolutamente necessário, um sujeito não parava de fazer chamadas no telemóvel. Era para – suponho – um oficial de justiça, com o qual falava sobre a mulher e o filho de ambos que esta tentara matar, era para alguém a quem se queixava de estar a ser alvo de extorsão monetária, era para um rapaz que prometia perfilhar e a quem dizia estar a beber uísques desde as oito e meia da manhã e era, acto final, cai o pano, para a ASAE, queixando-se de no Botas não lhe terem facultado o livro de reclamações.

Estava obviamente bêbedo. Há muito, no entanto, que não via um bêbedo tão hiperactivo e capaz de diversificação no investimento, como soi agora dizer-se nos corredores da banca.

Movido pela curiosidade das crianças e/ou dos idiotas, resolvi ficar mais algum tempo. Lá dentro, uma senhora acercando-se da ribanceira da idade e muito versada em vinho branco confessava a um casal de amigos espanhóis a frustração por ver no marido tanta coisa – amigo, pai, irmão, filho – menos o marido com o qual ela se casara e que misteriosamente desaparecera, um dia qualquer, como a geada matinal num dia de Verão.

De repente, já não estava no Alentejo mas numa secção do Correio da Manhã. Em potência, pelo menos. Aquela na qual levantada a saia do crime horrendo transparecem as tão humanas frustrações que nos levam a limites mais ou menos concretizados de violência e arrependimento.

Aquele Alentejo, aquele café, aquele rapaz dramaticamente conversador e aquela mulher em psicoterapia artesanal já os vi em todo o lado. Já os vi no rosto dos meus amigos. Já os vi ao espelho.

6 Set 2019

Ip Sio Kai apela à aposta nos bairros típicos para dispersar turistas

[dropcap]A[/dropcap] regulação do turismo local não deve ser feita através de uma taxa ou da limitação de visitantes, mas melhorando a gestão com medidas como as que se aplicam no interior da China, defendeu ontem Ip Sio Kai.

O deputado aproveitou o período de intervenções de antes da ordem do dia para fazer algumas sugestões. Entre elas, a aposta na dinamização dos bairros de Macau para distribuir os visitantes para outras zonas fora do centro histórico.

Para isso, “basta pintar uma parede e adicionar elementos artísticos” nas ruas dos bairros de Macau que atraiam visitantes mais jovens “para irem tirar fotografias”. Se se adicionar e este factor, a participação das lojas, com a oferta de “petiscos”, “toda a rua fica dinamizada”. Para Ip Sio Kai a “tarefa é muito simples” e suficiente para diversificar o turismo nos bairros de Macau menos visitados, porque “as ruas pedonais com petiscos e lugares para tirar fotos são paragens obrigatórias para os jovens”.

O deputado insistiu ainda na necessidade de organizar o tráfego para facilitar o movimento de residentes e turistas criando trajectos de autocarros específicos para visitantes. Estas medidas não procuram diminuir o número de visitantes, que representam uma importante fonte de rendimentos.

Alargar horizontes

Angela Leong também se mostrou preocupada com a diversificação da oferta turística. A empresária considera que os esforços do Governo devem ir no sentido da integração dos recursos locais com as oportunidades oferecidas pela Grande Baía, “aproveitando as diferentes características das diversas cidades para a criação de produtos turísticos distintos e concretizando a complementaridade mútua de vantagens, para reforçar, em conjunto, a competitividade do turismo regional e aumentar a atracção turística de Macau”.

Por outro lado, Macau precisa também de apostar no turismo internacional para atrair visitantes que permaneçam no território mais de duas noites, acrescentou.

31 Jul 2019

Rotas asiáticas do turismo planetário

[dropcap]É[/dropcap] lento, mas persistente o processo de afirmação da Ásia enquanto centro de referência do turismo global. Massivos investimentos em infraestruturas e equipamentos turísticos, maior abertura e facilidades na obtenção de vistos e uma sempre crescente procura de serviços turísticos no planeta têm tornado o continente asiático cada vez mais importante, neste gigantesco negócio planetário. A emergência de novas classes médias que tem resultado do acelerado crescimento económico de vários países da Ásia garante os fregueses necessários para os inúmeros empreendimentos hoteleiros que proliferam com financiamentos nacionais ou internacionais.

O continente asiático recebeu em 2018 mais de 300 milhões de viajantes em voos internacionais, 23% dos que se registaram no mundo, segundo os dados da Organização Mundial do Turismo. É menos de metade do que se registou na Europa, que ainda concentra metade desses voos. Mas a tendência de transformação é inequívoca: no início do milénio a Ásia representava menos de 15% e a Europa quase 60% dos voos internacionais registados no planeta. Em 2018 a China foi o 4º país mais visitado no mundo e a Tailândia o 10º. Entre 2010 e 2017, países menos habituais nos tops destes rankings, como o Japão e o Vietname, viram triplicar o número de visitantes internacionais.

A este desempenho dos destinos turísticos asiáticos não é certamente alheio o crescimento económico sistemático e continuado que se tem registado em países como a China, o país do mundo com maior despesa em turismo internacional – ultrapassando os valores conjuntos do segundo (Estados Unidos) e terceiro (Alemanha) países da lista. O impressionante desempenho da economia chinesa nos últimos anos permitiu o aparecimento de investidores milionários em diversas áreas de negócio nos mais variados lugares do planeta, e permitiu também o aparecimento de uma nova classe média, jovem e urbana, com manifesta apetência (e rendimento) para viajar. Na realidade, o número de pessoas chinesas a fazer viagens internacionais em 2018 (142 milhões) é praticamente o triplo do que se registava em 2010, há menos de dez anos.

Não é só a China, certamente: também a Coreia (9º país do mundo em despesa com turismo internacional), Hong Kong (11º), Singapura (12º), Índia (17º), Japão (18º) e Taiwan (19º) contribuem significativamente para esta expansão do turismo na Ásia. Na realidade, os dados também mostram que 80% das viagens internacionais são feitas no interior do continente onde os turistas residem, o que sugere que procura e oferta turística crescem simultaneamente na Ásia criando uma nova centralidade nas rotas turísticas mundiais.

Não deixa de ser interessante observar que nem só de infraestruturas e equipamentos se faz o investimento para o desenvolvimento turístico na Ásia: há também uma atenção aos cuidados na prestação de serviços culturalmente enraizada, que ajuda a explicar o esforço generalizado com a educação e a qualificação das pessoas que trabalham na hotelaria e hospitalidade em geral. Exemplo disso são, não só a quantidade de cursos e instituições dedicadas ao tema, mas também o reconhecimento internacional da sua qualidade. O recentemente divulgado Ranking de Shangai, que mede o desempenho das universidades em todo o mundo, tem em primeiro lugar na área do turismo uma Universidade de Hong Kong (e quatro universidades asiáticas – mais uma chinesa e duas coreanas – nos primeiros doze lugares, onde só estão duas instituições europeias).

Enquanto investigador académico em economia do turismo, estou bastante familiarizado com a quantidade e a qualidade da investigação que se faz nesta área em países como o China ou a Coreia. Tive mais uma vez a oportunidade de contactar com este efervescente universo de novas ideais e horizontes para o futuro dos serviços turísticos durante a Conferência que assinalou o 25º aniversário da Associação de Turismo da Ásia e Pacífico, na bela cidade de Da Nang, no Vietname -um país que entrou relativamente tarde neste processo de acelerado desenvolvimento turístico mas que regista nos últimos anos um ritmo de crescimento superior ao que se verificou na Tailândia no período em que o turismo tailandês teve a sua expansão mais significativa. E também nesta cidade vietnamita é visível a atenção à educação para os serviços turísticos, com uma universidade onde estudam 5000 alunos só nesta área. Se o centro de gravidade do turismo planetário se vai deslocando para a Ásia, não será só por razões económicas ou pela atratividade dos lugares: a educação e a formação para os serviços também têm papel de relevo.

12 Jul 2019

Crime | Excursionistas queixam-se de extorsão

[dropcap]U[/dropcap]m grupo de excursionistas do Interior da China que visitou Macau e Hong Kong queixou-se de ter sido burlado. Além dos 2000 renminbis pagos pela visita de três dias e duas noites, com dormidas incluídas, acabou por ter várias despesas que supostamente já estavam incluídas no pacote de viagens.

De acordo com um trabalho da MASTV, entre as despesas extra esteve uma deslocação ao Hotel e Casino Venetian, pela qual cada excursionista teve de pagar 200 renminbis à agência. Contudo, mais tarde, essa cobrança acabou mesmo por ser cancelada, uma vez que os turistas apresentaram queixa junto das autoridades locais.

Porém, apesar de terem poupado os 200 renminbis, o mesmo não terá acontecido em outras deslocações em Hong Kong e Macau onde aos excursionistas foi cobrado um valor extra. Além disso, em Hong Kong foram ainda obrigados a fazer compras em lojas à escolha da agência.

10 Jul 2019

Lisboa, capital do barulho

[dropcap]N[/dropcap]a ínfima possibilidade de Lisboa um dia se tornar uma cidade minimamente civilizada, este tempo em que vivemos será lembrado com um travo de repugnância ao falar-se dele e sem pinga de saudade. Embora a massificação do turismo tenha tido o condão de estimular a reabilitação de muitos edifícios devolutos em Lisboa (e com isso os sectores muito específicos da construção e hotelaria), diria que foi das pouquíssimas coisas boas que o turismo trouxe. Não lhe subjaz no entanto qualquer intenção benemérita: uma cidade com tanta afluência turística vê-se obrigada a aproveitar todo o espaço disponível se quer incrementar as vendas dos típicos patos de borracha ou dos milenares pastéis de bacalhau com queijo da serra. No fundo, a reabilitação imobiliária é apenas uma externalidade positiva, um efeito colateral do turismo, algo que as empresas do sector dispensariam de bom grado se outra forma de garantir o mesmo lucro houvesse.

De resto, a albufeirização em curso tem sido pródiga a produzir efeitos negativos: escassos transportes públicos sobrelotados (os nativos ainda levaram algum tempo a aceitar o confisco turístico do eléctrico 28), subida olímpica dos valores das rendas, multiplicação descontrolada dos alojamentos locais, descaracterização progressiva da cidade, dos seus bairros, extinção lenta mas inexorável de um modo de vida incapaz de sobreviver sem aqueles que nele participavam, implosão gradual do comércio de proximidade, substituído por lojas de bugigangas inúteis e botecos gourmet nos quais se comercializa uma banalidade sobreadjectivada a preço de estrela Michelin, lixo, confusão e barulho. Muito barulho.

Lisboa nunca foi generosa para com os seus no que diz respeito à permissividade com que lida com o ruído produzido, nomeadamente o nocturno. Quando não o estimula directamente, mediante a organização ou promoção de eventos, autoriza-o com a emissão de licenças. Em Junho, então, é freestyle. São os santos, as barraquinhas de farturas com colunas do tamanho de barris de cerveja a debitarem um medley dos peitos da cabritinha e da garagem da vizinha em loop, os gritos ébrios na rua às tantas da manhã e os múltiplos transportes que levam esta gente dos sítios onde se embebedam para os sítios onde dormem. Quem se pode legitimamente queixar quando em doze meses de sono possível só um lhe é perturbado?

Há pouco tempo foi criado um grupo público de discussão no Facebook, chamado Menos barulho em Lisboa, no qual os seus participantes escrevem sobre a poluição sonora que, muito por via do crescimento exponencial do turismo, tem retirado tranquilidade às suas vidas. São relatos de ruído caucionado ou estimulado pelas autoridades que deviam proteger aqueles cuja ecologia vital se encontra ameaçada das mais diversas formas. Percebe-se a natureza displicente do fenómeno: a Câmara, como uma loja da Bershka, quer dar a impressão de que a cidade está sempre em festa, e quando não é ela própria a promover as mais diversas aberrações sonoras – a última delas um barco junto à Ribeira das Naus a debitar um tecno de after de má memória a tarde toda de um domingo – faz vista grossa a quem ultrapassa os limites em vigor. The show must go on.

E é disso que se trata, de limites. E é nisso que esta gestão municipal tem sido péssima. Em entrando dinheiro, tudo o resto sofre de um efeito de desfoco ou de desvalorização de importância. A vida das pessoas, de Lisboa e dos seus habitantes, está indexada a uma dimensão apenas: a forma como podem não perturbar a ordenha da vaca leiteira em que a cidade se converteu.

 

14 Jun 2019

Turismo | Apoios a projectos podem chegar aos 15 milhões de patacas

O Fundo das Indústrias Culturais vai apoiar um total de 12 projectos que utilizem a imagem do Mak Mak. A iniciativa é feita em parceria com os Serviços de Turismo e vai envolver um investimento que pode atingir os 15 milhões de patacas

 

[dropcap]O[/dropcap] Fundo das Indústrias Culturais (FIC) vai disponibilizar apoios até 15 milhões de patacas para projectos que envolvam a utilização da marca de turismo local, o Mak Mak.

A informação foi deixada ontem em conferência de imprensa e a medida pretende “aumentar a diversidade de produtos e de serviços que envolvam experiências turisticas”, de modo a contribuir para a “transformação de Macau num centro mundial de turismo e de lazer”, apontou a presidente da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), Maria Helena de Senna Fernandes.

Para o efeito, e de modo a encorajar as empresas a explorar os elementos culturais do território e a desenvolverem novos produtos, o FIC em conjunto com a DST lançaram o programa de apoio financeiro para os projectos que promovam a formação da marca de turismo Mak Mak, a mascote local desde Abril do ano passado.

A iniciativa vai apoiar 10 projectos de criação de produtos e dois projectos de experiências turísticas, que utilizem a imagem da mascote. O Mak Mak será cedido para exploração por um período de cinco anos, após a concessão da ajuda financeira. Este período pode vir a ser alargado caso a relevância da implementação do projecto o justifique, acrescentou Senna Fernandes.

Milhões distribuídos

O apoio contempla até 50 por cento do valor total do investimento, sendo que para a criação de produtos o limite máximo será de 500 000 patacas. Já quanto às experiências turísticas, por exigirem “normalmente um investimento maior e poderem integrar, por exemplo, a criação de ambientes de realidade virtual” o apoio pode chegar aos cinco milhões de patacas por projecto, apontou Davina Chu, membro do conselho de administração do FIC.

Os interessados devem apresentar as suas candidaturas de 3 de Junho a 30 de Agosto. São aceites os projectos que se apresentam em nome de empresas com titulares residentes de Macau.

31 Mai 2019

Número de portugueses na Tailândia aumenta 7,7% no 1.º quadrimestre

[dropcap]O[/dropcap] número de turistas portugueses que visitaram a Tailândia, entre Janeiro e Abril de 2019, cresceu 7,69%, percentagem que contraria um crescimento negativo de 1,68% na Europa, segundo a autoridade de turismo daquela região.

Em termos absolutos, nos primeiros quatro meses do ano, Portugal registou um aumento de 16.940 para 18.243 turistas, acrescenta a Autoridade de Turismo da Tailândia, citando dados oficiais do Ministério do Turismo.

“Abril foi o mês com maior número de viajantes (5.737) traduzindo-se numa taxa de crescimento de 48,74% que se justifica pelo período de férias da Páscoa, bem como pela concentração de diversas feiras de turismo, que contribuíram para alavancar as vendas, nos meses antecedentes, como foi o caso da Exponoivos, da BTL, do Mundo Abreu e da Feira das Viagens que contaram com a presença activa da Autoridade de Turismo da Tailândia na promoção do destino”, refere a mesma entidade em comunicado hoje divulgado.

Já em termos globais, no primeiro quadrimestre de 2019, o Turismo da Tailândia registou um crescimento de 2,11%, tendo a Europa, o Médio Oriente e a Oceânia registado quedas.

“As melhores ‘performances’ [comportamentos] têm-se registado na Ásia, principalmente nos países do Sul (+22,83%), e nalguns países da Europa como a Lituânia (21,25%), Ucrânia (19,25%), Polónia (15,11%), Uzbequistão (11,03%), Bulgária (8,01%) e Portugal (7,69%)”, acrescentam.

De acordo com a Autoridade de Turismo da Tailândia são esperados 40 milhões de turistas em 2019, dos quais sete milhões serão europeus.

De Portugal espera-se um contributo de 55.000 viajantes, “mantendo uma ‘performance’ de crescimento percentual acima da média”, concluem.

29 Mai 2019

Turismo | Ella Lei quer controlo de visitantes nas alturas de maior afluência

Ella Lei pede entendimento entre Executivo e Governo Central para promover acções administrativas que limitem o excesso de turistas durante períodos com feriados nacionais. Para a deputada, a solução passa pela emissão de vistos especiais, com regalias próprias, capazes de desviar os visitantes das datas mais problemáticas, para outras mais calmas

 

[dropcap]A[/dropcap] deputada Ella Lei alerta para a necessidade urgente de medidas de controlo do fluxo de turistas, especialmente nas alturas que envolvem feriados nacionais. Em interpelação escrita a deputada, sugere mesmo que o Executivo local chegue a um entendimento a este respeito com o Governo Central.

“O Governo precisa discutir com o Continente quais as medidas viáveis e disponíveis para resolver o problema do aumento de visitantes durante os períodos de pico e as concentrações excessivas em determinados locais”, lê-se.

Para o efeito, Lei refere a possibilidade de emissão de vistos especiais que promovam a transferência das visitas dos turistas do continente em alturas de feriados, para outras, em que Macau não registe tanta afluência de visitantes.

De acordo com a deputada com ligações à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) tratam-se de medidas viáveis uma vez que é possível prever as alturas de maior fluxo de visitantes a atravessar os postos fronteiriços de Macau. “O Governo pode através da análise dos dados estatísticos dos últimos anos, ter conhecimento e divulgar os dias de maior circulação fronteiriça para prever as ‘explosões’ de visitantes”, aponta.

Gente a mais

Em causa está o crescente aumento de turistas para números superiores aos que Macau consegue abarcar.

Ella Lei apoia-se nos números mais recentes e recorda que no fim de semana que integrou o feriado de 1 de Maio, passaram em três dias nos postos fronteiriços do território, uma média diária de 177 mil pessoas, um número 60 por cento acima da capacidade de recepção de visitantes local que se situa, aponta, nas 110 000 pessoas por dia.

Já no último Ano Novo Chinês, o número total de visitantes ultrapassou o 1,21 milhão, um aumento de 26,6 por cento em relação ao ano anterior. Durante esta altura festiva, houve mesmo um dia, o terceiro do novo ano chinês, em que o fluxo fronteiriço registou a passagem de 220.000 pessoas. Já nos dois primeiros dias do Festival Ching Ming, mais de 1,24 milhão de pessoas entraram e saíram dos postos fronteiriços de Macau, acrescentou, o que corresponde a um aumento de 20 por cento relativamente ao mesmo período em 2018.

Estes movimentos tiveram consequências: Além do congestionamento dos postos fronteiriços, “causaram a paralisação do trânsito no centro de Macau, sendo difícil circular entre as principais atracções turísticas”. Os transtornos não são apenas visíveis para os moradores, mas tornam desconfortável a visita a Macau para os turistas, ou seja, “uma experiência contrária à direcção que Macau pretende ao querer posicionar-se como capital mundial do turismo e lazer”.

 

Estudo do ano

A consulta de opiniões acerca da implementação de uma taxa turística teve início na passada segunda-feira. No entanto, o estudo abrangente acerca desta matéria deverá durar até ao final do ano. A ideia foi deixada ontem pela presidente da Direcção dos dos Serviços de Turismo (DST), Helena de Senna Fernandes, à margem da abertura oficial da Global Gaming Expo Asia 2019, no Hotel Venetian. “O total destes estudos serão feitos até ao final deste ano”, disse. Para já, está a decorrer a consulta à população que vai durar um mês. Estão também a ser administrados questionários aos turistas nos postos fronteiriços, “aquando da sua saída”.

Além, destas duas vertentes há ainda uma terceira componente do estudo para sondar as opiniões das entidades ligadas à indústria. Paralelamente, a DST está a “recolher informações acerca de taxas ou impostos semelhantes em diferentes partes do mundo, para ver o seu objectivo e a sua eficiência”, apontou Senna Fernandes. O turismo compromete-se a terminar este estudo ainda este ano, no entanto a possibilidade de implementar uma taxa turística não tem data até porque não cabe a este serviço decidir, apontou a responsável. O mesmo se aplica à sua forma de implementação, caso venha a acontecer, acrescentou Helena de Senna Fernandes.

22 Mai 2019

Tecnologia | Aplicação para desvio de turistas é difícil de encontrar

[dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Turismo (DSAT) está a promover uma aplicação móvel para desviar os turistas das áreas mais congestionadas do território, sem resultados satisfatórios. O problema reside na dificuldade de os turistas encontrarem a aplicação.

Questionado sobre o problema, o subdirector da DSAT, Hoi Io Meng, admitiu que os serviços estão “a tratar do assunto” e que a aplicação está a ser divulgada junto dos principais postos fronteiriços locais, referiu. Hoi Io Meng falou à margem da reunião de análise na especialidade da proposta de lei que vai regular a actividade dos estabelecimentos de hotelaria.

A aplicação tem como objectivo “informar os visitantes sobre a densidade do fluxo actual das 20 atracções turísticas mais visitadas da cidade, para que consigam chegar aos seus destinos numa altura mais adequada”, sublinhou.

Além desta medida, a DST pondera a promoção de novas atracções turísticas em Macau localizadas em áreas “menos populares”, acrescentou Hoi Io Meng.

Quanto ao desvio de turistas do passado dia 1 de Maio, Hoi Io Meng admitiu que não teve o sucesso esperado e apontou o aumento de cerca de 20 por cento do número de visitantes no dia do trabalhador como a principal razão. No entanto, salientou que “o mais importante é proteger a segurança dos visitantes”.

10 Mai 2019

Alargada proibição de autocarros de turismo nas Portas do Cerco

[dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) anunciou ontem que o período de proibição de entrada de autocarros de turismo no lado leste da Praça das Portas do Cerco passa a ser diário. A partir da próxima sexta-feira, estes veículos não podem circular, diariamente, entre as 14h e as 20h.

A medida já era aplicada desde Dezembro durante os fins-de-semana e os feriados, e passou a ser uma realidade também durante os dias úteis desde Fevereiro. A DSAT explica em comunicado que depois de feito o balanço ao funcionamento de todos os postos fronteiriços e de ouvir a Direcção dos Serviços do Turismo e o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), decidiu alargar definitivamente a proibição de circulação todos os dias.

A medida procura “desviar o fluxo de pessoas e melhorar a situação do trânsito na zona das Portas do Cerco”. Além disso, a medida “não impede que o CPSP adapte a proibição provisória fora do período indicado, sempre que a situação de trânsito e o fluxo de passageiros o justifiquem”.

8 Mai 2019

Fórum Macau | Países lusófonos terminaram colóquio sobre turismo

Chegou ao fim o primeiro encontro organizado pelo Fórum Macau em 2019, depois de duas semanas de formação nas áreas de cooperação turística e comercial com participantes de oito países de língua portuguesa. O colóquio foi “bem-sucedido” e esperam-se mais cinco iniciativas semelhantes até final do ano

 

[dropcap]A[/dropcap] cerimónia de encerramento do “Colóquio sobre Gestão de Turismo, Convenções e Exposições para os Países de Língua Portuguesa” do Fórum Macau, decorreu ontem de manhã no MGM de Macau, com a entrega dos certificados de formação que, entre 23 de Abril e 6 de Maio, reuniu funcionários públicos, representantes e gestores de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Portugal no território.

Para a secretária-geral do Secretariado Permanente do Fórum Macau, Xu Yingzhen, que presidiu à cerimónia, “o colóquio foi bem-sucedido” e a organização, a par com a Universidade Cidade de Macau, teve como objectivo principal “o reforço do intercâmbio de cooperação da área de turismo, convenções e exposições, tendo em conta que é um trabalho determinante de enquadramento do Fórum de Macau. As matérias abordadas no colóquio apresentam um leque variado de conteúdos, além da realização de visitas e a participação em seminários”.

As oportunidades mobilizadas com a construção da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau, utilizando o mecanismo multilateral do Fórum de Macau para desenvolver as vantagens do território como plataforma de serviços para cooperação comercial entre a China e os países lusófonos, também foram relembradas. “Existe grande potencialidade para explorar os recursos turísticos da Grande Baía”, afirmou Xu Yingzhen, um espaço que junta nove cidades chinesas, além de Macau e Hong Kong, com cerca de 70 milhões de habitantes.

A responsável adiantou que “Macau, com as suas características multiculturais e diversidade linguística, possui vantagens singulares para a construção de um centro mundial de turismo e de lazer. Este convite é para que os participantes possam conhecer mais profundamente o desenvolvimento das áreas de turismo, convenções e exposições, do interior da China e de Macau, após este colóquio”.

As três dezenas de participantes estiveram também na 7ª edição da Exposição Internacional de Turismo (Indústria) de Macau, onde fizeram uma apresentação temática sobre os recursos e produtos turísticos dos respectivos países, além do ponto de situação do ambiente de investimento e de negócio de cada um. A cooperação na área de turismo é um tema consagrado no “Plano de Acção para a Cooperação Económica e Comercial”, assinado em Outubro de 2016, na 5.ª Conferência Ministerial do Fórum de Macau.

De 2003 até aqui

O Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa – ou Fórum Macau – foi criado em Outubro de 2003, por iniciativa do Governo da China, com a colaboração do Governo da RAEM, em coordenação com sete países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor-Leste, Portugal e, em 2017, também São Tomé e Príncipe.

O Fórum Macau organiza, a cada três anos, uma conferência ministerial, tendo sido já realizadas cinco edições, respectivamente em 2003, 2006, 2010, 2013 e 2016. Nestes encontros ministeriais são aprovados os “Planos de Acção para a Cooperação Económica e Comercial” que definem e planificam a cooperação nos âmbitos económico e comercial entre a China e os países de língua portuguesa.

Este mecanismo multilateral tem como objectivo a consolidação do intercâmbio económico e comercial, cooperação intergovernamental, comércio, investimento e cooperação empresarial, capacidade produtiva, agricultura, floresta, pesca e pecuária, infra-estruturas, energia e recursos naturais, educação e recursos humanos, área financeira, cooperação para o desenvolvimento, turismo, transportes e comunicações, cultura, rádio, cinema e televisão, desporto, saúde, domínio do mar, cooperação entre províncias e municípios, bem como o papel do território como plataforma.

7 Mai 2019

A elite turística

[dropcap]1[/dropcap]400 milhões de chegadas em voos internacionais contou a Organização Mundial de Turismo (OMT) durante o ano de 2018, um número que assinala a expansão continuada da actividade turística no planeta: estão muito distantes, no tempo e na magnitude, os 25 milhões de voos internacionais que se tinham registado em 1950. O fim do século XX e o início do XXI foram de crescimento generalizado e sistemático do turismo, do recreio, da valorização dos consumos culturais, da “experiência” ou da imaterialidade feita transação comercial, hoje no centro das preocupações do marketing turístico.

Esta expansão do número de viajantes tem inevitáveis implicações económicas e vai reformatando estruturas produtivas um pouco por todo o mundo: reclama a OMT que o turismo representa actualmente 10% do valor acrescentado e do emprego no planeta e mais de 30% das exportações de serviços a nível global. Mas também há implicações ecológicas: este intenso tráfego aéreo internacional parece ser responsável, pelo menos, por 5% das emissões de CO2 na atmosfera. Esse valor parece ir inevitavelmente aumentar com o crescimento aparentemente imparável do turismo internacional.

Há nesta acelerada massificação uma falsa ideia de democratização do turismo internacional. Sendo verdade que o chamado “rendimento discricionário” (correspondente ao que não é utilizado com necessidades primárias de sobrevivência) tem aumentado para uma significativa parte da população global, é também certo que o acesso regular ao turismo internacional continua a ser um privilégio de uma elite socioeconómica do planeta – mesmo que esta elite não se reconheça como tal quando usa serviços de baixo custo e qualidade duvidosa.

As contas não são difíceis: aos tais 1400 milhões de chegadas internacionais correspondem 700 milhões de viagens, com ida e volta desde o lugar de residência de cada viajante. Mas nem sempre esses voos vão directamente ao destino final: pode haver escalas pelo caminho, e não há dados particularmente fiáveis sobre o seu número. Em todo o caso, é certo que a generalização dos voos de baixo custo se faz sobretudo de ligações directas entre a origem e o destino dos turistas e que essa é uma fatia cada vez maior do tráfego turístico global. Suponhamos então, modestamente, que as escalas representem apenas 15% do total de voos internacionais – e que em vez dos tais 700 milhões tenhamos 600 milhões de viagens por ano.

Depois há os viajantes mais frequentes, que acumulam milhas e benefícios em cartões de fidelização – e os mais esporádicos e ocasionais. Não é raro haver quem faça viagens internacionais para negócios e outros afazeres profissionais todos os meses. E assim sendo, os tais 600 milhões de viagens não correspondem ao mesmo número de pessoas. Mantendo o mesmo critério modesto para compensar a ausência de dados objectivos e fiáveis sobre o assunto, suponhamos então que o número total de pessoas que faz pelo menos uma viagem internacional por ano é de 500 milhões, uma estimativa certamente sobrevalorizada.

Parecendo muito, estes 500 milhões de pessoas representam pouco mais de 6% dos 7,7 mil milhões de habitantes deste precário planeta. A esmagadora maioria dos humanos (94%, pelo menos), não faz sequer uma viagem internacional por ano. Por muito que os números da massificação em curso – e o comportamento de alguns viajantes – possam criar uma impressão contrárias, o turismo internacional continua a ser privilégio de uma elite económica e social do planeta. E é essa elite, já agora, que é responsável pelas emissões de CO2 inerentes ao tráfego aéreo contemporâneo.

É também verdade que o acelerado crescimento económico a que se tem assistido em países asiáticos como a China, a Índia, a Tailândia ou o Vietname sugere que novas franjas das populações destes países passem em breve a ter acesso a rendimentos que lhes permitam uma participação mais activa e regular no turismo internacional. Nesse sentido, a democratização vai-se fazendo, lentamente. Mas isso também significará um aumento dos impactos ambientais do tráfego aéreo, aparentemente incompatível com protecção da vida no planeta. Cedo ou tarde, a regulação e limitação do número de voos terá que ser feita. E se essa regulação implicar um aumento significativo dos preços, o turismo internacional será no futuro, ainda mais, coisa de uma certa elite deste planeta.

Em todo o caso – pelo menos em países como Portugal – todos os contribuintes são por enquanto chamados a contribuir para pagar os custos do tráfego internacional, mesmo quando não viajam. Na realidade, as ligações “low cost” que se generalizaram a partir do norte da Europa para diversos destinos nacionais são, em geral, subsidiadas pelas associações regionais de promoção turística (as chamadas “Regiões de Turismo”), que em larga medida dependem de financiamentos públicos. Viajando ou não, quem vive e paga impostos em Portugal contribui para a massificação de um turismo de que não vai, necessariamente, beneficiar (na realidade, até pode prejudicar).

3 Mai 2019

Turismo | Reuniões empresariais são nicho por explorar em Macau

Macau precisa criar nichos de mercado, como promover reuniões empresariais, para atrair turistas portugueses para o território. A ideia foi deixada pelo presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo, Pedro Costa Ferreira, na 7.ª Expo Internacional de Turismo de Macau

 

[dropcap]O[/dropcap] presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) disse à Lusa que Macau deve apostar no mercado das reuniões empresariais devido aos “serviços hoteleiros fantásticos” que o território proporciona. Tem “serviços hoteleiros fantásticos, acolhimento, capacidade para reuniões e tem ao lado destinos onde se pode acabar a fazer praia.

Para reuniões empresariais é um grande destino”, afirmou Pedro Costa Ferreira, em declarações à Lusa, à margem da 7.ª Expo Internacional de Turismo de Macau que decorreu até ontem em Macau.

“Falaremos disso com as autoridades (…) para nos tentarmos focar neste mercado, porque é um mercado onde pensamos que a resposta poderia ser rápida”, sublinhou.

Ao longe

Para o responsável da APAVT, a distância de Macau à Europa faz com que o mercado turístico do território tenha ‘de ser vendido’ como mais valia com destinos asiáticos. “O voo de 12 horas e uma viagem de quase 24 horas faz com que as pessoas que venham para aqui [Macau] tenham de vir com tempo e combinando com outras áreas, porque ninguém faz um investimento desta natureza sem aproveitar para ir para outros lados”, justificou.

A distância, na sua opinião, faz com que o número de turistas portugueses “não seja o que todos nós gostaríamos que fosse”, apesar de já ser “um destino turístico muito presente no mercado português”.

“Macau, ele próprio, para o mercado emissor português pela distância existente é melhor vendido numa combinação com outros países asiáticos do que propriamente ‘per si’”, considerou.

Esta sétima edição da Expo Internacional de Turismo de Macau teve como um dos destaques o papel de Macau no ambicioso projecto chinês da construção de uma metrópole mundial com Hong Kong e nove cidades chinesas, mas também o papel de Macau como plataforma entre a China e os países de língua portuguesa.

Por um lado, o território pretende promover parcerias turísticas com os países integrantes da iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”, por outro quer incentivar os operadores turísticos a desenvolverem itinerários multidestinos nas cidades e territórios da Grande Baía, a metrópole mundial que abrange um território onde vivem cerca de 70 milhões de pessoas.

Neste capítulo, Pedro Costa Ferreira ainda está pouco optimista que “a curto prazo” este ‘pacote’ possa ser bem recebido pelos clientes ocidentais. “Já fazemos combinação com outros destinos”, como Xangai e Pequim, mas ainda não existe “nenhuma tradição de o fazer com a zona da Grande Baía”, justificou.

“Há que reconhecer (…) que a zona da Grande Baía do lado chinês, portanto quando se sai de Macau, não tem ainda capacidade de recepção”, contudo frisou que “tem potencialidade, tem autenticidade, e é possível criar um destino turístico que sirva aos ocidentais, mas esta teia não está construída”.

Macau beneficia, até ao final do ano, do título de “Destino Preferido”. A atribuição deste título resulta de um acordo entre o Turismo de Macau e a APAVT e consiste numa série de acções destinadas a contribuir para a promoção de Macau.

29 Abr 2019

Legislação para definir turistas em preparação

[dropcap]A[/dropcap]s características que definem o turista no território vão integrar uma legislação que está neste momento em fase de consulta de opiniões por parte da Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL).

A ideia foi deixada ontem pelo presidente da 3ª Comissão Permanente, Vong Hin Fai, que está a analisar a proposta de lei acerca do funcionamento das agências de emprego. O objectivo é evitar que entrem e permaneçam pessoas no território como turistas sendo que a sua verdadeira intenção é a procura de emprego.

“O Governo procedeu à apresentação dos trabalhos de legislativos. A DSAL, a Polícia de Segurança Pública (PSP) e os serviços relacionados constituíram um grupo para produção de uma lei que regule os actos praticados pelos turistas que permanecem em Macau”, começou por dizer Vong.

De acordo com o presidente da comissão, o Executivo apontou ainda que este trabalho legislativo está a ser feito “a todo o vapor”, o que é do agrado dos deputados. “A comissão espera que o Governo possa, o mais rápido possível, concluir os trabalhos legislativos”.

No entanto, ainda não se sabe se se trata de um novo regime a ser criado ou de uma revisão legislativa, nem ao certo o que vai ser contemplado, admitiu Vong Hin Fai.

A resolver

Entretanto, os deputados da 3ª comissão consideram também que a lei da contratação dos Trabalhadores Não Residentes (TNR) deve ser alvo de uma nova análise e se necessário de uma revisão. O diploma prevê que os empregadores podem contratar directamente TNR no território, o que entra em contradição com a proibição feita às agências de emprego de apresentar os seus serviços a pessoas que não tenham autorização de residência, consideram. Esta situação “é injusta para com as agências de emprego e pode causar problemas” disse o presidente.

Em resposta, o Governo mostrou-se firme afirmando que a cláusula que proíbe as agências de apresentar os seus serviços a visitantes se vai manter, sendo uma norma presente na lei vigente.

A DSAL facultou ainda dados sobre infracções das agências de emprego nesta matéria dos últimos anos. Em 2015 foram abertos 40 processos, em 2016, 28, em 2017 o número subiu para o levantamento de 172 processos e no ano passado foram detectados apenas sete casos de infracção.

Quanto ao valor das multas, em 2015 atingiram 380 mil patacas e no ano seguinte 270 mil. Em 2017, as multas chegaram a 1,6 milhões de patacas, sendo que foi aplicada a pena máxima a duas agências de emprego com o cancelamento das suas licenças. No ano passado as multas ficaram-se pelas 40 mil patacas.

26 Abr 2019

Ainda o turismo

[dropcap]A[/dropcap]ndar por Lisboa nestes dias é assistir a aparentemente imparável depredação de tudo quanto Lisboa tinha de típico, para utilizar uma palavra cara aos marketeers turísticos, em prol da sua destituição por lojas de smoothies, espaços entre o rustico e o industrial que vendem cafés caros e saladas de abacate com granola entre o intragável e o comer para sobreviver e todo o tipo de falcatruas exóticas que se esforçam para adoptar com urgência a última moda do rebanho da hipsteraliada em que cada um dos seus membros vive na ilusão de não pertencer a rebanho algum – ou, pelo menos, nega-lo tão veementemente como um vegan o consumo de carne. Assim nascem as padarias típicas alsacianas que já nem na Alsácia existem, as lojas de patos de borracha amarelos cujo propósito se situará sempre além das fronteiras do que pode ser, para mim, uma «inteligibilidade da volição do consumidor» e todos o tipo de concept stores que transformam Lisboa numa espécie de site de pornografia gourmet no qual a minúcia da subcategorização é levado ao paroxismo.

A par disso, o miradouro do Adamastor continua vedado, existe algures «plano» para que o vulgo possa novamente usufruir dele – antevejo as cláusulas draconianas do «plano», não vá o vulgo decidir comportar-se de forma minimamente natural perante os clientes do Hotel Verride que entretanto transformaram o largo do Adamastor num estacionamento privativo para automóveis de vidros fumados custando o equivalente a um T1 nas Olaias. Ninguém sabe – publicamente – o que será do miradouro mas não é difícil desconfiar de que a clientela do Hotel terá sempre direito de preferência sobre o uso a dar ao espaço – de preferência continuaria fechado, já que dos quartos do hotel se tem uma vista pelo menos equivalente do Tejo e da ponte 25 de Abril, símbolo cada vez mais deprimente do bordel financeiro que sob a máscara do dinheiro e do progresso tomou conta de Lisboa, dos seus habitantes e ruas.

Culpados havê-lo-ás em abundância, da esquerda à direita; mas o maior deles partilha sem dúvida da cupidez associada ao deslumbramento de se descobrir que das ruinas se podia fazer ouro. A tacanhez do pensamento político português – perdoe-se o oximoro – é precisamente a de querer transformar tudo num produto passível de ser agitado como uma bandeirola destinada a servir de isco para os impacientes euros nas carteiras dos turistas. Não lhes passa pela cabeça, à classe política em geral, que a inutilidade turística de determinadas lojas e espaços é precisamente o factor que faz a diferença entre um turista se sentir fascinado e defraudado, entre se sentir num sítio que continua a ter uma parte que não lhe é dedicada, uma parte misteriosa, a espaços incompreensível, mas que atesta um modo de vida corrente ou quase desaparecido, um modo precioso precisamente por ser inútil do ponto de vista turístico e resistir à imposição de um exotismo artificial.

A classe política continua a achar que participou decisivamente na escolha de Lisboa como destino turístico internacional, quando na verdade apenas colheu os frutos de um quase completo desconhecimento de Portugal enquanto território de múltiplas possibilidades e de uma tempestade perfeita do ponto de vista do turismo mundial. Mas como qualquer tacanho que se preze, o político acha-se na obrigação de seguir e impor o mantra da produtividade, eliminando todo e qualquer espaço que não insista ou se revele incapaz de produzir a maior quantidade de lucro (e de impostos) possível. Lisboa transforma-se paulatinamente num parque de diversões votado a ser cada vez menos habitado pelos cada vez menos lisboetas e segue alegremente o caminho de Albufeira e de boa parte do Algarve: tudo quanto existe é pensado em função daqueles que se despreza cupidamente. Um dia existiremos para o turista, em modo de função permanente. Se a isso se pode chamar existir.

12 Abr 2019

Turismo | Governo quer oferecer mais atracções para distribuir visitantes

[dropcap]A[/dropcap] directora dos Serviços de Turismo de Macau defendeu ontem a oferta de mais atracções e locais de interesse para distribuir os turistas e aliviar a pressão sentida em algumas zonas do território. “O nosso problema em capacidade de acolhimento é que [o turismo] não é distribuído. (…) Temos de providenciar mais possibilidades, mais atracções”, afirmou Helena de Senna Fernandes.

Macau recebeu em 2018 mais de 35 milhões de turistas, um número que já não está longe do ‘tecto máximo’ de 40 milhões de turistas por ano, segundo o Instituto de Formação Turística (IFT).
Para a directora dos Serviços de Turismo, “há muitas áreas que estão a sentir esta pressão”, pelo que a estratégia passa por “distribuir os turistas por diferentes espaços”.

Questionada sobre outras formas de limitar o número de visitantes, Senna Fernandes salientou que o território “não é um parque temático”, por isso há que pensar em “diferentes maneiras” de combater o problema.

A aplicação de uma taxa turística, que está a ser estudada pelo Governo, não é, no entanto, a solução para limitar o número de entradas, defendeu.

A responsável falava à margem da apresentação da 7.ª Expo de Turismo de Macau, que se realiza entre os dias 26 e 28 deste mês. No ano do 20.º aniversário da transferência de administração do território, o evento tem “um objectivo maior”, sublinhou Helena de Senna Fernandes. Neste sentido, a área de exposição foi ampliada para o dobro, de 11 mil para 22 mil metros quadrados, e o número de expositores aumentou de 550 para 800, num orçamento global de 23 milhões de patacas, indicou a responsável em conferência de imprensa.

Até à data, está confirmada a participação de cerca de 430 empresas e entidades e de 450 compradores profissionais, provenientes de mais de 50 países e regiões.

10 Abr 2019

Mais de um milhão de visitantes entre sexta-feira e sábado

[dropcap]A[/dropcap] polícia de Segurança Pública registou a entrada de 1,2 milhões de visitantes nos primeiros dois dias do fim-de-semana do Festival Ching Ming o que representa um aumento de 20 por cento dos visitantes nos dois dias referidos, aponta o canal chinês da Rádio Macau.

A razão para o aumento de visitantes nesta época prende-se com o facto do feriado do Ching Ming ter calhado numa sexta-feira e coincidiu com um fim-de-semana prolongado.

Por outro lado, a Ponte HKZM também poderá ter influenciado o aumento de turistas, aponta o responsável à mesma fonte. No sábado, os postos fronteiriços locais registaram a passagem de 467 mil pessoas. De acordo com as autoridades, ontem era esperado um novo recorde de entradas no território.

8 Abr 2019

Coreia do Norte adia conclusão de mega projecto turístico balnear para Abril de 2020

[dropcap]A[/dropcap] Coreia do Norte adiou mais uma vez a conclusão de um mega projecto turístico balnear, para Abril de 2020, aparentemente devido às sanções impostas por causa do seu programa nuclear.

A Zona Turística de Wonsan-Kalma, encravada entre um aeroporto recente e a costa leste do país prevê hotéis, cinemas e um parque aquático.

O local está destinado a tornar-se a peça central da nascente indústria turística da Coreia do Norte, que busca desenvolver a sua economia apesar das sanções internacionais.

O trabalho na zona turística está a ser monitorizado de perto pelo líder norte-coreano Kim Jong-un. Inicialmente estava para abrir em Abril, no aniversário do nascimento do pai fundador norte-coreano, Kim Il-sung.

Mas durante uma visita recente ao local, Kim adiou a data de conclusão pela segunda vez, ordenando que a construção seja concluída no mesmo período do ano que vem, informou a agência de notícias oficial no sábado, a KCNA.

Esta decisão permitirá que os trabalhadores “terminem com perfeição [o projecto] para que o nosso povo se divirta numa área turística impecável a partir (…) do próximo ano”, disse Kim, citado pela KCNA. A inauguração foi adiada pela primeira vez em Agosto, com abertura prevista para Outubro de 2019.

As sanções impedem que a Coreia do Norte obtenha os materiais necessários para concluir a construção do gigantesco local à beira-mar, dizem os especialistas.

“A Coreia do Norte pode realizar a construção exterior dos hotéis em si, mas a maioria dos materiais de acabamento interno é importada”, disse o investigador do Instituto Coreano para a Unidade Nacional, Cho Han-bum, à agência de notícias France-Presse.

Durante algum tempo, Pyongyang comprou produtos proibidos com moeda estrangeira, mas essa fonte “também secou”, continuou o analista. Em Dezembro, imagens de satélite feitas por especialistas norte-americanos mostraram que a maioria dos edifícios anteriormente em construção estava quase terminada.

“A economia norte-coreana atingiu um limite por causa de sanções”, sublinhou Cho. O alívio imediato das sanções foi a principal exigência norte-coreana na segunda cimeira no final de Fevereiro em Hanói, entre o Presidente dos EUA, Donald Trump, e Kim, uma reunião que terminou em fracasso.

O Presidente Trump, um ex-promotor imobiliário, destacou o potencial da Coreia do Norte no desenvolvimento do turismo, elogiando as suas “super praias” que seriam ideais para “super apartamentos”.

7 Abr 2019

Líder da Associação de Feiras e Comércio de Macau defende taxa turística

[dropcap]A[/dropcap] presidente do Conselho da Associação de Feiras e Comércio de Macau, Synthia Chan, defendeu ontem a criação de uma taxa turística no território, considerando que será uma importante receita adicional.

“Acho que a criação de uma taxa turística é uma boa ideia” e vai “ser importante porque vai dar mais uma receita adicional”, disse Synthia Chan, à Lusa, à margem de uma conferência, organizada pela Fundação Rui Cunha, sobre o turismo em Macau.

As declarações da presidente do Conselho da Associação de Feiras e Comércio surgem após a entrevista da responsável pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST), Helena de Senna Fernandes, à agência Lusa, em meados de Março, na qual revelou que o Governo está a efectuar um estudo para a possível aplicação de uma taxa turística no território, à semelhança de outras cidades fora da China.

Helena de Senna Fernandes disse à Lusa que não existe uma data limite para conclusão do estudo, mas que a intenção da DST é que seja realizado no mais curto espaço de tempo.

“Temos muitos turistas a entrarem [em Macau] e já há a discussão se são ou não turistas a mais”, afirmou, por seu turno, Synthia Chan, acrescentando que “em vários países já há taxa turística” e isso não afectou o sector.

O turismo em Macau cresceu 211% entre 1999 e 2018, passando de 11,5 para 35,8 milhões de pessoas, segundo as autoridades.

Questionada sobre se esta taxa poderia afectar o sector de convenções e exposições (MICE), Synthia Chan defendeu que isso não será um problema para aquele sector.

“Se o destino é bom e o conteúdo da feira ou da exposição é bom acho que a taxa não é um problema”, disse.

Em relação à especificidade de Macau enquanto plataforma entre a China e os países de língua portuguesa, instou as autoridades de Macau a “aumentar as relações MICE com os países de língua portuguesa”.

Em Macau, disse Synthia Chan durante a conferência, existe “uma relação única China/Portugal que não existe por exemplo em Hong Kong, com os britânicos”, enfatizou.

Na mesma ocasião, o professor da Universidade de Macau e especialista em ‘resorts’ integrados, Glenn McCartney, um dos três oradores da conferência, mostrou alguma desconfiança com a ideia do governo de Macau, pois, na sua opinião, “as taxas normalmente são um desincentivo”.
“A minha preocupação prende-se com o efeito que a taxa turística possa ter”, disse o docente, à Lusa.

“Não estou a dizer que é uma má política (…) mas tem de assegurar que não afasta os turistas e que faça o que é suposto fazer: trazer qualidade turística a Macau”, defendeu.

Acrescentou que as receitas “devem ser alocadas para apoiar os bairros que lidam com grandes quantidades de turistas, para melhorar os museus e a requalificação arquitectónica”. Ou seja, “o dinheiro ser usado pela razão para que foi recolhido”.

2 Abr 2019

Glenn McCartney, académico | “Geramos turismo, sem o gerir”

Glenn McCartney, especialista na área do turismo, vai estar hoje, a partir das 18h30 na Fundação Rui Cunha a dirigir a palestra “Making Greater Bay Area a World Tourism Magnet”. O académico defende a concretização de uma marca para Macau, capaz de integrar todos os sectores do território

 

[dropcap]M[/dropcap]acau recebeu, no ano passado, mais de 35 milhões de turistas, mais do que o Japão por exemplo. Há condições para receber este número de visitantes?

Trata-se de um assunto relativo à capacidade de acolhimento. O modelo de Macau neste sentido é muito complexo. De facto, é possível fazer com que os destinos consigam absorver mais turistas através da construção de algumas infra-estruturas físicas, da alteração das ruas para serem maiores, da abertura de mais balcões nos postos fronteiriços, por exemplo. Também é necessário dar formação à própria sociedade envolvendo-a no turismo. O modelo de acolhimento turístico é um sistema muito flexível. Através de políticas públicas e de alteração de regras e outras acções, é realmente possível absorver mais pessoas. Nunca procurei um número mágico, preocupo-me com o que os residentes são capazes de tolerar no que respeita aos turistas antes de se começarem a inquietar com a situação. Claro que se pode dar aos residentes benefícios financeiros e oportunidades de emprego. Desta forma podem sentir-se mais inclinados para dar as boas vindas aos turistas. Quando os residentes sentem que não há espaço para, por exemplo, se sentarem num restaurante, ou quando não conseguem apanhar táxis, começa o desequilíbrio. Já atingimos este ponto há algum tempo. A sociedade, claro que sabe que beneficia economicamente da situação, mas há um nível de realismo que tem impacto nos residentes tanto ambientalmente como socialmente. Socialmente temos, por exemplo, a mudança do sistema de valores tendo agora o dinheiro um papel preponderante. Há muitas coisas que mudaram nos últimos 20 anos. Os valores de família, por exemplo. E estes impactos a nível social podem ser quantificados bem como os económicos. É preciso admitir que as coisas não estão bem, que estamos a ir na direcção errada e que são precisas soluções.

Como?

De várias formas. Uma é através da limitação do número de turistas que entram em Macau. Mas aqui a questão é como se vai fazer isso? Podemos ver o modelo de Veneza, um caso em que não houve qualquer gestão turística durante muitos anos e quando se aperceberam tinha um problema. É por isso que digo aos meus alunos, se o turismo não for bem gerido, cria-se um problema. Este é o problema de Macau. O território não tem sabido como gerir o seu turismo. Temos gerado turismo, mas não o temos gerido. Antes de mais há que mudar o mindset de um sistema de gerar turismo para um sistema de gestão. Muitos destinos no mundo são governados por este modelo em que o que interessa é fazer com que entrem cada vez mais visitantes. Os números são para ser celebrados, com certeza. O número de visitantes é sempre um objectivo do turismo, mas não é o único. Questões como “estamos a conseguir com que as pessoas permaneçam mais tempo? Os visitantes estão satisfeitos? Estamos a criar novos mercados? Estamos a conseguir com que as pessoas gastem mais em coisas diferentes? Há mais objectivos estratégicos do que os números. Claro que com mais pessoas a entrar há mais gente a gastar, sim, mas também há um nível que não se refere aos gastos e que cria uma pegada física.

Em termos de diversificação, o que Macau tem para oferecer aos turistas?

O progresso na diversificação tem sido muito limitado. Sem se estabelecerem desafios comuns aos vários operadores, vai haver muito pouca diversificação. E este pensamento ainda existe. Somos um centro de jogo, o que é que isto significa? Os casinos são um pilar económico e isso não vai acabar. As ocupações dos hotéis dos casinos são na ordem dos 85 por cento, 90 por cento, temos de ter em conta que muitos destes quartos são complemento dos casinos. Muito poucos são requeridos por outra actividade que não seja o jogo. Tudo assenta na indústria do jogo. Então como se trabalha sobre isto? Na década de 80, Las Vegas tinha o mesmo problema que Macau. Mas, por volta de 1992/1993, começou a notar-se mudança. Se recuarmos um pouco, podemos ver que ali a indústria do jogo chegou à conclusão de que há um certo nível de benefícios em, por exemplo, atrair a indústria MICE principalmente no início das semanas – segunda, terça e quarta-feira. Ainda hoje temos o problema da sazonalidade em Macau. Quinta, sexta, sábado e domingo está tudo cheio, mas só com as pessoas ligadas ao jogo. Mas para actividade ligadas ao sector MICE o início da semana é preferível, não querem os fins-de-semana. Por isso, o início da semana encaixa perfeitamente para atrair MICE. Temos capacidade no Cotai para acolher as MICE, com condições muito boas. Aliás, seria uma aposta a ter em conta para a diversificação da economia tendo em consideração os hotéis dos casinos e as suas condições.
Outra questão muito importante tem que ver com a marca de Macau, que não existe.

O que é preciso fazer para criar essa marca?

Ainda estamos para lançar uma proposta de marca para Macau coerente atractiva. Há entretenimento, gastronomia, turismo culinário, património, mas nada disto é visto de forma integrada. Temos muitas coisas de facto, mas precisamos de uma proposta, de um branding, de modo a termos uma posição. Devíamos fazer o que Las Vegas fez. Percebermos quem somos, o que somos, e colocar isso numa mensagem credível dirigida a uma audiência regional e internacional. Quem somos, de verdade? E isto ainda significa mais quando pensamos agora no plano de cooperação regional da Grande Baía. Como é que Macau se vai salientar? As mensagens dos casinos são diferentes das ofertas culturais, por exemplo e não pode existir esta diferença num destino. Temos que encontrar uma coerência. O turismo de Hong Kong faz isso, tenta ter com a sua diversidade uma forma de trabalhar única. É preciso criar uma marca consistente e depois é avaliar o efeito dessa marca. Não somos muito bons a avaliar os resultados do que se faz. Fazemos muitos eventos, ao longo de todo o ano, mas não sabemos o impacto que têm. Não em relação aos bilhetes vendidos para esses eventos, há muito mais unidades de medida que são consideradas pelo mercado. Como é que estes eventos tiveram impacto na marca local, como é que atraíram novos mercados, permitiram que as pessoas ficassem durante quanto tempo em Macau, promoveram, que outro tipo de ofertas. Há ciência ligada ao turismo, mas, infelizmente, durante estes anos todos não temos sido bons em utiliza-la. Isto leva a uma terceira questão: porque não temos mais turistas internacionais e dependemos cada vez mais dos visitantes do continente? Deveríamos medir o impacto desta situação e agora com a Grande Baía como é que vamos ter o nosso impacto dentro de um mercado regional. Precisamos de apresentar um bom produto, melhor do que os das outras regiões.

Macau vai conseguir competir em termos de atracção com Hong Kong e as outras cidades da Grande Baía?

Vamos ser honestos. Vai existir agora um outro nível de competição. Existe em todo o lado, mesmo dentro da Europa, por exemplo. Mas também vai existir colaboração. Por exemplo, tendo em conta uma viagem de seis ou sete dias, e preciso ter uma plataforma de colaboração de modo a que os turistas sejam distribuídos pelas várias regiões. Temos isso no Reino Unido, as pessoas acabam por distribuir a sua viagem por mais do que um destino e assim todos acabam por ter uma fatia deste turismo. Isso funciona. Alguns ficam com mais, mas é natural. Neste caso, Hong Kong poderá ter turistas durante mais dias, mas não faz mal. Mas penso que a mensagem para a Grande Baía é definir a posição de Macau. Penso que temos uma forte proposta de entretenimento, com os festivais que acontecem no território. Agora, como é que vamos para o mercado com ela. Como é que a vamos comunicar? Temos óptimos festivais. Não gosto de ver lugares vazios nestes festivais. Temos de ver, por exemplo como vendemos estes festivais em conjunto? Qual a campanha única, capaz de apelar para estes festivais. Por exemplo, o Reino Unido tem um slogan simples que é “visite o Reino Unido” e tudo o que o Reino Unido tem para oferecer é publicitado com este slogan como base. Há uma ideia de campanha. É preciso ter uma ideia única de campanha e tudo o resto tem de trabalhar para ela. Em Macau há sempre um certo nível de fragmentação, temos o departamento do desporto, o da cultura, do turismo, o económico e todos fazem alguma coisa. Precisamos que se juntem para formar uma campanha, que percebam os produtos que cada um tem, pegar neles e, a partir daí, desenvolver uma campanha para vender Macau. Os sectores envolvidos, privado e público, têm de colaborar.

Macau é um território pequeno. Não deveria ser mais fácil fazer um projecto desses aqui do que em lugares como o Reino Unido?

À partida sim, deveria ser. Mas há muitos interesses neste sector em Macau e com diferentes posições no mercado e diferentes níveis de influência. Nunca se consegue um consenso absoluto entre as várias partes envolvidas. Macau até já tem um bom plano. O problema está na execução deste plano. Quem vai fazer o quê, quando e quem é responsável? Esta é a parte mais traiçoeira, a execução. É necessário ter um nível de liderança que defina quem é responsável pelo quê.

Há quem defenda que o jogo deveria estar mais envolvido na diversificação de ofertas turísticas. O Governo deveria aproveitar a renovação das licenças para fazer mais exigências neste sentido?

Há sempre uma linha que define quem é responsável pelo quê. O sector privado é normalmente responsável por obrigações fiscais, isto está muito claro nos contratos de concessão e neste sentido as operadoras têm cumprido aquilo a que se comprometeram. O Governo é responsável pelo estabelecimento de políticas. Seria positivo que ambas as partes se encontrassem e descobrissem uma forma de trabalhar juntos na mesma direcção.

O Governo deveria trabalhar mais com o sector académico e ligado à investigação?

Sim, já há alguma colaboração. Mas o problema é outro. Temos aqui alunos muito bons, cheios de ideias e de conhecimento, mas quando entram na Função Pública ninguém os ouve, o que têm para dizer não sobe na hierarquia. A discussão nunca sobe, a não ser que exista uma organização interna que promova este tipo de comunicação, isso não acontece aqui.

1 Abr 2019

Turismo | Lançada aplicação móvel para ensino de linguagem gestual

[dropcap]F[/dropcap]oi ontem lançada uma aplicação móvel para ensino online de linguagem gestual pela Direcção dos Serviços do Turismo (DST). O objectivo é “promover um ambiente sem barreiras“ aos turistas com necessidades especiais, apontou a directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes na apresentação da iniciativa.

Para promover um ambiente mais inclusivo as pessoas ligadas ao sector “têm que continuar a aprender de modo a estarem preparados para os desafios desta área”, referiu a responsável. A iniciativa conta com o apoio do MGM Macau e da Associação de Surdos Mudos do território.

Segundo o director executivo da MGM China, Grant Bowie, para incluir as pessoas com necessidades especiais é preciso o comprometimento da sociedade “de modo a que não se sintam diferentes”. Só desta forma é possível estender a todos os visitantes o sentimento de “pertença à comunidade local”, sublinhou.

O MGM pretende ainda ser um exemplo através das ofertas de trabalho destinadas a pessoas com deficiências, empregando actualmente 49 funcionários com necessidades especiais.

26 Mar 2019

Turismo | Wong Kit Cheng quer balanço da recolha de mega-dados

[dropcap]D[/dropcap]urante o Ano Novo Chinês, o Governo utilizou pela primeira a parceria com a Alibaba para controlar o número de visitantes e prever eventuais destinos. Agora, Wong Kit Cheng quer que o Executivo faça um balanço dos resultados destas medidas no controlo de turistas e gestão das zonas mais ocupadas.

É este o conteúdo da última interpelação escrita da deputada ligada à Associação Geral das Mulheres de Macau. Com o recurso à recolha de mega-dados das pessoas que entram em Macau, a Alibaba diz ser capaz de prever quais os destinos turísticos na RAEM que vão ser mais procurados e as horas de maior tráfego, para depois as autoridades poderem responder.

“À luz dos testes e das análises feitos, houve melhorias preliminares em relação à dispersão dos turistas, foi possível aliviar a pressão dos locais mais visitados com este mecanismo”, questiona a deputada. Durante o Ano Novo Chinês entraram em Macau 1,21 milhões de turistas, o que marca um aumento de 26 por cento face ao período homólogo.

26 Mar 2019