Raquel Moz EventosExposição | Fotos premiadas de Eduardo Leal na Fundação Rui Cunha São imagens que sugerem uma dança de sacos ao vento que envolvem arbustos quase estrangulados e sem vida. A beleza das fotos é inquietante. E deu vários prémios mundiais ao fotojornalista Eduardo Leal, que a partir de amanhã expõe o trabalho na FRC [dropcap]A[/dropcap] multipremiada exposição “Plastic Trees” de Eduardo Leal é inaugurada amanhã, às 18h30, na galeria da Fundação Rui Cunha, onde ficará patente ao público durante duas semanas. É um conjunto de imagens que demonstram a presença dos resíduos plásticos nos lugares mais recônditos, uma visão sobre o lixo resultante do excesso de consumo a nível mundial. “A série ‘Plastic Trees’ foi feita para chamar a atenção para este problema, com foco na disseminação de sacos plásticos no Altiplano Boliviano, onde milhões de sacos viajam com o vento até se enredarem nos arbustos nativos”, pode ler-se na página web da FRC. A mostra reúne as imagens de uma série que valeu ao autor, mestre em fotografia documental, vários prémios internacionais, como os Sony World Photo Awards, o Lens Culture Earth Award, os Moscow International Photo Awards e o prémio Estação Imagem nacional. Foi ainda finalista do galardão Atkins CIWEM, para a Melhor Fotografia do Ano em termos de Ambiente. Eduardo Leal, que desde 2016 é professor convidado da Universidade de São José em Macau, viveu vários anos na América do Sul, onde trabalhou como fotojornalista para diversas publicações de prestígio, como a Time, The Washington Post, Al Jazeera America, ou CNN, entre muitas outras. Nos arredores de Uyuni Em entrevista à revista holandesa de fotografia contemporânea, Lens Culture, cujo prémio principal arrecadou em 2015, Eduardo Leal contou que durante anos viajou pelo mundo inteiro, mas especialmente pela América Latina e pela Ásia, onde sempre se incomodou com as bonitas paisagens estragadas pela quantidade de lixo e de detritos. “E a maioria são sacos de plástico”. “Decidi, então, fazer algo para chamar a atenção para o problema. Mas sabia que seria difícil fotografar sacos de plástico e torná-los visualmente interessantes para o espectador”. Demorou, segundo revelou à referida publicação, anos até encontrar o modo certo de exprimir o que sentia. “Um dia, quando caminhava pelos arredores da cidade de Uyuni, na Bolívia, encontrei este lugar incrivelmente belo, coberto de sacos de plástico. Naquele momento, tive a certeza que era ali que iria fazer algo sobre o tema”. O que fez foi testar a luz e a perspectiva, até descobrir como registar não só a beleza, mas também o significado daquelas imagens. “Foi uma questão de voltar ao mesmo local, dia após dia, à mesma hora, de modo a captar a luz de forma consistente e procurar os objectos para mim mais cativantes”, fazendo questão de acrescentar que “produzi estas minhas composições movendo-me apenas à volta das árvores e procurando os melhores ângulos. Nunca toquei em nenhum saco de plástico nem encenei os objectos fotografados. Isso é muito importante para mim: trabalhando como fotojornalista, tenho consciência da importância de não arranjar as fotos ou manipular a verdade”. A única coisa que admite ter alterado no local, para poder fotografar, foi o buraco que escavou com as próprias mãos, tentando obter “a perspectiva certa para transformar os pequenos arbustos em árvores”. De facto, as “árvores de plástico” são pequeníssimos arbustos, “o maior não sendo mais do que o tamanho de duas mãos”, que Eduardo Leal procurou recriar como árvores, “numa tentativa metafórica de demonstrar a dimensão do problema”, confessou à Lens Culture. O drama dos sacos No final do trabalho, “completamente diferente de tudo o que havia feito até à data”, ficou sem saber que destino dar ao conjunto de imagens, “já que as plataformas para as quais eu costumava trabalhar, não estavam interessadas neste tipo de projectos conceptuais”. Felizmente, o resultado foi “deslumbrante” e “intrigante” o suficiente para o colocar na linha de vários prémios internacionais, fazendo o público reflectir e questionar-se sobre o drama subjacente: a poluição do planeta. No manifesto da exposição da FRC, Eduardo Leal refere mesmo que “o mundo consome 1 milhão de sacos de plástico por minuto, sendo o objecto de consumo mais omnipresente” a nível global. “O problema é ainda mais grave nos países com maiores dificuldades, onde as infra-estruturas de gestão de resíduos não estão realmente desenvolvidas. A acumulação de sacos plásticos no meio ambiente causa deterioração das paisagens, dos solos agrícolas e está associada à morte de animais domésticos e selvagens”. A mostra pode ser visitada até ao próximo dia 24 de Junho.