José Simões Morais h | Artes, Letras e Ideias2021 Ano Xin Chou do Búfalo de Metal No dia 3 de Fevereiro de 2021 celebra-se o Lichun, Princípio da Primavera, que para os geomantes do Feng Shui dá início ao ano, enquanto o Ano Lunar Chinês só começará a 12 de Fevereiro e por terminar a 31 de Janeiro de 2022 não contará com nenhum Lichun. Por isso será um ano cego, não sendo auspicioso iniciar projectos, negócios, ou casar. As eras na China começaram a ser contadas no ano de 2697 a. E.C. e desde então já ocorreram setenta e oito ciclos de 60 anos cada e no actual ciclo, 2021 é o 38.º, que corresponde a Xin Chou (辛丑, em cantonense San Tch’ao). O Caule Celeste Xin (辛) associado ao Elemento Metal yin está conjugado com o Ramo Terrestre Chou (丑), representado no Zodíaco chinês por o animal Búfalo, cujo Elemento é Terra yin. Metal yin encontra-se por cima de Terra yin, quando no ciclo criativo, Terra faz nascer Metal e assim o juntar mais Metal à Terra. Será um ano de predominância Metal yin e daí os conflitos passarem despercebidos, a parecer coisa leve, pois para atormentar já basta o problema causado pelo vírus covid. Tal como no ano do Rato (Geng Zi), o do Búfalo (Xin Chou) continuará a ser bastante difícil e teremos de manter uma rigorosa disciplina a exigir as qualidades do animal do ano, obediente, dócil, tenaz e árduo trabalhador. Apenas com disciplina e muita atenção ao que nos rodeia se conseguirá reverter a difícil situação vivida no planeta. Esse esforço será como tentar unir os maxilares ao morder algo difícil; Mordidela correspondente ao hexagrama 21 apresentado no “Tui Bei tu” (Empurrar pelas costas) a acompanhar o desenho 38.º, cujo título é Xin Chou (辛丑). Entre os sessenta desenhos do livro “Tui Bei tu”, cada, com um título, um poema e um hexagrama do Yi Jing, ao olhar para o 37.º, a corresponder ao ano Geng Zi, a imagem é de água de onde emerge uma cabeça humana nos braços do deus da Morte e no desenho 38.º, título Xin Chou, o pátio exterior em frente à porta de entrada tem corpos estendidos pelo chão. Este livro, escrito por Yuan Tiangang e Li Chunfeng, na China da dinastia Tang no século VII, baseia-se no ciclo de sessenta anos que conjuga os dez Caules Celestes (Tian Gan, 天干) com os doze Ramos Terrestres (Di Zhi, 地支) e por cíclica repetição se prediz o que ocorre em cada um dos 60 anos do ciclo (Jia Zi, 六十甲子). No poema para o ano 38.º, a primeira parte do texto refere: fora da porta está um veado [tesouro antigamente reservada para ser caçado apenas por o imperador] e muitos são os que o querem ter, mas nessa luta haverá danos colaterais pois, magoarão pelo fogo as aves, mesmo a voar nas alturas, e os peixes, até os que vivem nas águas profundas. Os perigos do ano Nem com todas as medidas rigorosas o vírus deixará de estar presente e o que anteriormente era simples e fácil de realizar, agora representa um perigo. É no estar social, com abraços e beijos, encontros nos cafés, restaurantes e lugares de diversão, assim como nas viagens e no trabalho, que emerge o perigo e daí o controlo, tanto pela nossa consciência, como por novas regras proibitivas. No mundo, a maioria das pessoas aceitou essa perda de liberdades devido à pandemia, mas no Ocidente, com as liberdades adquiridas como individuais, muitos desafiam as medidas proibitivas e essa é uma das razões para o número de mutações do vírus e de mortos. Fechados em casa, devido ao isolamento físico ser a receita para levar de vencida a epidemia, somos colocados em vivência no seio da família. Se por um lado é positivo, pois permite um conhecimento mais íntimo e profundo entre filhos e pais, existindo maior disponibilidade para se escutarem uns aos outros, esse estar intenso e permanente abrirá espaço a discórdias, sem lugares para escapar. Tensões a provocar discussões para descarregar e devido a interesses divergentes, fruto de cada um se preocupar apenas com o que pensa, mas não como pensa, ou o normal e ancestral conflito de gerações, esses problemas só por amor se podem harmonizar. Abrir espaço à compreensão do outro, escutando-o sem necessidade de colocar a nossa visão na conversa e a comunicação relaxada desanuvia a pressão em que vivemos. A epidemia leva cada um a isolar-se no seu espaço e no virtual se refugiar. Daí a internet, como principal ferramenta para comunicar, a permitir substituir o trabalho no escritório e as aulas presenciais, assim como fazer reuniões, com amigos ou empresas, e mesmo entre países. Com maior protagonismo disponibiliza novos programas, jogos e entretenimentos, levando as pessoas a nela mergulhar todo o estar, individualizando-se e a perder o contacto ao vivo. Assim, o número de divórcios aumenta e prefere-se ter animais de estimação a filhos ou a parceiros. O individualismo ganha contornos de pandemia e outros, fugindo da família, encontram refúgio nas associações cujos interesses crêem representar. As compras ‘on-line’ ganham um valor inimaginável, transfigurando o comércio, desde o local ao mundial. Os centros das grandes urbes perdem população, pois cada vez mais pessoas ficam a trabalhar em casa e escolhem ir viver para fora das cidades, refugiando-se nas aldeias. Assim, os espaços de escritório e lojas de comércio local terão de ser reorganizados e muitos fecharão, fazendo cair os preços das rendas. Negócios desaparecerão, muitas companhias vão à falência e os governos, sobre pressão financeira, cortam nos projectos, havendo um recorde de desempregados. Assaltos e manifestações de rua serão frequentes e em desespero tomam formas violentas, aproveitando alguns para destruir e roubar, a aumentar mais o caos. Sob pressão da pandemia “Como será o nosso mundo?”, pergunta feita por Edward Li ao Livro das Mutações (Yi Jing), respondida com o hexagrama 60, Jié, A medida (o controlo), Água sobre Lago. A família é o centro e passar longo tempo em casa torna-se o novo e natural estar. Se não sair de casa não haverá problemas. Mas Jié tem aqui três significados. O primeiro, não desperdiçar e economizar, nos gastos e recursos naturais, água, electricidade, comida e bens primários. O segundo, corte, nas despesas familiares e governamentais, e as empresas despedem. O terceiro, estar sobre controlo: pelas leis, para evitar a propagação do vírus como, uso da máscara, não sair de casa, fecho das lojas; quanto às atitudes, cada um deve ter consciência do espaço que ocupa e tomar atenção onde está e com os que estão à volta. Daqui se percebe o aparecimento de uma nova realidade, onde o indivíduo é confrontado com o interesse colectivo. A primeira reacção é cada país fechar-se em si mesmo e a globalização, a uniformização do mundo, reorientar-se e sem global retornar a local. Só esta pandemia poderia colocar a venerável liberdade num desastre social e daí a dificuldade de conseguir unir os maxilares da boca. Boa saúde – (身体健康, Sun Tan Kin Hong)