Hoje Macau EventosRestauração | Portugália passa a servir na Rua dos Clérigos A partir desta quarta-feira, o restaurante Portugália passa a ter uma nova localização, mantendo-se na vila da Taipa, mas, desta vez, na Rua dos Clérigos. “A opção por continuar na vila da Taipa pareceu-nos óbvia. Primeiro, pelo carácter histórico que se associa, na perfeição, à nossa centenária marca, e, segundo, porque pretendemos oferecer uma atmosfera com características portuguesas aos nossos clientes.” Assim, a gerência aponta que os clientes vão continuar a encontrar “painéis de azulejos genuínos, imagens antigas da cervejaria, painéis com a história do restaurante e motivos portugueses” espalhados pelos três pisos do novo espaço. Mantém-se, na carta, os pratos mais conhecidos do grupo, como o Bife à Portugália, com o tradicional molho, entre outros. A Portugália estabeleceu-se em Macau há oito anos e foi a primeira aposta do grupo no Extremo Oriente. A gerência aponta que estes têm sido anos “de aprendizagem, constante evolução e adaptação a uma cultura única, com o objectivo de dar a conhecer um pouco mais sobre a riqueza gastronómica portuguesa e a tradição do grupo”, que já conta com 98 anos de experiência.
Pedro Arede Grande BaíaJorge Neto Valente, empresário: “Temos de saber jogar com as nossas vantagens” Apesar de haver arestas por limar, Jorge Neto Valente considera que a Grande Baía tem o mercado e a mão-de-obra que Macau precisa. Aos empresários que têm medo da concorrência do outro lado da fronteira lembra que há espaço para todos sobreviverem e que Hengqin, onde explora um restaurante Portugália, é um bom ponto de partida para entrar no mercado chinês. Macaenses e portugueses serão essenciais para “ligar as empresas chinesas aos países de língua portuguesa”, considera Em que fase está o desenvolvimento do projecto da Grande Baía? A Grande Baía é um projecto em curso e é sempre bom recordar que estas baías mundiais são sempre um processo evolutivo em que apenas o local está definido. O Silicon Valley, por exemplo, também está a evoluir consoante os tempos. Creio que a Grande Baía aqui de Cantão, se fosse uma pessoa, estaria na pré-adolescência e teria mais ou menos 12 anos. Acredito que o Governo já definiu as funções, mas resta agora à parte empresarial desenvolver todo o ambiente económico e social para esta Baía se assumir como uma das grandes baías a nível mundial. O que é preciso para que o projecto da Grande Baía se concretize na sua plenitude? Julgo que os Governos locais e o Governo Central podem intervir até certo ponto, mas depois terão que ser os residentes e a mão-de-obra que é importada, a definir aquilo que vai ser a Grande Baía, no futuro. Por exemplo, Macau sempre foi um pólo do jogo e lazer mas vimos que, nos últimos dois anos, houve uma grande queda do sector e a diversificação é agora incutida às empresas e às pessoas por uma questão de sobrevivência. O Governo sempre apelou à diversificação, mas até haver uma crise as pessoas estavam muito cómodas e não tinham vontade de diversificar para uma coisa que lhes iria dar, provavelmente, um retorno mais pequeno e implicar um esforço maior, a juntar a um elevado grau de incerteza. Com a actual crise, as pessoas são forçadas a diversificar. Agora, para onde vamos diversificar? Sabemos que Macau é um mercado muito pequeno, onde não há mão-de-obra suficiente nem qualificada em grandes quantidades. Por isso, precisamos de olhar para o lado e aquilo que está mais perto de nós é a Grande Baía. A Grande Baía tem o mercado que precisamos, pois estamos a falar de quase 100 milhões de habitantes, a juntar a todos aqueles que vêm de fora. É uma área que tem nove cidades e duas regiões com estruturas muito bem definidas, com Hong Kong a ser o pólo financeiro e Shenzhen a estar ligada à alta tecnologia. Temos também Macau que agora, além do lazer, é definida como centro turístico e plataforma de ligação entre os países de língua portuguesa e a China. Cada cidade tem as suas funções mais ou menos definidas pelo Governo, mas isso não quer dizer que as pessoas não possam inovar e inventar outras. Mas, pelo menos, já temos as directivas feitas e quem está em Macau pode muito facilmente entrar na Grande Baía e fazer carreira ou abrir a sua empresa, não havendo os problemas que há em Macau. A Grande Baía ainda tem uma grande vantagem ao nível da mão-de-obra, pois toda a China pode ir para lá trabalhar e há recursos humanos qualificados desde que os consigamos atrair. Por último, temos Hong Kong e Macau como janelas para os estrangeiros que querem vir para a Grande Baía. Ou seja, há muita coisa aqui que pode ser feita e há muitas oportunidades. Claro que vai haver muita concorrência, o que constitui um risco muito grande, mas também sabemos que, especialmente as pessoas de Macau, não estão preparadas para a grande concorrência que existe, porque sempre estivemos num ambiente mais protegido. Entrando na Grande Baía essas facilidades ficam automaticamente niveladas para todos. Mesmo que o Governo de Macau ou o Governo local ofereçam incentivos para os residentes, a concorrência é tão grande que os incentivos servem só para ajudar. Para sobreviver é mesmo preciso ser-se melhor que os outros. Existe muito receio por parte dos empresários de Macau de apostar na Grande Baía por causa da concorrência? Alguém realista sabe que a concorrência é muito feroz na China. Até em Hong Kong é muito mais feroz do que em Macau. Nós, os empresários de Macau, sabemos que crescemos num ambiente muito protegido e que tínhamos muitas facilidades. Indo para o Interior da China não existe essa protecção. Por um lado, é o medo que todos têm de entrar na China, mas, por outro, digo sempre que não se deve pensar só na concorrência porque o mercado é tão grande que há espaço para todos sobreviverem, melhor ou pior. O retorno pode ser tão grande que pode valer a pena entrar na Grande Baía, mesmo falhando. Pode partilhar a sua experiência em termos de negócios desenvolvidos na Grande Baía? Um bom exemplo é o Restaurante Portugália que abrimos em Hengqin. Estávamos com receio que a comida portuguesa não fosse bem aceite na China, até porque se trata de um franchise sem adaptações ao gosto local. Por isso, queríamos estar perto para ser um meio termo. Na altura, ainda não sabíamos que o Governo ia anunciar o projecto de cooperação aprofundada em Hengqin, mas já achávamos que esse seria o primeiro ponto para se fazer a adaptação [para entrar no mercado chinês]. Era mais fácil Portugal suportar-nos e mais fácil para nós podermos fazer as mudanças necessárias, antes de expandirmos para outros locais. Até agora, a experiência tem decorrido dentro das nossas expectativas, pois já sabíamos que íamos enfrentar problemas, mas estamos a conseguir resolvê-los. Às vezes estamos a falar de coisas pequenas, ao nível dos costumes. Por exemplo, como é que as pessoas se querem sentar ou como devemos servir as refeições. Não estamos a adaptar a comida em si, mas sim pequenas coisas que não mudam o carácter do restaurante nem a qualidade da comida. Por quê começar por Hengqin? Entrar no mercado chinês era uma experiência pela qual nunca tinha passado e eu próprio tive medo de entrar. Se fosse em Guangzhou, por exemplo, não saberia tão bem como proceder, nem tinha tanto suporte da Portugália a partir de Portugal, porque eles não iriam conseguir chegar lá tão facilmente. Hengqin é mais fácil, porque basta dar um pequeno passo, dado que a Portugália já existe em Macau. O que conseguimos foi, aos poucos, arranjar fornecedores de cerveja portuguesa, bacalhau, etc. que não existiam. Foi uma coisa que fizemos para habituar a nossa equipa e a marca ao resto da China. Depois há outros projectos que fiz, não de restauração, e que passaram por estabelecer cooperações com empresas chinesas para possibilitar a sua ida para países de língua portuguesa. De que tipo de cooperações estamos a falar? Eles veem que Macau é uma boa janela e vêm para cá arranjar parceiros. Estas cooperações podem ir da simples venda de produtos, que é uma coisa bastante fácil, até projectos de levantamento de necessidades para construir um porto ou participar em concursos públicos desses países. É um leque bastante abrangente. Temos tido sorte porque a pandemia trouxe muito mais empresas chinesas que querem, através de Macau, projectar-se para os países de língua portuguesa. Isto, porque [devido à pandemia] existem hoje muitos constrangimentos à livre movimentação de pessoas e é quase impossível ir para os países de língua portuguesa. Por isso, o que acontece é que eles preferem ter alguém de Macau que contacte o país em questão na língua nativa e com conhecimento de causa, do que estarem, por exemplo, a ligar para o Brasil a perguntar por determinado projecto. É por isso que eles agora vêm muito a Macau procurar parceiros. Existe também outra agravante para a zona vizinha que é o facto de muitas empresas estatais de grande dimensão, que antes iam para Hong Kong por ser um centro financeiro, mesmo para iniciar negócios com países de língua portuguesa, terem arranjado uma alternativa que passa por Macau. Até porque, actualmente, para se ir a Hong Kong é preciso fazer quarentena. Por isso, é que nós temos tido mais pedidos de informação e parcerias. Paralelamente, a pensar no futuro, eles querem, como houve uma grande instabilidade política em Hong Kong, ter duas alternativas em vez de apenas uma. Após a pandemia as cooperações vão continuar a passar por Macau? Penso que depois da pandemia e da abertura das fronteiras entre Hong Kong e a China, muitas destas empresas e investidores que querem ir para novos mercados, vão ficar em Macau. Nós sabemos que a Plataforma de Macau está definida há quase 20 anos, mas a verdade é que continuamos a ter problemas pequenos e muita coisa parece que é feita como se fosse a primeira vez. Abrir uma conta bancária para certos fins demora um mês, enquanto que em Hong Kong demora apenas um dia. Ainda assim, tem havido uma evolução boa e são estes custos de tempo e de mão de obra que as empresas metem sempre nos seus cálculos. Se eu sei que abrir uma conta em Hong Kong demora um dia e em Macau demora um mês, escolho ir para Hong Kong. Outro problema é abrir a empresa, já que o processo é mais moroso quando há sócios do Interior da china. Há várias etapas sobre as quais, quem está habituado ao mercado internacional, pergunta sempre porque é que em Macau tudo demora tanto tempo. Nós respondemos que estamos ainda a começar e que as coisas vão melhorar. Acredito que vamos conseguir diminuir uma grande parte desse tempo, mas se calhar nunca vai ser igual a Hong Kong. Quais os principais constrangimentos que ainda existem para que um empresário que queira investir na Grande Baía? Na Grande Baía ainda existem muitos problemas. Quando abri o restaurante em Hengqin, as coisas que eram puramente tratadas no Interior da China, foram muito rápidas. Mas tudo o que implica assuntos relacionados com Macau e Zhuhai e questões transfronteiriças, demora sempre semanas. Por exemplo, transferências bancárias pré-aprovadas, podem levar 15 dias até serem concluídas. São assuntos que vão ter que ser afinados e polidos à medida que as coisas forem evoluindo. Quando chegarmos à integração total e virmos que é fácil fazer transferências de Macau para Hengqin ou Jiangmen, aí sabemos que já atingimos a maturidade. Neste momento já é mais fácil fazer uma transferência entre Macau e Hengin do que para outro local no Interior da China? É mais ou menos igual. Nem Hengquin está mais integrado com Macau nesse aspecto, nem as regiões do Interior da China estão mais integradas com Hengqin. Ainda estamos numa fase preliminar. Depois existe outro problema. Se virmos bem, porque é que os Governos locais dão mais incentivos numa primeira fase? Porque sabem que existem custos extra relacionados com o facto de estar tudo a ser feito pela primeira vez. Acho que os incentivos, não servem só para atrair as pessoas, mas também para cobrir esses custos e limar essas arestas. Os incentivos claro que cobrem esses custos e, às vezes, até são mais, mas [a burocracia] é chata. Qual a real importância da criação da zona de cooperação aprofundada em Hengqin para limar essas arestas? Creio que Hengqin é uma experiência, diria, inédita, pelo menos na China. Podemos pensar um pouco no facto de existirem na Europa regiões como Andorra, Gibraltar ou o Mónaco. Hainão, na China, também é um caso interessante, definido para ser um centro internacional para convenções e negócios, onde vai haver uma livre circulação de pessoas, divisas e produtos. A diferença é que Hainão é uma ilha e é, por isso, muito mais fácil de controlar tudo o que entra e sai. Por seu turno, Hengqin é ligada por pontes. Vimos que a circulação de veículos já é possível, pois é muito fácil e depende apenas da colocação de câmaras. Mas depois é muito difícil concretizar a livre circulação de produtos, divisas e pessoas, não sendo uma ilha. O problema disto é que se dissermos que há livre circulação de produtos de Macau para Hengqin e do resto da China para Hengqin, a Ilha da Montanha vai ser um centro de contrabando. Isto, porque em vez de vermos pessoas que levam uma garrafa de vinho nas Portas do Cerco, vamos ver camiões TIR a levar contentores de um lado para o outro. Daí que ainda não conseguem abrir, para já, a livre circulação de produtos. Se houver mesmo uma livre circulação, como é que vamos evitar [o contrabando], sem ter que fechar Hengqin para o resto do país. Em relação às pessoas é a mesma coisa. Como é que vamos deixar qualquer pessoa de Macau entrar em Hengqin sem passar por nenhuma fronteira física, se depois essa pessoa pode ir de Hengqin para o resto da China. Aí entra o problema da entrada ilegal de pessoas. No entanto, é preciso dizer que o Governo Central fez muita coisa para definir este espaço. O tempo que demora a ir de uma cidade da Grande Baía para outra foi reduzido para uma hora. Foram construídas auto-estradas e linhas ferroviárias de alta velocidade. Tudo isso está feito, são as infraestruturas mas, lá está, essa é a parte governamental. Só porque há um comboio para eu ir para o nada, não quer dizer que haja pessoas com vontade de apanhar esse comboio. Agora é preciso introduzir a parte social, ou seja fazer as pessoas irem para lá trabalhar, consumir, fazer negócios e gastar dinheiro e ter as empresas disponíveis para fazer isso tudo. Nós como residentes de Macau e os outros do lado de lá da Grande Baía, o que temos de fazer é aproveitar estas infraestruturas e directivas dos Governos e usar tudo o que nos foi diponibilizado para fazer a nossa parte. O negócio da Portugália em Hengqin está a ser uma aposta ganha? Depende dos dias. Mal haja um caso de covid-19 em Zhuhai que provoque a alteração das medidas nas fronteiras, como foi o caso em que o prazo dos testes de ácido nucleico passou a ser de 48 horas, o negócio desceu 80 por cento. Por causa da pandemia, há muita incerteza e isso dificulta o nosso planeamento, mesmo ao nível dos recursos humanos. Mas, lá está, temos de sobreviver e seguir em frente. A nossa aposta está também ligada ao facto de haver um cinema ao lado do restaurante e antes da pandemia, todos os cinemas da China estavam cheios. Agora, com a pandemia, acho que o cinema vai falir antes de tudo o resto, pois não há ninguém que lá vá. Além disso, muitas pessoas passaram a ver filmes em casa. Quando se mudam os hábitos, depois pode ser difícil voltar atrás. Para de áreas-chave, o Governo deve definir claramente o caminho e o contributo que os empresários de Macau podem dar em Hengqin para que realmente iniciarem lá os seus negócios? Para além de estarmos num contexto bastante complicado, acho que depende daquilo que consideramos ser o patamar ideal, ao nível da intervenção do Governo. Por exemplo, no sector financeiro, que é uma parte que acarreta muitos regulamentos, seria bom definir melhor o que vai ser feito em termos de legislação para os empresários saberem o que devem fazer e não entrar em conflito directo com Hong Kong, Singapura, Shenzhen e Xangai, que são centros financeiros com bastante peso. Se fizermos exactamente igual a Hong Kong faz, Macau perde. Nem vale a pena começar, porque está acabado à partida. Mas se fizermos coisas diferentes, vamos conseguir criar aqui um centro financeiro de nicho. Por outro lado, considero que o Governo não deve ser tão detalhado noutros aspectos. Se estivermos a falar de tecnologia, por exemplo, o Executivo não deve dizer exactamente o que as empresas devem fazer porque o Governo não é quem sabe mais de tecnologia nem faz negócio. Se formos a ver, caso fossem apenas os Governos a ditar o caminho, o Facebook, o Google e a Tencent não existiam, porque todos eles foram projectos de alto risco, que ninguém sabia como materializar e que acabaram por ter sucesso. Mas, claro, para que houvesse uma Tencent, houve 10.000 outras empresas que faliram. Portanto, em certos campos, o Governo deve dar o ambiente e as directivas, como, por exemplo, dizer “gostaria de ter um parque tecnológico” e fornecer o espaço para as empresas inovarem. Mas, talvez deva parar aí e ouvir o que é que os inovadores precisam. A dada altura, o Governo definiu que o caminho a seguir seria o sector do jogo. Será que os empresários ainda estão à espera que que exista um novo sector prioritário? De certa forma sim, mas a diversificação de que o Governo fala não é recente. Já se fala nisto há, pelos menos, 15 anos. De quem é a culpa? É de nós próprios. Nós é que não diversificámos, pois o Governo bem tentou. A Grande Baía pode ser, de facto, a “bóia de salvação” para os jovens de Macau cada vez mais qualificados e que estão a assistir a uma profunda mudança no paradigma do jogo? Penso que sim. Importa dizer que, mesmo com o antigo panorama do sector do jogo, não seria propriamente ideal dizer a um residente de Macau recém-licenciado para ir para trabalhar como croupier, pois aí não é possível fazer carreira. Claro que a fase em que estamos vai doer, mas vai forçar as pessoas a pensar melhor. Ganhar 15 mil patacas a dar cartas aos 20 anos é bom, mas receber o mesmo salário aos 50 anos e não ter uma carreira não. A Grande Baía vem dar exactamente o mercado de trabalho que essas pessoas precisam. Estamos a falar, não só num mercado de trabalho grande em quantidade, mas também em diversidade. As pessoas passam a ter todos os ramos à sua disposição e podem escolher se querem ser engenheiros numa fábrica, trabalhar em electrónica ou a produzir brinquedos, por exemplo. Mesmo que a competitividade seja muito grande, continuamos a ter as nossas vantagens, já que Macau tem facilidades em entrar nos mercados dos países de língua portuguesa. Desse ponto de vista estamos em vantagem em relação aos outros. Temos de saber jogar com as nossas vantagens e com o que temos. Além disso, também o conhecimento sobre a lei portuguesa é uma vantagem para ir para outros mercados. Que cidades da Grande Baía têm maior potencial de futuro? Cada cidade tem as suas vantagens e isso serve de referência para quem é de determinado ramo de negócio. Ou seja, o que quero dizer é que os empresários não podem querer ‘vender gelados a pinguins’ e ir para uma cidade fora do seu espectro de actuação. Por tabela, o meu interesse em Zhuhai está também relacionado com um projecto proposto pelo governo local de fazer um espaço cultural e de restauração baseado em Macau. É um projecto que o Governo de Zhuhai está a estudar e que considero ter muita probabilidade de seguir em frente. Por um lado, pode-se estranhar as razões para fazer isto, estando tão perto de Macau. No entanto, é uma boa solução porque, por vezes, é difícil os turistas virem a Macau e aquilo nunca vai ser exactamente igual. De certa forma, poderá servir de aperitivo para a promoção de Macau aqui mesmo à porta. Qual o papel que a comunidade macaense pode ter no desenvolvimento de Macau na Grande Baía? Diria que não só a comunidade macaense, mas também os portugueses têm um papel importante a desempenhar na construção da plataforma de ligação entre a China e os países de língua portuguesa. Dentro da plataforma, é preciso pensar que há muito por fazer além de vender latas de atum e vinho. Existe todo um leque de coisas a fazer e muito por explorar. Desde há dois anos para cá, vi muitos projectos que incluem, por exemplo, empresas chinesas que querem fazer o tratamento de lixo em Angola ou no Brasil, comprar minério, fazer barragens e pontes etc. Essas empresas chinesas dizem que, apesar de terem os projectos, não têm as pessoas necessárias. Quando sugerimos Macau, eles revelam desconhecimento. Acho que se essas empresas vierem para Macau e pegarem nas pessoas que precisam, não haverá macaenses e portugueses suficientes. Há uma carência de pontes para ligar as empresas chinesas aos países de língua portuguesa. Outras vezes eles querem pessoas para iniciar a conversação e esse deve ser o nosso papel, porque depois de um projecto arrancar e estar definido eles podem usar os seus próprios trabalhadores.