Hoje Macau Manchete PolíticaCooperação | Ho Iat Seng reuniu com o embaixador de Portugal na China Antes da visita a Portugal, Ho Iat Seng reuniu com o embaixador português na China. Em cima da mesa estiveram assuntos como a cooperação empresarial entre China e os PLP, com Macau a servir como plataforma. Ho Iat Seng enalteceu a longa história das relações entre Macau e Portugal e a importância da presença de portugueses no território O Chefe do Executivo reuniu com o embaixador de Portugal na China, Paulo Pereira do Nascimento, esta semana, com assuntos relacionados à plataforma sino-lusófona, o reforço da cooperação económica e comercial e a herança e preservação da cultura portuguesa na agenda. Outro tema ainda discutido, foi a visita de Ho Iat Seng, que vai liderar uma comitiva de elementos do Governo da RAEM a Portugal, entre 18 e 22 de Abril. O Chefe do Executivo transmitiu a Pereira do Nascimento a esperança de encontrar mais espaço de cooperação para as empresas de Macau e Portugal nas áreas de investimento e comércio, com a RAEM a actuar como “ponte e elo de ligação entre a China e os Países de Língua Portuguesa (PLP)”. Segundo um comunicado divulgado ontem pelo Executivo, Ho Iat Seng terá destacado a “longa história das relações entre Macau e Portugal e indicou que o Governo da RAEM deu sempre elevada importância ao contributo e à herança da comunidade portuguesa, não poupando esforços na preservação das suas boas tradições, língua, cultura e costumes, o que se reflecte tanto no regime jurídico, ensino, arquitectura, obras, entre outras”. Os dois lados Por sua vez, Pereira do Nascimento afirmou que a visita de Ho Iat Seng a Portugal será “vantajosa para consolidar e reforçar ainda mais a ligação, o intercâmbio e a cooperação, em várias áreas, entre Macau e Portugal”. O embaixador disse esperar que as empresas dos PLP possam aproveitar o papel de plataforma de Macau para entrar na Grande Baía, na Zona de Cooperação Aprofundada, e noutras cidades do Interior da China para investimento. Por outro lado, também Macau e as restantes cidades da Grande Baía podem aproveitar “as vantagens de Portugal em termos de medicina, alta tecnologia e economia marítima”.
Hoje Macau China / ÁsiaAscensão da China exige abordagem “pragmática” e “diálogo”, diz novo embaixador em Pequim Face à nova ordem mundial, que se desenha a cada dia que passa, Paulo Nascimento, embaixador português em Pequim desde Novembro do ano passado, destaca o valor do diálogo no relacionamento entre as duas nações O novo embaixador português em Pequim, Paulo Nascimento, reconhece que a ascensão da China tem um efeito “disruptivo” no cenário internacional, que obriga a uma abordagem “pragmática”, e frisou a importância de manter o diálogo. “O mundo mudou, os países mudaram e as circunstâncias políticas actualmente são diferentes, não só na China, mas em outros países também”, observou o diplomata, que iniciou, em Novembro passado, a segunda estadia em Pequim, depois de ter servido na embaixada portuguesa como chefe de missão adjunto, entre 2009 e 2012. Em entrevista à agência Lusa, Paulo Nascimento reconheceu que a China “posiciona-se hoje de forma diferente daquela que se posicionava há 10 ou 20 anos”. “Há toda uma evolução no posicionamento da China que está associada também ao próprio desenvolvimento [do país] e à sua afirmação no plano internacional”, apontou. Sob a liderança do Presidente chinês, Xi Jinping, a China adoptou uma política externa mais assertiva, que inclui a reivindicação de quase todo o mar do Sul da China ou a tentativa de exercer maior influência nas questões internacionais. Nos últimos anos, Pequim avançou também com fóruns e organizações multilaterais próprias, no âmbito do comércio, investimento ou segurança. “É evidente que isto causa, ou pode causar, quando se fala de um país com a dimensão da China, um efeito disruptivo em determinadas áreas de discussão internacional”, notou Paulo Nascimento. “O que não significa que isso deva impedir o diálogo”, apontou. “Eu acho que hoje em dia o mundo olha para a China e a China olha para o mundo de uma forma que nem é optimista nem pessimista”, explicou. “É talvez mais desapaixonada e realista”. A nível interno, desde a crise financeira global de 2008, enquanto as economias desenvolvidas estagnaram, a China construiu a maior rede ferroviária de alta velocidade do mundo, mais de oitenta aeroportos ou dezenas de cidades de raiz, alargando a classe média chinesa em centenas de milhões de pessoas. O país encetou também um programa industrial, designado “Made in China 2025”, visando assumir a dianteira nos sectores do futuro, incluindo inteligência artificial, energia renovável, robótica ou veículos eléctricos. Os resultados dessa modernização, observou Paulo Nascimento, “são visíveis em vários aspectos: desde o resultado da produção industrial e tecnológica ao capítulo ambiental”. “Eu não posso deixar de confessar que quase me surpreendeu conviver nos últimos dois meses com um céu azul na maior parte dos dias”, disse. “Era algo impensável há onze anos”. Em Pequim, o diplomata destacou também uma evolução a “todos os níveis impressionante” na rede viária e na ordenação da cidade. O metro da capital chinesa, por exemplo, soma hoje 22 linhas, com uma extensão total de 807 quilómetros, onde viajam, em média, quase 14 milhões de pessoas diariamente. “No essencial, porém, a China é uma cultura milenar”, acrescentou. “Os traços que moldam a mentalidade do seu povo estão cá na mesma, continuam permanentes”. Novo paradigma Paulo Nascimento lembrou que existe, no entanto, uma “alteração profunda” nos parâmetros mundiais de produção e de consumo, impulsionada pela pandemia da covid-19 e por questões ambientais, que podem alterar o paradigma do desenvolvimento da China, apontada frequentemente como “campeã da globalização”, à medida que concentrou, nas últimas décadas, grande parte da produção mundial, beneficiando de crescentes excedentes nas trocas comerciais com o resto do mundo e de transferência de tecnologia. “Nós percebemos que se calhar temos que alterar os padrões de produção que estavam definidos há muitos anos com base numa lógica económica”, disse o embaixador, apontando a tendência actual para deslocar os meios de produção para países próximos ou fabricantes domésticos. O diplomata previu assim que o país asiático “passe a estar muito mais apoiado no consumo interno”. Paulo Nascimento frisou também a importância de equilibrar o “fosso” que existe nas trocas comerciais entre Portugal e a China, apontando os sectores agroalimentar, máquinas e aparelhos de precisão ou das pedras ornamentais como áreas que as empresas portuguesas podem explorar no mercado chinês.