Maria João Pires distinguida com Praemium Imperiale do Japão

A pianista portuguesa Maria João Pires foi distinguida, na área da Música, com o Praemium Imperiale, um prémio internacional atribuído pela Associação de Arte do Japão, anunciou esta terça-feira a organização.

O Praemium Imperiale reconhece anualmente o contributo internacional de cinco personalidades nas Artes e na Cultura e, na 35ª. edição, uma das artistas premiadas é a pianista portuguesa Maria João Pires.

Além da intérprete portuguesa, este ano o Praemium Imperiale reconhece o percurso artístico da artista plástica francesa Sophie Calle, da escultora colombiana Doris Salcedo, do arquiteto japonês Shigeru Ban e do realizador taiwanês Ang Lee.

Segundo a organização, o prémio tem um valor monetário de 15 milhões de ienes (cerca de 95.000 euros) e será entregue aos cinco laureados numa cerimónia marcada para 19 de novembro, em Tóquio.

Na rede social Linkedin, Vítor Sereno, actual embaixador de Portugal no Japão e ex-cônsul em Macau, comentou o prémio atribuído à pianista portuguesa. “Este prémio, considerado o ‘Nobel das Artes’, é um reconhecimento merecido do imenso talento e impacto cultural que a pianista tem deixado no mundo. A sua capacidade de nos emocionar através da música transcende fronteiras, e o seu contributo para a música clássica coloca Portugal no mapa das grandes expressões artísticas internacionais”, escreveu.

Reputada pianista

Maria João Pires, que completou 80 anos em Julho, é a mais internacional e reputada dos pianistas portugueses, com um percurso artístico que remonta a finais dos anos de 1940, quando se apresentou pela primeira vez em público, aos quatro anos.

Na próxima semana, prepara-se para iniciar uma digressão pela Coreia do Sul, que se estenderá até ao final de Outubro, prosseguindo depois com uma dezena de actuações na Europa.

Entre os prémios conquistados pelo talento artístico contam-se o primeiro prémio do concurso internacional Beethoven (1970), o prémio do Conselho Internacional da Música, pertencente à organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, 1970) e o Prémio Pessoa (1989).

Na década de 1970, o seu nome tornou-se recorrente nos programas das principais salas de concerto a nível mundial e nos catálogos das principais editoras de música clássica: a Denon, primeiro, para a qual gravou a premiada integral das Sonatas de Mozart (1974); a Erato, a seguir, nos anos de 1980, onde deixou Bach, Mozart e uma das mais celebradas interpretações das “Cenas Infantis”, de Schumann; e depois a Deutsche Grammophon, a partir de 1989.

Maria João Pires fundou ainda, em 1999, o Centro Belgais para o Estudo das Artes, em Escalos de Baixo, Castelo Branco, um projecto educativo, pedagógico e cultural dedicado à música.

O Praemium Imperiale foi criado em 1988 pela Associação de Arte do Japão para reconhecer “o trabalho excepcional” em Pintura, Escultura, Arquitectura, Música e Teatro ou Cinema.

“O prémio homenageia personalidades de todo o mundo que transcendem as fronteiras nacionais e étnicas, dando corpo à cultura e às artes do nosso tempo”, lê-se na página oficial do prémio.

11 Set 2024

Pianista Maria João Pires cria Fundação Partitura para “orientar e educar” músicos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] pianista Maria João Pires criou a Fundação Partitura, através da qual pretende “orientar e educar” músicos jovens, dando-lhes a oportunidade de partilharem palco com artistas experientes, foi ontem anunciado.

“A sua ambição é orientar e educar intensamente um grupo em constante evolução de músicos jovens, e excecionalmente talentosos, e facilitar a sua evolução para uma atividade saudável de concertos, oferecendo-lhes a oportunidade de se juntarem em palco a alguns artistas experientes que desejem transmitir o seu ofício e ideais”, lê-se num comunicado sobre a Fundação Partitura, divulgado hoje pela agência internacional Askonas Holt, que representa a artista.

A conclusão de que “a obsessão contemporânea com as ‘superestrelas’ criadas pelo marketing tornou a música um ideal difícil de viver” inspirou a pianista a criar a fundação.

A “esperança” da Partitura, “tão humilde quanto ambiciosa, é ser um refúgio seguro para a arte como manifestação universal do espírito humano, desligada de objetivos económicos ou egoístas”.

A fundação terá um ‘Laboratório’, que inclui a “descoberta de talentos musicais”, através de concertos em várias cidades pelo mundo com oficinas e “sessões mensais”, com Maria João Pires e os restantes membros da Partitura a reunirem-se durante três ou quatro dias para trocarem ideias.

A fundação propõe a realização de “concertos partilhados, nos quais músicos consagrados e jovens se unem em palco”, dando assim a oportunidade aos mais novos “de se mostrarem a públicos que não os conhecem”.

Além disso, a Partitura “deseja investir tempo e energia consideráveis em gravações” e Maria João Pires e outros membros “irão assumir a direção artística dos discos a solo de jovens músicos”.

A Partitura decidiu também criar o Projeto Equinox [Equinócio, em português], dedicado à “criação e desenvolvimento de coros infantis”.

“[O Projeto] recruta principalmente entre crianças que tiveram um inicio de vida difícil por causa do sítio onde vivem (devastado por pobreza generaliza ou conflitos, ou ambos) e/ou por histórias pessoais particulares”, lê-se no documento hoje divulgado.

O Equinox “tenta instituir a criação musical em ambientes onde as condições não são diretamente favoráveis ao desenvolvimento natural desta prática”.

Em dezembro, a agência internacional de Maria João Pires confirmou à agência Lusa que a pianista deixaria de realizar digressões, mantendo apenas alguns concertos em agenda, ao longo deste ano.

Ao longo de mais de seis décadas de carreira, Maria João Pires foi reconhecida pela crítica internacional como uma das principais intérpretes de Mozart e Schumann, tendo as suas gravações do compositor austríaco, nomeadamente a integral das Sonatas para piano, assim como as suas interpretações do compositor alemão, editadas por discográficas como a Denon, Erato e Deutsche Grammophon, chegado ao primeiro lugar de escolhas de publicações internacionais como a Diapason, Gramophone e Clássica, além dos chamados “Guias Penguin”.

Esta não foi a primeira vez que a pianista, natural de Lisboa, anunciou uma retirada das salas de concerto. Em 2010, numa entrevista ao jornal britânico Evening Standard, declarou que “gostaria de se poder retirar”. “Já toquei muito. Toquei durante 60 anos, e acho que é demais”.

Um ano mais tarde, numa entrevista ao diário espanhol El País, a pianista afirmou que se sentia cansada e que tinha acordado com a sua agência internacional deixar os palcos em 2014, quando completasse 70 anos.

Todavia, tal não veio a acontecer. Maria João Pires voltou aos palcos e aos estúdios de gravação.

Em 2015, ganhou o Prémio Gramophone, pela gravação dos concertos n.º 3 e n.º 4, para piano e orquestra, de Beethoven, com a qual se estreou na discográfica Onyx, com a qual assinou em 2014, quando deixou a Deutsche Grammophon.

Maria João Pires nasceu em Lisboa, a 23 de julho de 1944. É a mais internacional e reputada das pianistas portuguesas, com um percurso artístico que remonta a finais dos anos 1940, quando se apresentou pela primeira vez em público, aos quatro anos.

Em 2010, obteve a nacionalidade brasileira.

20 Mar 2018