António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasPoesia – Georg Trakl Na folhagem encarnada cheia de guitarras Na folhagem encarnada cheia de guitarras Das raparigas os cabelos amarelos flutuam Junto à cerca, onde estão os girassóis. Uma carruagem dourada atravessa as nuvens. Nas castanhas sombras, calam o silêncio Os velhos, que estupidamente se abraçam. Os órfãos cantam as vésperas com doçura. No vapor amarelo, zumbem moscas. No ribeiro, as mulheres lavam ainda a roupa. Ondulam estendidos os lençóis de linho. A pequena que há muito me agrada Vem de novo através da noite cinzenta. Do céu ameno, os pardais precipitam-se Na direcção de buracos verdes cheios de podridão. Iludem o faminto ante a convalescença O aroma do pão e ervas secas. Im roten Laubwerk voll Guitarren Im roten Laubwerk voll Guitarren Der Mädchen gelbe Haare wehen Am Zaun, wo Sonnenblumen stehen. Durch Wolken fährt ein goldner Karren. In brauner Schatten Ruh verstummen Die Alten, die sich blöd umschlingen. Die Waisen süß zur Vesper singen. In gelben Dünsten Fliegen summen. Am Bache waschen noch die Frauen. Die aufgehängten Linnen wallen. Die Kleine, die mir lang gefallen, Kommt wieder durch das Abendgrauen. Romance à noite O solitário, sob a tenda de estrelas, Caminha através da meia noite silenciosa, O menino acorda perturbado dos seus sonhos, O seu semblante decai cinzento ao luar. A louca chora com o seu cabelo desgrenhado À janela que está inflexivelmente gradeada. Ao largo do pequeno lago, num doce passeio, Andam à deriva os amantes tão maravilhosos. O assassino sorri pálido no vinho, O horror da morte agarra os doentes. A noviça reza ferida e nua À frente do sofrimento na cruz do salvador. A mãe canta baixinho a dormir. Muito tranquilo a criança olha para a noite Com olhos que são completamente verdadeiros. Na casa de putas, soltam-se gargalhadas. À luz da vela no buraco da adega O morto pinta com mão branca Um silêncio sorridente na parede. O adormecido sussurra ainda. Romanze zur Nacht Einsamer unterm Sternenzelt Geht durch die stille Mitternacht. Der Knab aus Träumen wirr erwacht, Sein Antlitz grau im Mond verfällt. Die Närrin weint mit offnem Haar Am Fenster, das vergittert starrt. Im Teich vorbei auf süßer Fahrt Ziehn Liebende sehr wunderbar. Der Mörder lächelt bleich im Wein, Die Kranken Todesgrausen packt. Die Nonne betet wund und nackt Vor des Heilands Kreuzespein. Die Mutter leis’ im Schlafe singt. Sehr friedlich schaut zur Nacht das Kind Mit Augen, die ganz wahrhaft sind. Im Hurenhaus Gelächter klingt. Beim Talglicht drunt’ im Kellerloch Der Tote malt mit weißer Hand Ein grinsend Schweigen an die Wand. Der Schläfer flüstert immer noch. (Traduções de António de Castro Caeiro)