Rui Flores VozesE depois da vitória? [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s sondagens dos últimos dias apontavam todas no mesmo sentido: Emanuel Macron seria eleito ontem Presidente da França, alcançando a vitória numa segunda volta histórica, em que a mobilização de muitos foi a de evitar que o país tombasse ao fascismo. Pela segunda vez na história da quinta república francesa, a extrema-direita conseguiu chegar à segunda volta das eleições presidenciais. Depois de o pai, Jean-Marie, em 2002, Marine Le Pen fez tremer a Europa com o seu discurso anti-imigração, anti-integração europeia, antiglobalização. Quinze anos depois a proeza de Le Pen é ainda mais extraordinária dada a dimensão do número de votos que alcançou, particularmente na primeira volta. A Frente Nacional é actualmente o maior partido francês. A primeira volta das eleições presidenciais francesas infringiu um golpe profundo aos socialistas (Hamon obteve apenas 6 por cento dos votos). Apesar de tudo, os republicanos, com Fillon, envolvido em vários escândalos de natureza pessoal, acabaram por arrecadar uns muito respeitáveis 20 por cento dos votos. Os dois partidos que se têm revezado no poder desde a promulgação da Constituição de 1958, foram os grandes perdedores da primeira volta. A onda populista crescente e o ataque que foi fazendo aos valores liberais levantaram enorme preocupação no último ano. O referendo pela saída do Reino Unido da União Europeia foi uma espécie de tiro de partida. Continuou com a chegada à Casa Branca de Donald Trump; foi evidente com a quase eleição de um presidente da extrema-direita na Áustria ou o crescimento da extrema-direita na Holanda. Teve agora o seu cúmulo com a campanha dos últimos meses em terras gaulesas. A França é um dos Estados-fundadores da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, a precursora da Comunidade Económica Europeia. A consequência de um discurso pela saída do clube dos 28 (ainda 28) é muito maior do que a partida de um membro cuja convicção na Europa sempre foi relativa. Ainda que a Europa e o mundo liberal respirem de alívio com a derrota de Le Pen, a semente do discurso proteccionista, anti-imigraçao, anti-globalizacao está a criar raízes. Não por acaso, a poucos dias da segunda volta, Macron falava na necessidade de se reformar a União Europeia. Promessas de campanha eleitoral valem o que valem, mas o conteúdo da mensagem é assumidamente popular. As consequências do crescimento exponencial da extrema-direita vão prolongar-se para lá destes próximos dias de análise e interpretação dos resultados. Apesar da vitória de Macron, a governação francesa vai passar por tempos conturbados. As especificidades do sistema semi-presidencialista francês vão tornar a governação francesa num exercício extremamente complicado. Quando a maioria no parlamento corresponde às cores do Presidente, o sistema político francês garante-lhe poderes semelhantes aos do chefe do executivo. Mas quando o partido ao qual está vinculado o Presidente não tem maioria no parlamento, o poder executivo fica nas mãos do primeiro-ministro. O desafio de Macron é, pois, imenso. É quase impossível traduzir o seu movimento “Em Marcha” num partido político capaz de ganhar eleições, em Junho. A força que Marine Le Pen alcançou com os mais de 7 milhões de votos na primeira volta, vai fazer da sua Frente Nacional o principal candidato à vitória em muitos dos 577 círculos eleitorais franceses. Com os socialistas nas cordas, os extremismos (de direita, mas também de esquerda) têm via aberta para crescer. A nova divisão, cada vez mais evidente (veja-se o caso norte-americano) entre eleitores predominantemente urbanos, que trabalham no sector dos serviços, marcadamente liberais, que constituem exemplos de vencedores da globalização, e um eleitorado predominantemente rural, de trabalhadores fabris, marcadamente conservadores, que constituem o grupo dos que mais têm perdido com a crescente globalização, aproxima os últimos de soluções alterativas fora do centro político. Mais do que diferentes visões quanto ao papel do estado na economia, que marcaram durante anos a divisão entre a direita e a esquerda, a nova dimensão profunda dos eleitorados europeus opõe de um lado os vencedores da internacionalização recente e, do outro, aqueles que têm ficado para trás. Durante a campanha, não foi claro que respostas poderá dar Macron a um problema cada vez mais gritante – os dos perdedores da globalização. Uma coisa parece evidente: chegou o tempo do compromisso, de soluções que envolvam várias famílias políticas. Um pouco como se a “geringonça” portuguesa estivesse a fazer escola. No entanto, o motor dessa solução em França não deverá vir dos socialistas. Afinal, é a social-democracia que sai de rastos de todo este processo eleitoral.
João Luz Internacional MancheteAnálise | Eleições de domingo sentenciam futuro da França e da União Europeia Decide-se no fim-de-semana um dos duelos políticos com maior significado para o destino da Europa. O eleitorado francês volta às urnas no domingo para escolher o próximo presidente, uma decisão que estará entre o centrista Emmanuel Macron e a candidata de extrema-direita Marine Le Pen. Apesar de as sondagens darem vantagem a Macron, tudo é possível num filme que já vimos antes [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] França joga este domingo uma cartada importantíssima não só para o seu futuro, como também para a sobrevivência da União Europeia. Os eleitores terão como opção nos boletins de voto Marine Le Pen e Emmanuel Macron. Desta eleição salta uma evidência: o centro político está pelas ruas da amargura. As duas candidaturas que chegam à segunda volta são da extrema-direita e de um projecto recente de cariz centrista mas fora dos partidos do aparelho partidário. A primeira volta deu a vitória ao candidato do recém criado “Em marcha!”, centrado na pessoa de Emmanuel Macron, com 24,01 por cento dos votos, enquanto a candidata da Frente Nacional conseguiu 21,3 por cento. François Fillon ficou em terceiro lugar, apesar dos sucessivos escândalos que varreram os principais nomes dos conservadores, e em quarto lugar ficou o candidato da esquerda progressista Jean-Luc Mélenchon, com 19,58 por cento. Bem longe dos lugares cimeiros ficaram os socialistas. Na ressaca do mandato de François Hollande, o Presidente mais impopular da 5.ª República, o caminho para o Partido Socialista francês era, à partida, sinuoso. Hollande viu-se forçado a abandonar a corrida, para ser substituído por uma cara fresca, oriunda da ala mais à esquerda dos socialistas: Benoît Hamon. Mas o fracasso estava traçado e o socialista teve o voto de pouco mais de seis por cento do eleitorado francês. Na última década, as democracias tradicionais têm sofrido de um défice de representatividade que trouxe à tona velhos fantasmas extremistas e opções pouco convencionais. O facto é que estes últimos sufrágios das democracias ocidentais têm desafiado os paradigmas políticos em que se alicerçou o último quarto do século XX. Com o advento da globalização e a abertura dos mercados houve uma deslocação de empregos para países com mão-de-obra mais barata, colocando numa situação periclitante o operariado dos países com melhores condições económicas. “As desigualdades sociais cresceram, ou seja, a diferença entre os mais ricos e os mais pobres aumentou. Esta é a questão essencial que as pessoas querem ver resolvida e não estou a ver um discurso dos partidos tradicionais a darem resposta a isto”, explica o académico Rui Flores. Este tem sido o pêndulo das recentes batalhas políticas nas democracias ocidentais e que tem reflexo no sufrágio francês. Elogio da preguiça Com as sondagens a darem-lhe vantagem, Macron enfrenta também o fantasma da abstenção. Não será ajudado pelo feriado nacional que se celebra na próxima segunda-feira em França, sobretudo porque quem aproveita para tirar férias nestes dias é, tradicionalmente, um votante citadino, mais propenso a ser eleitor do candidato centrista. Outro dos problemas do ex-ministro da Economia é, precisamente, ter sido ex-ministro da Economia, ainda para mais durante a presidência de Hollande. Le Pen tem sido implacável a conotar Macron com a banca e o neoliberalismo, uma mensagem populista que agrada tanto à direita, quanto à esquerda. Em declarações à BBC, o politólogo Aurélien Preud’homme não tem dúvidas de que a “abstenção é a maior ameaça de Macron”. Acrescentou ainda que se o candidato centrista “tiver afluência fraca, enquanto se mantiver um apoio forte a Le Pen, esta pode superar a barreira dos 50 por cento de eleitores”. A mais recente sondagem divulgada pelo jornal Le Monde atribui a Emmanuel Macron 59 por cento das intenções de voto, contra 41 por cento para Marine Le Pen. Porém, o eleitorado da Frente Nacional é muito entusiástico e, com a fragmentação ao centro, Macron está mais exposto à abstenção. Outro dos problemas com as sondagens neste novo mundo político é o eleitorado que não admite que vota nos candidatos anti-sistema, como se viu na eleição de Donald Trump e no referendo do Brexit. Neste capítulo, Rui Flores está confiante. “Sinceramente, não acredito na vitória de Le Pen, as sondagens têm falhado, mas não falharam por muito na primeira volta. Acho que melhoraram a forma como estavam a fazer as suas amostras”, comenta o académico. O dia seguinte O mundo estará em suspenso à espera dos resultados, em especial os centros decisórios das instituições europeias. “A vitória de Le Pen seria um golpe muito forte na União Europeia”, refere Rui Flores. O especialista em assuntos europeus considera que o Brexit já foi um golpe duro, mas será muito mais profundo com a França, uma vez que é um dos estados fundadores da União Europeia. A vitória de Le Pen pode desferir um golpe irreparável nas já fragilizadas instituições europeias. Neste aspecto, Rui Flores, apesar de não acreditar numa vitória da Frente Nacional, considera que esse resultado “seria um tiro no porta-aviões” da União Europeia. Apesar da limpeza de imagem do partido de Le Pen – nomeadamente após o afastamento simbólico do pai de Marine, Jean-Marie, depois de comentários inaceitáveis sobre o Holocausto judeu –, o isolacionismo da Frente Nacional representa um perigo para a sustentação do sonho europeu. Mesmo com a vitória de Macron, este eleitorado que vota Le Pen não desaparecerá, algo a ter em conta a curto prazo, uma vez que as legislativas estão no horizonte. O regresso às urnas dos franceses, já em Junho, pode trazer uma situação desconfortável na liderança da França, resultando numa complicada coabitação entre Presidente/Governo. “Nas legislativas vai haver um vazio dos eleitores que votaram em Macron, que se vão distribuir pelos outros partidos todos e, de facto, o maior partido francês deste momento é a Frente Nacional”, comenta Rui Flores. Com um partido socialista em ruínas, os principais rostos conservadores a braços com escândalos judiciários e um Presidente sem partido, resta a Frente Nacional. Grito de revolta O que mais se teme nos dias que antecipam a eleição é que o entusiasmo entre as candidaturas seja discrepante ao ponto de levar Le Pen ao Eliseu. O facto é que a mensagem que levou Trump à Casa Branca tem tido ressonância pelo mundo fora. “A mensagem do ‘American First’ é poderosíssima”, explica Rui Flores. O académico aponta as falências e o deserto industrial que assolaram o chamado Rest Belt norte-americano como uma consequência inevitável da globalização. Daí este apelo ao isolacionismo e a diabolização dos imigrantes servirem de bandeira aos novos movimentos da extrema-direita, mesmo que defendam velhas ideias. Até em países como a Austrália ou a Nova Zelândia, construídos à força de braços de expatriados, as leis de migração foram alteradas no sentido restritivo. Ou seja, “Trump não é um caso isolado”, comenta Rui Flores. Seja como for, os eleitores que tradicionalmente votariam ao centro perderam um pouco o chão em termos de representatividade. Daí Macron ter apelado à reformulação da União Europeia, “um discurso que tenta apropriar uma bandeira do eleitorado porque poderia votar em Le Pen”, explica o académico. Depois de um debate televisivo em que a falta de vencedor claro favorece o candidato que segue na frente das sondagens, a eleição de domingo pode representar mais uma onda de choque num dos países fulcrais ao projecto europeu. Uma realidade que não se pode ignorar é o esvaziamento dos partidos do centro esquerda, que se viu no referendo do Brexit, na derrota de Clinton e na fraca popularidade de Hollande. Uma evidência que salta à vista é a necessidade de reformulação dos partidos que representam o mainstream político que se encontram num vazio ideológico. Resta saber se Macron consegue remar contra uma maré política que levou a Frente Nacional ao lugar de partido que luta pelo poder em França.
Isabel Castro Internacional MancheteFrança | Primeira volta das presidenciais no próximo domingo Os franceses vão a votos no domingo para umas presidenciais invulgares, com candidatos fora do sistema partidário e um resultado imprevisível. As eleições têm importância interna, mas são também de extrema relevância para uma Europa que já conheceu melhores dias. Em Macau, pela primeira vez, há uma mesa de voto [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o próximo domingo, a partir das 8h, os quase 140 eleitores franceses que residem em Macau poderão exercer o direito de voto na mesa que vai ser instalada na Alliance Française. Têm à escolha, no boletim de voto, 11 candidatos, numas eleições que ficaram, para já, marcadas por escândalos de corrupção e por uma tentativa de ruptura com sistema, com candidatos que não têm o apoio de máquinas partidárias. A mesa de voto em Macau trata-se de uma novidade e poderá ter apenas uma edição, explica o politólogo francês Éric Sautedé que, no próximo domingo, fará parte da comissão presente na Alliance Française. É bem provável que, nas próximas eleições, já seja possível o recurso ao voto electrónico. Mas, para já, esta novidade introduzida pelo novo cônsul-geral francês em Hong Kong e Macau vem reconhecer a importância dos franceses residentes no território que, em sufrágios anteriores, tinham de se deslocar a Hong Kong ou votar por correspondência. Ao todo, Macau e Hong Kong têm oito mil franceses recenseados. Éric Sautedé acredita que a afluência às urnas não deverá ficar atrás do que aconteceu nas últimas eleições, altura em que 60 por cento dos eleitores exerceram o direito de voto. Este ano, pela imprevisibilidade em torno do resultado das eleições, é bem provável que a afluência cresça em França. E esse movimento deverá ser acompanhado fora do país. Em termos domésticos, nestas eleições jogam-se sobretudo políticas económicas, laborais e de imigração. Mas as presidenciais francesas têm impacto também para o futuro da União Europeia (UE). Paris tem uma importância histórica na construção da comunidade de países do Velho Continente. Desempenhou – e continua a desempenhar – uma papel fundamental no equilíbrio de forças da UE, a par da Alemanha. “Ninguém consegue olhar para o futuro da União Europeia sem pensar no eixo franco-alemão, tanto mais agora que o Reino Unido deixa de ser membro da União”, observa José Luís Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM). Sufrágio da diferença Dos 11 candidatos inscritos no boletim de voto, há dois mais bem posicionados para sucederem a François Hollande, que decidiu não se recandidatar. Emmanuel Macron, independente do centro, de apenas 39 anos, vai à frente nas sondagens, mas é seguido de perto por Marine Le Pen, da Frente Nacional, candidata de extrema-direita que os europeístas não desejam ver eleita. Se nenhum dos candidatos conseguir mais de metade dos votos, os eleitores são de novo chamados às urnas a 7 de Maio. Na análise às eleições francesas, Éric Sautedé começa por fazer uma distinção entre o que é a perspectiva interna e o que sentem os eleitores que vivem fora do país. “Os franceses que estão no estrangeiro são globalizados, são muito pró-Europa. Quando se fala com quem está no local, é diferente, porque as grandes preocupações são domésticas, são internas.” Numa Europa que tem vivido, nos últimos anos, fortemente afectada pela crise, as decisões e a influência das instituições europeias são frequentemente utilizadas (justa e injustamente) como justificação para o que vai mal. “Os nossos políticos culpam amiúde as instituições europeias pelas medidas de austeridade, por tudo o que é mais difícil de apresentar ao eleitorado. A Europa é muitas vezes acusada de uma série de dificuldades”, analisa o politólogo. Por isso, é mais fácil para os franceses no estrangeiro terem consciência da importância da União Europeia. Dentro das fronteiras, “muitas pessoas estão insatisfeitas com os políticos, com o facto de a taxa de desemprego rondar os dez por cento”. A “falta de capacidade de vários Governos” tem contribuído fortemente para que o eleitorado esteja desagradado, sublinha Éric Sautedé. E é neste contexto que surgem candidatos que não estão no sistema partidário. Do grupo dos 11, há dois nomes independentes, sendo que é bem provável que um deles seja o próximo Presidente. “Emmanuel Macron, o candidato mais bem posicionado, criou o seu próprio movimento há um ano e meio. Está fora do Partido Socialista, apesar de ser de esquerda, mas está mais do lado liberal. E depois há Jean-Luc Mélenchon, que foi também socialista, mas que tem a sua organização independente. Também está fora do sistema partidário”, realça o politólogo. Ainda na análise aos candidatos, Sautedé não esquece François Fillon, à direita, que chegou a ter uma posição confortável, mas que passou a lidar com acusações – entretanto formalizadas – de corrupção. Depois, na Frente Nacional, Marine Le Pen, que também vive com a sombra de suspeitas de corrupção, que “se diz anti-sistema, mas faz parte dele”. Em suma, “são umas eleições invulgares”, resume o analista francês. “Há dois candidatos fora dos partidos e dois candidatos que se deparam com acusações de corrupção”. Contas imprevisíveis À hora a que este texto é escrito, e depois de a campanha ter começado com quatro candidatos bem posicionados, tudo aponta para que Emmanuel Macron seja o vencedor da primeira volta. “Até há pouco tempo”, recorda Sales Marques, “as sondagens indicavam que Marine Le Pen ganhava a primeira volta e perdia na segunda”. Porque a história recente conta muito para estas análises, apesar de as geografias serem outras, o presidente do IEEM não arrisca resultados. “Estas coisas são imprevisíveis. Se Marine Le Pen ganhar à primeira volta, nunca se sabe o que poderá ser a química interna desses movimentos eleitorais que, às vezes, nos trazem surpresas desagradáveis.” O analista não esquece o Brexit no Reino Unido e a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. As sondagens valem o que valem e o mundo político tem hoje contornos diferentes do que teve no passado, com a polarização de posições e com o refúgio em candidatos que se apresentam com promessas de ruptura do sistema. Na extrema-direita, Marine Le Pen é adepta do proteccionismo, quer acabar com a dupla nacionalidade quando em causa estão cidadãos de fora da Europa, e quer levar a cabo um referendo sobre a presença francesa na União Europeia, um “Frexit” que seria, muito provavelmente, fatal para a UE. Tudo isto é embrulhado com o laço da recuperação da identidade francesa. “Do ponto de vista do projecto europeu, é evidente que seria ideal que ganhasse um candidato europeísta à primeira volta que, neste caso, seria Macron”, nota José Luís Sales Marques. Aos 39 anos, Emmanuel Macron foi ministro da Economia do impopular Presidente François Hollande. Deixou o cargo em 2016 para dar início ao seu movimento – En Marche!. É um defensor do projecto europeu e, como liberal, quer diminuir os impostos às empresas, tornar mais flexíveis as leis laborais, investir 50 mil milhões de euros num plano de investimentos públicos e encorajar os empreendedores. Diz ser, do ponto de vista ideológico, o oposto de Marine Le Pen, e espera convencer os franceses de que “um projecto positivo e uma perspectiva progressista é mais conveniente aos desafios” do país. Além dos desafios económicos e sociais apontados por Éric Sautedé, Sales Marques recorda que “a França tem sido alvo de várias questões de segurança interna, com alguns ataques terroristas, uma certa desestabilização que, como todos sabemos, abre sempre caminho para soluções securitárias, para o fecho de fronteiras, para a tentação de discriminar certos grupos sociais, étnicos e religiosos”. Apesar de as sondagens não darem a vitória a Marine Le Pen, Sales Marques teme que esta “forte candidatura discriminatória e xenófoba” obtenha um resultado elevado, o que poderá significar “uma situação muito complicada” para o país e para a continuidade do projecto europeu”. “Infelizmente, a UE, com a crise económica, com as soluções neoliberais e com uma visão curtíssima do que é a solidariedade europeia, tem vindo a perder”, lamenta Sales Marques. No domingo, os franceses vão a jogo. No boletim de 11 candidatos aposta-se também o futuro da Europa.