José Simões Morais h | Artes, Letras e Ideias太昊陵 Tai Hao Ling Templo mausoléu de Fu Xi Dos dezoito mais importantes mausoléus da China, o Templo do Mausoléu de Tai Hao em Huaiyang é o ancestral e está desde 1996 na Lista Nacional de Relíquias Culturais Protegidas. Construído de acordo com a filosofia dos oito trigramas criados por Fu Xi, a arquitectura do templo serviu de padrão aos palácios imperiais e mausoléus depois edificados para sepultar os Imperadores. Logo após a morte de Fu Xi, ocorrida nos inícios do terceiro século antes da nossa Era, entre os anos de 2838 e 2738 a.n.E., no mausoléu, situado a 4 km SE da sua capital Wanqiu, realizavam-se celebrações ao primeiro dos três Soberanos Imperadores e o mais importante dos cem reis. Em Wanqiu, pouco tempo depois Yan Di reconstruiu a sua capital e renomeou-a Chen, aí vivendo por um curto período, segundo Sima Qian no ShiJi. Os Anais de Chenzhou referem a existência do Mausoléu de Tai Hao no Período Primavera-Outono e Kong Fuzi (Confúcio), que por três vezes visitou Chenzhou (Huaiyang) e aí viveu três anos e meio, assegurou ali estar sepultado Fu Xi. Ainda antes da Dinastia Han havia um templo a acompanhar a sepultura, feita por um monte situado no extremo Norte do recinto. As construções adicionais estenderam-se sobretudo nas dinastias Tang e Song. Durante a Dinastia Tang, no ano de 630 o Imperador Tai Zong (626-649) ordenou a proibição de as pessoas colocarem no local os animais a pastar. Já em 960, o primeiro imperador da Dinastia Song, Tai Zu (960-976) mandou haver no local do mausoléu um guarda e este aí fosse viver com a família para sempre, continuando esta com as funções de tomar conta do lugar. Ordenou ainda a realização de três em três anos de uma cerimónia de oferenda de sacrifícios a Fu Xi. Em 966 existiam cinco famílias a tomar conta do mausoléu e as cerimónias de sacrifícios eram feitas duas vezes ao ano, na Primavera e no Outono. Com a chegada da dinastia mongol dos Yuan deixaram de se realizar as cerimónias de veneração e as construções do templo ficaram em ruínas. Apenas o bei (estela) do mausoléu feito na Dinastia Song se manteve de pé. A construção do actual templo provém de um decreto de Zhu Yuanzhang, (Tai Zu, 1368-1398) o primeiro imperador da Dinastia Ming, que tornou o mausoléu o número 1 de toda a China, quando em 1371 ele mesmo aí foi oferecer sacrifícios a Tai Hao. Informação do livro MingShi LiZhi (História da Dinastia Ming), que indica ser Chenzhou o único lugar permitido para existir um templo a Fu Xi. Depois colocou uma pessoa e a família a guardar o mausoléu. Os inúmeros templos em honra dos Três Ancestrais por toda a China levaram Tai Zu, ainda em 1371, a mandar destruir os que não fossem templos dos mausoléus. Por isso, o único templo a Fu Xi preservado foi o de Chenzhou, apesar de na Colina de Gua Tai ser discretamente mantido um templo em honra de Fu Xi, por aí ser o local do seu nascimento. Entre 1448 e 1576, no templo de Chenzhou novos edifícios foram construídos, como as torres do Sino e do Tambor e arranjados os existentes. Em 1745, o governo da Dinastia Qing deu dinheiro para uma grande reparação dos edifícios do templo. Chenzhou passou em 1913 a ter definitivamente o nome de Huaiyang. Em 1949, já no tempo da República Popular da China foi criada uma Associação para tomar conta da área do templo mausoléu. Em 1984, aí foi construída uma esquadra da polícia e no ano seguinte o Museu de Huaiyang, que segundo se diz nunca chegou a abrir. Em 1996, Tai Hao Ling tornou-se Património Cultural da China. HISTÓRIAS TERRENAS Yue Fei, um general da Dinastia Song, por três vezes foi com as suas tropas defender a cidade de Chenzhou e talvez por isso, dentro do recinto de Tai Hao Ling, num pequeno pátio encontra-se o Templo a Yue Fei, sendo o único dos heróis nacionais a merecer tal honra. As estátuas de bronze de Yue Fei e Qin Hui aqui estão desde a Dinastia Ming e na Qing, a elas se juntaram as de Wang Shi, Mo Qixie, Wang Jun e Zhang Jun. Para saber quem são estas personagens, teremos de referir a História da Dinastia Song do Norte (960-1127) e a razão da mudança para a Dinastia Song do Sul. Após Zhao Kuangyin se tornar o primeiro Imperador da Dinastia Song do Norte, com o nome de Tai Zu (960-976), compreendendo serem as causas da queda da Dinastia Tang o ter comandos militares demasiado fortes e independentes do controlo dos imperadores, passou a governar com uma grande centralização de poder, reforçado pelas doutrinas confucionistas. Reduziu o exército, enfraquecendo a defesa nacional e por isso, em 1126 a Dinastia Jin (1115-1234) conquistou a capital Bianjing (Kaifeng), levando da corte Song quase três mil presos para Harbin (capital da tribo tártara Jurchen, que criou a Dinastia Jin). O que restou da Dinastia Song retirou-se para Sul e fugindo das investidas dos Jin, instalou-se em Nanjing (actual Shangqiu, na província de Henan) onde Zhao Huan foi feito Imperador Qin Zong (1125-1127). O irmão Zhao Guo, no ano de 1127 proclamou-se imperador com o nome de Gao Zong e iniciou a Dinastia Song do Sul (1127-1279), mudando em 1138 a capital para a cidade de Hangzhou, que tomou o nome de Lin‘an. O exército Jin continuou a atacar-lhes o território e Yue Fei (1103-41), um dos quatro famosos generais Song, foi vencendo os invasores tártaros que pelo Norte faziam constantes incursões. Mas nem mesmo após a Batalha de Yancheng, na província de Henan, em 1140, quando Yue Fei de novo lhes ganhou, bastou para conter o exército Jin, que obrigou o Imperador Gao Zong (1127-62) a fugir pelo Mar da China e depois, a negociar a paz cedendo muitas terras. O Imperador Gao Zong apontou para primeiro-ministro Qin Hui, um homem fugido do campo do inimigo, que tomou como missão negociar a paz com os Jin, apesar das importantes vitórias conseguidas sobre estes por o general Yue Fei. Chamado à corte de Gao Zong e por exigência dos Jin, Yue Fei, com uma acusação forjada escrita por Wang Jun, um seu desleal subordinado, foi metido na prisão e executado. Estava-se em 1141 e nesse Inverno os Song cederam aos Jin um vasto território, tornando-se como vassalos, pois pagavam-lhes um tributo anual. Após o Imperador Gao Zong abdicar em 1162, subiu ao trono da Dinastia Song do Sul o filho adoptivo, o Imperador Xiao Zong (1162-89), que reabilitou o general Yue Fei, passando desde então a ser venerado como Deus da Guerra. Nesse pequeno templo, a Yue Fei são feitos sacrifícios com três vénias e incenso por muitos peregrinos e à frente da sua estátua encontram-se no pátio exterior encostadas ao muro, com um ar de humilhação, cinco figuras de bronze ajoelhadas. Representam o primeiro-ministro Qin Hui, a esposa Wang Shi, os serventes Zhang Jun e Mo Qixie, assim como o traidor Wang Jun, que recebem pontapés, murros e estaladas, quando as pessoas por elas passam, dadas com a emoção de quem partilha esse momento histórico ainda vivido pela dor resultante dessa acção. E batem forte, saindo com as mãos a arder! É o incenso para purificar da maldade e deslealdade essas personagens.