Casinos | Centro financeiro pode aumentar dependência do jogo

O analista da Economist Intelligence Unit (EIU) que segue a economia de Macau considera que a ideia de Pequim transformar o território num centro financeiro arrisca aprofundar a dependência económica do sector do jogo

 

[dropcap]A[/dropcap] ideia de lançar uma bolsa de valores de Macau, encorajando os grandes casinos a dispersarem capital em bolsa, “poderia, ironicamente, aprofundar a dependência do território do sector do jogo, já que o desempenho do mercado ficaria ligado ao crescimento das receitas dos casinos”, disse Nick Marro, em declarações à Lusa.

O analista da EIU reagia assim à proposta que Pequim deverá avançar nos próximos dias sobre o aprofundamento da vertente financeira de Macau, criando uma bolsa de valores imobiliários, garantindo terras para Macau se desenvolver na China continental e conferindo-lhe políticas favoráveis ao sector financeiro em pé de igualdade com Hong Kong.

“Já temos visto alguns passos discretos para aprofundar o desenvolvimento do sector financeiro em Macau no último ano, incluindo através da emissão de títulos de dívida no Verão, e isto alinha-se com a política antiga de diversificação da economia face à enorme dependência actual do jogo e do turismo”, salientou Nick Marro.

No entanto, alertou, “os sectores financeiros não nascem da noite para o dia, e qualquer progresso nesta área iria necessitar de uma estratégia empenhada e de longo prazo”, já que Macau “iria competir com Hong Kong e Shenzhen, que já têm centros financeiros bem estabelecidos”.

Pouco talento

Nas declarações à Lusa, o perito da unidade de análise económica da revista britânica The Economist afirmou que “tentar mitigar esta concorrência através do foco em empresas portuguesas ou em ‘start-ups’ teria um efeito negativo, já que funcionaria contra os mercados de capitais, já que iria estar a limitar o foco do território numa parte incrivelmente pequena do mercado”.

Outra das dificuldades que fazem este analista estar reticente quanto à eficácia da criação de um novo centro financeiro tem a ver com a qualificação da mão de obra local nesta área.

“Não vemos que o talento da cidade seja suficientemente qualificado para sustentar o desenvolvimento de um mercado de capitais ambicioso”, disse o analista, considerando possível que um dos requisitos para a atribuição de novas licenças de jogo possa ser a listagem em bolsa. Isso, concluiu, “iria aprofundar a dependência de Macau face ao jogo e turismo”, o que seria negativo tendo em conta os objectivos do Governo.

“A ideia está a ser vista pelas autoridades em Macau como uma recompensa por terem evitado os protestos anti-governamentais que tem assolado o vizinho Hong Kong nos últimos seis meses, e incluem o estabelecimento de uma bolsa em moeda chinesa e um centro de pagamentos em renmimbis já em preparação, bem como a alocação de terras para Macau se desenvolver na região vizinha da China continental”, segundo informação veiculada pela Reuters.

18 Dez 2019

Casinos | Centro financeiro pode aumentar dependência do jogo

O analista da Economist Intelligence Unit (EIU) que segue a economia de Macau considera que a ideia de Pequim transformar o território num centro financeiro arrisca aprofundar a dependência económica do sector do jogo

 
[dropcap]A[/dropcap] ideia de lançar uma bolsa de valores de Macau, encorajando os grandes casinos a dispersarem capital em bolsa, “poderia, ironicamente, aprofundar a dependência do território do sector do jogo, já que o desempenho do mercado ficaria ligado ao crescimento das receitas dos casinos”, disse Nick Marro, em declarações à Lusa.
O analista da EIU reagia assim à proposta que Pequim deverá avançar nos próximos dias sobre o aprofundamento da vertente financeira de Macau, criando uma bolsa de valores imobiliários, garantindo terras para Macau se desenvolver na China continental e conferindo-lhe políticas favoráveis ao sector financeiro em pé de igualdade com Hong Kong.
“Já temos visto alguns passos discretos para aprofundar o desenvolvimento do sector financeiro em Macau no último ano, incluindo através da emissão de títulos de dívida no Verão, e isto alinha-se com a política antiga de diversificação da economia face à enorme dependência actual do jogo e do turismo”, salientou Nick Marro.
No entanto, alertou, “os sectores financeiros não nascem da noite para o dia, e qualquer progresso nesta área iria necessitar de uma estratégia empenhada e de longo prazo”, já que Macau “iria competir com Hong Kong e Shenzhen, que já têm centros financeiros bem estabelecidos”.

Pouco talento

Nas declarações à Lusa, o perito da unidade de análise económica da revista britânica The Economist afirmou que “tentar mitigar esta concorrência através do foco em empresas portuguesas ou em ‘start-ups’ teria um efeito negativo, já que funcionaria contra os mercados de capitais, já que iria estar a limitar o foco do território numa parte incrivelmente pequena do mercado”.
Outra das dificuldades que fazem este analista estar reticente quanto à eficácia da criação de um novo centro financeiro tem a ver com a qualificação da mão de obra local nesta área.
“Não vemos que o talento da cidade seja suficientemente qualificado para sustentar o desenvolvimento de um mercado de capitais ambicioso”, disse o analista, considerando possível que um dos requisitos para a atribuição de novas licenças de jogo possa ser a listagem em bolsa. Isso, concluiu, “iria aprofundar a dependência de Macau face ao jogo e turismo”, o que seria negativo tendo em conta os objectivos do Governo.
“A ideia está a ser vista pelas autoridades em Macau como uma recompensa por terem evitado os protestos anti-governamentais que tem assolado o vizinho Hong Kong nos últimos seis meses, e incluem o estabelecimento de uma bolsa em moeda chinesa e um centro de pagamentos em renmimbis já em preparação, bem como a alocação de terras para Macau se desenvolver na região vizinha da China continental”, segundo informação veiculada pela Reuters.

18 Dez 2019

Economist | Prevista recessão em Macau de 5,5% este ano e 3,3% em 2020

O analista da consultora Economist Intelligence Unit (EIU) que segue a economia de Macau previu ontem à Lusa que o território enfrente uma recessão neste e no próximo ano, regressando ao crescimento em 2021, com 2,9%. Além disso, a consultora estima que Macau continue imune à instabilidade em Hong Kong

 
[dropcap]P[/dropcap]revemos que a economia fique em recessão neste e no próximo ano, principalmente como resultado do abrandamento económico na China, que vai pesar no fluxo de turismo e na despesa feita no jogo em Macau, o que faz com que o PIB caia 5,9 por cento este ano”, disse Nick Marro.
Em entrevista à Lusa, o analista da unidade de análise da revista britânica The Economist diz esperar que a economia de Macau “abrande a recessão para 3,3 por cento em 2020, num contexto de recuperação das receitas do jogo e do investimento, e da previsão de um acordo entre os Estados Unidos e a China nesse ano”. Isto, salientam, “deve levar a uma ligeira recuperação na confiança dos empresários e consumidores na China, levando a um aumento do turismo para Macau”.
Do ponto de vista das políticas públicas, a previsão aponta para a continuação de dificuldades do Governo em diversificar a economia, fortemente assente nas receitas do jogo. “Esperamos que o Governo continue a debater-se com os seus esforços políticos para diversificar a economia para lá do jogo, pelo menos nos próximos dois anos”, diz Nathan Hayes, salientando que “a volatilidade neste sector vai continuar a pesar negativamente na actividade económica este ano, particularmente devido ao abrandamento da economia chinesa”.
De acordo com os dados mais recentes da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), as receitas brutas acumuladas de Janeiro a Novembro totalizaram 269,62 mil milhões de patacas, menos 2,4 por cento do que no ano anterior.
No mesmo período de 2018, as receitas brutas acumuladas foram de 276,38 mil milhões de patacas.
Em 2018, as receitas dos casinos na capital mundial do jogo cresceram 14 por cento, para 302,8 mil milhões de patacas.

Vacinas em dia

O analista previu ainda que os protestos em Hong Kong vão continuar a não ter influência em Macau, que deverá manter-se politicamente estável. “Não vemos grande impacto dos protestos de Hong Kong em Macau; a dinâmica política em ambos os territórios é muito diferente, há um movimento muito mais local em Hong Kong, sustentado nos protestos, enquanto que, pelo contrário, essa dinâmica não se impôs em Macau, por isso esperamos que o grau relativamente alto de estabilidade política em Macau se mantenha nos próximos anos”, disse Nick Marro em entrevista à Lusa.
O analista da EIU que segue Macau disse que uma das prioridades do novo Governo será tentar diversificar a economia, apostando mais no jogo popular do que no jogo VIP. “É provavelmente uma tentativa para garantir um crescimento sustentável de longo prazo neste sector”, disse o analista, reconhecendo que apesar de Macau ser o principal destino do jogo mundial, as receitas têm descido muito este ano. “Isto deve-se ao abrandamento da expansão da economia chinesa e à ansiedade que a guerra comercial com os Estados Unidos gerou” nos jogadores, afirmou, considerando que “ambos os factores contribuíram negativamente para o fluxo de turistas chineses para Macau, o que teve um efeito nos casinos, e vai continuar a ter em 2020”.
Sobre a pataca, uma das últimas grandes heranças do tempo colonial português, Nick Marro não espera alterações à moeda de Macau. “A moeda é bastante estável, está indexado ao dólar de Hong Kong, que por sua vez está pegado do dólar norte-americano, e, portanto, há aqui um grau subjacente de estabilidade; não esperamos quaisquer alterações a este acordo, mesmo com a turbulência política que se vive em Hong Kong”, concluiu.

13 Dez 2019

Economist | Prevista recessão em Macau de 5,5% este ano e 3,3% em 2020

O analista da consultora Economist Intelligence Unit (EIU) que segue a economia de Macau previu ontem à Lusa que o território enfrente uma recessão neste e no próximo ano, regressando ao crescimento em 2021, com 2,9%. Além disso, a consultora estima que Macau continue imune à instabilidade em Hong Kong

 

[dropcap]P[/dropcap]revemos que a economia fique em recessão neste e no próximo ano, principalmente como resultado do abrandamento económico na China, que vai pesar no fluxo de turismo e na despesa feita no jogo em Macau, o que faz com que o PIB caia 5,9 por cento este ano”, disse Nick Marro.

Em entrevista à Lusa, o analista da unidade de análise da revista britânica The Economist diz esperar que a economia de Macau “abrande a recessão para 3,3 por cento em 2020, num contexto de recuperação das receitas do jogo e do investimento, e da previsão de um acordo entre os Estados Unidos e a China nesse ano”. Isto, salientam, “deve levar a uma ligeira recuperação na confiança dos empresários e consumidores na China, levando a um aumento do turismo para Macau”.

Do ponto de vista das políticas públicas, a previsão aponta para a continuação de dificuldades do Governo em diversificar a economia, fortemente assente nas receitas do jogo. “Esperamos que o Governo continue a debater-se com os seus esforços políticos para diversificar a economia para lá do jogo, pelo menos nos próximos dois anos”, diz Nathan Hayes, salientando que “a volatilidade neste sector vai continuar a pesar negativamente na actividade económica este ano, particularmente devido ao abrandamento da economia chinesa”.

De acordo com os dados mais recentes da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), as receitas brutas acumuladas de Janeiro a Novembro totalizaram 269,62 mil milhões de patacas, menos 2,4 por cento do que no ano anterior.

No mesmo período de 2018, as receitas brutas acumuladas foram de 276,38 mil milhões de patacas.
Em 2018, as receitas dos casinos na capital mundial do jogo cresceram 14 por cento, para 302,8 mil milhões de patacas.

Vacinas em dia

O analista previu ainda que os protestos em Hong Kong vão continuar a não ter influência em Macau, que deverá manter-se politicamente estável. “Não vemos grande impacto dos protestos de Hong Kong em Macau; a dinâmica política em ambos os territórios é muito diferente, há um movimento muito mais local em Hong Kong, sustentado nos protestos, enquanto que, pelo contrário, essa dinâmica não se impôs em Macau, por isso esperamos que o grau relativamente alto de estabilidade política em Macau se mantenha nos próximos anos”, disse Nick Marro em entrevista à Lusa.

O analista da EIU que segue Macau disse que uma das prioridades do novo Governo será tentar diversificar a economia, apostando mais no jogo popular do que no jogo VIP. “É provavelmente uma tentativa para garantir um crescimento sustentável de longo prazo neste sector”, disse o analista, reconhecendo que apesar de Macau ser o principal destino do jogo mundial, as receitas têm descido muito este ano. “Isto deve-se ao abrandamento da expansão da economia chinesa e à ansiedade que a guerra comercial com os Estados Unidos gerou” nos jogadores, afirmou, considerando que “ambos os factores contribuíram negativamente para o fluxo de turistas chineses para Macau, o que teve um efeito nos casinos, e vai continuar a ter em 2020”.

Sobre a pataca, uma das últimas grandes heranças do tempo colonial português, Nick Marro não espera alterações à moeda de Macau. “A moeda é bastante estável, está indexado ao dólar de Hong Kong, que por sua vez está pegado do dólar norte-americano, e, portanto, há aqui um grau subjacente de estabilidade; não esperamos quaisquer alterações a este acordo, mesmo com a turbulência política que se vive em Hong Kong”, concluiu.

13 Dez 2019

Estudo | Relatório do The Economist revela declínio global da democracia

O Índice de Democracia da unidade de pesquisa do The Economist revela que 2017 foi um ano negro para as aspirações democráticas no mundo inteiro. De acordo com o relatório, a Ásia foi das regiões que mais caíram no índice, numa tendência global de ataque à democracia e à liberdade de expressão. Em primeiro lugar do ranking ficou Noruega. O último lugar foi, sem surpresas, para a Coreia do Norte

 

[dropcap style≠’circle’]2[/dropcap]017 foi um ano negro para a democracia, uma asserção que não parece surpreendente se fizermos uma revisão do que se passou no ano passado, mas que ganha substância no Índice de Democracia do jornal The Economist. O relatório divide em quatro categoria os regimes analisados: Democracias completas, democracias com falhas, regimes híbridos e regimes autoritários.

O estudo baseia-se na análise de 60 indicadores que medem o processo eleitoral e o pluralismo, o funcionamento do Governo, a participação política, a cultura democrática e política e as liberdades civis. Logo à partida, o resultado é chocante, nomeadamente por demonstrar que apenas 5 por cento da população mundial vive numa democracia completa. Enquanto que quase um terço do mundo vive sob o jugo de regimes autoritários, com particular destaque para a China neste capítulo. Aliás, no geral, 89 países e territórios viram as suas pontuações descerem, registando a maior queda desde 2010, com os países asiáticos a liderar o declínio.

Não é, portanto, de espantar que nesta parte do globo os únicos países com pontuações que os colocam na categoria das democracias completas são a Austrália e a Nova Zelândia.

A Ásia foi o continente que sofreu o maior declínio em relação a 2016, além de registar a maior discrepância entre países. O bloco asiático obteve 5.63 de pontuação, ficando para trás em relação à América do Norte que atingiu os 8.56, a Europa Ocidental que teve 8.38 e a América Latina com 6.26.

A pontuação obtida pela Ásia em 2017 contraria os avanços registados nos anos anteriores.

“Foi um ano de retrocesso democrático na região e a pior performance desde 2010/2011 no rescaldo da crise económica e financeira global”, explica Duncan Innes-Ker, director da Ásia The Economist Inteligent Unit, a organização responsável pelo estudo. Duncan Innes-Ker salienta “como maiores razões para as tendências de regressão a consolidação do poder de alguns líderes chave da região, a crescente intolerância em relação a minorias e os atropelos à liberdade de expressão”.

As duas maiores democracias emergentes asiáticas, a Índia e a Indonésia, sofreram declínios acentuados nas respectivas pontuações. A Índia caiu da 32ª posição, que ocupava em 2016, para o lugar 42, enquanto a Indonésia desceu do lugar 48 para 68.

Um dos maiores reveses sofridos pelo Estado indonésio, que explicam a queda de 20 lugares no ranking, está relacionado com o município de Jacarta, após a prisão por blasfémia contra o Islão do antigo Governador, Basuki Tjahaja Purnama, um cristão de origem chinesa. O ex-governante foi condenado a uma pena de prisão de dois anos.

China na cauda

A ascensão das ideologias conservadoras e religiosas também afectaram a Índia. O fortalecimento das forças Hindus de direita levou ao aumento do número de melícias e vigilantes e da opressão de comunidades de minorias, em especial muçulmanas, e outras vozes dissidentes.

Cá pela região, Hong Kong caiu três lugares para o lugar 71, num total de 167 jurisdições. Macau não está incluída na lista do The Economist, porém, a pontuação obtida pela região vizinha é um bom indicador comparativo. Na análise de 2017, Hong Kong teve a mesma pontuação que a Namíbia e o Paraguai, ocupando a categoria das democracias com falhas, ficando atrás de territórios como Singapura, Mongólia, Malásia e Sri Lanka.

Neste aspecto é de referir que a China ficou no 139º lugar, entre 167 países e territórios, ocupando a categoria dos regimes autoritários, atrás de países como Zimbabué, Ruanda, Rússia, Cuba, Venezuela Angola, Moçambique e Iraque.

O resultado chinês foi influenciado pela consolidação do poder de Xi Jinping, algo que teve o seu apogeu na inscrição do pensamento do presidente sobre a Nova Era de socialismo de características chinesas na constituição do Partido Comunista Chinês. Além disso, a pontuação chinesa também foi influenciada pela aceleração do estado de vigilância trazido pelas políticas de Pequim no que toca à ciber-segurança e pela perseguição e prisão de activistas dos direitos humanos e líderes religiosos.

Apesar de terem características políticas completamente diferentes, também o Japão e as Filipinas viram os seus líderes consolidarem o poder. O Primeiro-Ministro Shinzo Abe assegurou o quarto mandato à frente dos destinos do Japão, depois de uma vitória esmagadora do seu partido, o Partido Democrático Liberal, que mantém a posição dominante na legislatura.

No que diz respeito às Filipinas, que ocupa o lugar 51, o país desceu a sua pontuação devido à pouco precisa declaração de lei marcial na parte sul de Mindanao e pela actuação autoritária do presidente Rodrigo Duterte.

Imprensa livre

Um dos factores de análise da equipa de investigação do The Economist é a liberdade de imprensa e de expressão. Nesse domínio, a editora do relatório, Joan Hoey, explica que a liberdade de expressão enfrenta uma tripla ameaça. “Tanto nos regimes democráticos como autoritários, o crescimento do uso de processos por difamação, a prevenção do terrorismo e as leis de blasfémia são entraves à liberdade de expressão”.

As ameaças à liberdade de expressão não são oriundas apenas das estruturas de poder político. “Entidades privadas, onde se incluem militantes islâmicos, gangs criminais e interesses instalados usam a intimidação, ameaças, violência e homicídio para limitar o discurso livre. Aqueles que argumentam pelo direito de não se sentirem ofendidos estão a exigir “espaços seguros”, “avisos de ofensas” e leis e regulamentos para trazer o “discurso odioso” nas redes sociais de forma a limpar a vida pública de conteúdos alegadamente ofensivos”, explica a editora.

De acordo com o índice respeitante à liberdade de imprensa, o estudo revela que apenas 30 países, do universo de 167 estudados, estão classificados como “completamente livres”. Esta parcela representa apenas 11 por cento da população mundial. Na categoria de parcialmente livre estão 40 países, onde vive 34,2 por cento da população mundial.

De resto, 97 países do Índice de Liberdade de Imprensa tiveram notas que os colocaram na categoria de “sem liberdade”.

Pilares tremidos

Apesar dos maus resultados, 2017 é um ano que traz alguma esperança, pelo menos no contraste com o ano anterior. De acordo com os autores do relatório, “se 2016 teve uma notável insurgência de populismo contra políticos e partidos mainstream em democracias desenvolvidas na Europa e na América do Norte, 2017 foi marcado pela resposta a este populismo evidente nos movimentos de oposição ao Brexit e à administração Trump”.

No Estados Unidos, o estudo realça a polarização política, que tem vindo a crescer ainda mais desde que Donald Trump ocupa a Casa Branca, intensificando clivagens entre republicanos e democratas em temas como a imigração, economia e políticas ambientais. “As crescentes divisões entre os dois pólos políticos ajudam a explicar o porquê das dificuldades de governação da Administração Trump, apesar de os republicanos controlarem ambas as câmaras do Congresso”, lê-se no relatório.

Face a este cenário não é de estranhar que os Estados Unidos tenham sido classificados como uma democracia com falhas, uma classificação que abrange também a grande maioria dos países europeus como, por exemplo, Portugal, Itália, França, Grécia e Bélgica.

O último classificado na lista de países com democracias completas é a Espanha, que viu o seu lugar posto em causa devido à forma como Madrid lidou com a questão catalã. A equipa do The Economist não deixou passar em claro as tentativas de parar o referendo pela independência da Catalunha, nomeadamente a forma como foram invadidas assembleias de voto, se encerraram portais de internet e se perseguiram eleitores.

A maioria dos países europeus classificados como democracia com falhas situam-se na Europa de Leste, com a Roménia à cabeça desta lista, ocupando o número 64 do ranking. De acordo com o relatório, “a Europa de Leste tem tradicionalmente pontuações baixas no Índice de Democracia devido à fraca cultura política, transições políticas para a democracia e dificuldades na salvaguarda da lei e contra a corrupção”.

5 Fev 2018

Estudo | Singapura ultrapassa Estados Unidos a atrair investimento chinês

O índice China Going Global Investment de 2017 do jornal The Economist mostra que os Estados Unidos deixaram de ser o principal foco de investimento estrangeiro de Pequim. Singapura passou a ocupar o primeiro lugar, enquanto Hong Kong ocupa o terceiro lugar do pódio, num ano em que o investimento no estrangeiro caiu cerca de 40 por cento, sendo expectável que volte a subir no futuro

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]o longo dos últimos anos, a economia chinesa tem inundado uma multitude de mercados estrangeiros com investimentos milionários. Primeiro com empresas estatais a conquistarem sectores económicos estratégicos e a comprar dívida externa, mais tarde com o sector privado abrir os cordões à bolsa para comprar o que lhes aparecia à frente.

Independentemente da ajuda, ou da coordenação de interesses privados com a cúpula de poder de Pequim, as empresas chinesas investiram fortemente em economias estrangeiras. Que o diga Portugal, o país da União Europeia com maior peso de investimento chinês no PIB local, chegando aos 3,3 por cento em 2011 durante os dias da total sangria de privatizações movidas pelo resgate financeiro à economia portuguesa.

Ao dinheiro chinês estatal gasto nas privatizações da EDP e REN, juntaram-se os milhões privados para a aquisição da seguradora Fidelidade e de empresas do ramo da saúde como as unidades hospitalares da Luz Saúde. Já para não falar dos avultados investimentos na frágil banca portuguesa, com a aquisição da maioria do capital do BCP pelo grupo Fuson e da venda do BES Investimento e no BANIF.

Seguindo as directivas de Xi Jinping, no ano passado o investimento externo em interesses estrangeiros bateu todos os records, ultrapassando os 200 mil milhões de dólares, depois de fortes incentivos de Pequim para aumentar a influência chinesa nos mercados internacionais. Uma tendência que se inverteu este ano, com uma queda considerável do investimento. Portugal passou do lugar 32 em 2015 para 48 na lista dos países onde a China injectou capital.

Montanha chinesa

Entretanto, as aquisições de empresas e dívida abrandaram nos primeiros nove meses deste ano, com o Governo chinês a colocar água na fervura da sangria de capitais para fora do país que estava a colocar uma grande pressão sob o yuan.

De acordo com o Ministro do Comércio chinês, o investimento no estrangeiro em países abrangidos pelo projecto “Uma Faixa, Uma Rota” cresceu 18,2 por cento para 14,8 mil milhões de dólares em 2015. Em 2016, esse valor contraiu 2 por cento, para 14,5 mil milhões de dólares. Entre, Janeiro e Setembro, os investimentos em países do projecto que recria a Rota da Sede caiu 13,7 por cento. No total, o investimento no estrangeiro caiu 40 por cento nos primeiros nove meses de 2017, de acordo com o China Going Global Investment.

A política de estabilização cambial fez com que algumas aquisições de grande montante fossem travadas, como por exemplo os investimentos da gigante Dalian Wanda Group em imobiliário e entretenimento em países como os Estados Unidos.

Outro dos factores de arrefecimento do investimento chinês no estrangeiro prende-se com algumas tensões que surgiram nas relações bilaterais e de comércio externo com países como os Estados Unidos, que perdeu o primeiro lugar da lista de investimentos, e a Índia, que caiu oito lugares. O caso indiano tem algum destaque no relatório do The Economist uma vez que é um dos países com melhores perspectivas de crescimento dentro do projecto “Uma Faixa, Uma Rota”. Além disso, os gigantes dos sectores da electrónica e comunicações Xiaomi e Huawei estabelecerem negócios bem sucedidos na Índia.

Noutro prisma, perspectivas negras de desenvolvimento económico e problemáticas políticas domésticas motivaram o abrandamento do investimento chinês em países como o Brasil e o Reino Unido na sequência do Brexit.

Este ano, Singapura passou a ser o primeiro destino estrangeiro do capital chinês, ultrapassando os Estados Unidos que caíram para segundo lugar. Hong Kong está em terceiro lugar, enquanto a Malásia (que subiu 16 lugares) e Austrália ocupam o quarto e quinto posto, respectivamente.

Pode-se ler no relatório que “Malásia e Singapura destacam-se como países atractivos do projecto Uma Faixa, Uma Rota, providenciando bom ambiente para investimento, assim como oferecendo oportunidades e baixos níveis de risco”.

Recolher as fichas

Um dos elefantes na sala financeira da segunda maior economia mundial é a enorme dívida acumulada desde o crise financeira global de 2007. Ao longo da década de grande crescimento económico chinês, Pequim acumulou uma quantidade considerável de dívida. Em particular a dívida empresarial, que no ano passado ascendeu a 234 por cento do PIB chinês, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional.

Aliás, como resultado desta tendência, duas das mais influentes agências de classificação de risco de crédito, Moody’s e S&P, baixaram o rating da China.

A descida dos investimentos chineses também se ficou a dever à política de Pequim para prosseguir uma campanha de aquisições estrangeiras com maior racionalidade. Em primeiro lugar, o Governo de Xi Jinping proibiu investimentos nas indústrias do jogo e sexo. Os sectores do imobiliário, hotelaria, cinema e desporto passaram a ser sujeitos a restrições impostas pelo Conselho de Estado chinês, em contrapartida encorajou-se o investimento em países do projecto “Uma Faixa, Uma Rota”.

Ao mesmo tempo, Pequim apontou como um dos objectivos para as companhias nacionais o investimento global em tecnologias de ponta, como carros eléctricos, tecnologia financeira e energias renováveis. Nesse aspecto importa referir que os gigantes Tencent e Alibaba têm investido bastante em start-ups espalhadas pela Ásia inteira.

Novas estrelas

Desde o último índice China Going Global Investment, de 2015, ficou demonstrado que apesar do investimento chinês dar primazia à estabilidade de mercados já desenvolvidos, este ano os países em desenvolvimento foram os que registaram maiores subidas de investimento, principalmente aqueles inseridos no projecto “Uma Faixa, Uma Rota”.

Daí as ascensões meteóricas no ranking de países como a Malásia, Cazaquistão, Tailândia e Irão.

O relatório elaborado pela equipa do The Economist aponta 2017 como um ano de acerto, principalmente tendo em conta o fortalecimento de supervisão e regulamentos aos investimentos estrangeiros. Assim sendo, o relatório indica que esta queda de investimento deve ver temporária, mantendo-se o desejo de conquistar novos mercados e adquirir marcas, patentes e tecnologia.

Dan Wang, analista chinês que participou na elaboração do índice, refere que “ainda é uma altura excitante para observar a expansão internacional da economia chinesa”. No entanto, o analista adverte que “as empresas precisam ser mais selectivas quanto às regiões e Estados onde investem”.

O caso do Japão é também de assinalar. Apesar da queda de sexto lugar no ranking para 14º, as relações diplomáticas entre Pequim e Tóquio têm melhorado, apesar de destabilizações episódicas. Ainda assim, uma sondagem do ano passado mostrava que apenas 11,3 por cento dos japoneses têm uma visão positiva da China.

Mas há sobretudo uma razão estrutural para a posição do Japão na lista de países que mais captam investimento chinês. Pode-se ler no relatório que “os Estados Unidos e Japão mantém as suas posições no ranking devido às oportunidades de aquisição de tecnologia e marcas que oferecem às empresas chinesas, através de fusões e aquisições”. Por outro lado, países como a “Índia e o Irão são mercados de desenvolvimento económico acelerado nos quais as empresas chinesas têm boas chances de serem competitivas”.

Apesar de Hong Kong estar entre as três regiões que mais investimento chinês conseguem captar, Macau não entra na lista do The Economist.

11 Dez 2017

China | Consumo privado irá contribuir para quase metade da economia

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] consumo privado contribuirá para quase metade da economia chinesa, em 2030, segundo a unidade de análise da revista The Economist, após no ano passado ter constituído pela primeira vez o principal motor de crescimento do país.

A Economist Intelligence Unit (EIU) prevê que o poder de compra dos consumidores chineses cresça a um ritmo médio de 5,5%, até ao final da próxima década, compensando a queda no investimento público e exportações.

“O volume do aumento do consumo privado chinês que estimamos para os próximos 15 anos é superior ao nível actual do consumo na UE [União Europeia]”, refere o estudo.

Pequim está a encetar uma reconfiguração do modelo económico do país, visando uma maior preponderância do consumo interno, em detrimento das exportações e do investimento em grandes obras públicas.

Em Outubro, as exportações da maior potência comercial do planeta recuaram pelo sétimo mês consecutivo, com as empresas chinesas forçadas a subir os preços, face ao aumento dos custos com a mão-de-obra e produção.

Por outro lado, no ano passado, o consumo privado subiu 8,4%, em termos homólogos, superando o ritmo de crescimento da economia chinesa, que se fixou em 6,9%.

Os consumidores chineses contribuem agora para 38% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, uma percentagem que é pela primeira vez superior ao investimento público e às exportações.

Na análise enviada esta semana aos investidores e a que agência Lusa teve acesso, os analistas da revista britânica The Economist prevêem que, em 2030, o consumo privado represente 47,4% do PIB chinês.

O estudo refere que 35% da população chinesa, ou cerca de 480 milhões de pessoas, terão um rendimento médio alto ou elevado, um segmento que situa acima dos 10.000 dólares.

Trata-se de um aumento significativo, face aos actuais 132 milhões de consumidores chineses – dez por cento da população – com um rendimento anual acima daquele montante.

Já a percentagem de população com rendimentos mais baixos – inferiores a 2.100 dólares – deverá cair dos actuais 36,9% para 11%, enquanto aquela com rendimentos mais elevados – acima dos 32.100 dólares – aumentará de 2,6% para 14,5%.

“A China vai parecer-se mais com uma sociedade de classe média, apesar de que a desigualdade continuará a constituir um desafio”, refere o estudo do EIU.

Por todo o lado

Os analistas consideram ainda que os altos rendimentos se tornarão mais dispersos: as cidades de Changsha, Chengdu e Wuhan e o município de Chongqing, todos situados no sudoeste do país, terão cada um pelo menos dois milhões de consumidores com rendimento elevado.

“Estas cidades recorreram a mão-de-obra e terrenos baratos para atrair empresas chinesas e estrangeiras, que procuram escapar ao aumento dos custos nas cidades costeiras. Isto ajudou a aumentar os níveis de rendimento, emprego e criação de riqueza”, refere o EIU.

Mas serão os grandes centros urbanos – Pequim, Cantão, Xangai e Shenzhen – que continuarão a ter o maior número de habitantes com rendimento elevado.

Em Xangai, por exemplo, o número de residentes com um rendimento anual acima dos 32.100 dólares corresponderá a 43,2% da população – 10 milhões de pessoas.

“Estes aumentos previstos nos níveis de rendimento significam que os hábitos de consumo dos chineses também vão sofrer alterações”, refere o estudo.

Os economistas do EIU prevêem que os novos consumidores com rendimento médio baixo vão consumir mais produtos e serviços, enquanto aqueles do segmento médio alto vão comprar produtos de marca e com qualidade.

Já o aumento da população com rendimentos elevados acarretará novas formas de consumo, que beneficiarão os sectores dos seguros e de gestão de património.

“Entender como o comportamento do consumidor chinês se vai desenvolver nos próximos 15 anos será importante para as empresas se anteciparem”, sublinha o estudo.

15 Nov 2016