Andreia Sofia Silva EventosCasas-museu da Taipa | A livraria que é também um espaço de arte Abriu portas em Março do ano passado e desde o início que representou uma lufada de ar fresco ao espaço histórico das casas-museu da Taipa. A Universal Gallery and Bookshop é, como o nome indica, uma livraria e também um espaço de exposições que pretende mostrar os novos talentos do panorama artístico local, sem esquecer a venda de produtos tipicamente portugueses [dropcap]A[/dropcap] Universal Gallery and Bookshop foi um dos projectos que ganhou a concessão de uma das casas-museu da Taipa para desenvolver o espaço, no âmbito de um concurso público promovido pelo Instituto Cultural. O projecto, que tal como o nome indica, consiste em uma livraria, uma loja de produtos para turistas e espaço para exposições, abriu em Março do ano passado. Tudo corria bem ao aparecimento da pandemia da covid-19 e com ela a crise. “A influência no nosso negócio foi muito grande”, contou ao HM Yiwen Chen, gestora da loja. “Desde finais de Janeiro, inícios de Fevereiro que as nossas vendas caíram cerca de 90 por cento. As coisas agora estão um pouco melhores porque temos vindo a fazer publicidade junto dos residentes.” Apesar da crise, os objectivos deste espaço mantêm-se iguais ao início do projecto: mostrar a arte e a cultura de Macau, não só nas artes como nas letras. “Queremos apostar nos artistas locais e também vendemos as suas obras. Alguns artistas não são muito conhecidos e são apenas estudantes que necessitam de uma plataforma para mostrar o seu trabalho e fazer algum dinheiro. Nem sempre temos artistas reconhecidos. A maior parte são artistas de Macau, mas também fizemos uma exposição com trabalhos com artistas de Hong Kong.” Ao nível das exposições, a galeria já recebeu os trabalhos do conhecido artista de Macau Lai Sio Kit ou Gu Yue, pintor e investigador ligado ao Museu Nacional da China. Além de expor os seus trabalhos, a Universal Gallery and Bookstore é também um espaço onde os interessados podem adquirir obras de arte. Yiwen Chen não tem dúvidas de que o espaço nas casas-museu da Taipa contém vários elementos diferenciadores relativamente a outras livrarias independentes ou galerias de arte. “É um espaço vivo e confortável, com livros, obras originais e com produtos criativos de Macau e Portugal. Os clientes podem adquirir boas peças de arte a um preço razoável”, defendeu. “Disponibilizamos um local para novos criadores e artistas. É importante para que eles tenham um espaço para expor e vender as suas obras de arte ao invés de tentarem vender por eles mesmos. Desta forma, podem focar-se unicamente na criação”, acrescentou. No que diz respeito aos produtos tipicamente portugueses, estão representados os símbolos mais conhecidos, tal como a sardinha, o galo de Barcelos ou o azulejo. Yiwen Chen assegura que estes continuam a ser objectos bastante populares e com muita saída junto dos clientes. Livros infantis com saída Na parte da livraria, a novidade é a venda dos livros infantis da editora portuguesa Mandarina, um projecto desenvolvido por Catarina Mesquita. Em tempos de crise, e com a maior parte dos clientes composta por residentes de Macau, os livros infantis acabam por ser os mais vendidos. O facto de ter poucas vendas faz com que Yiwen Chen não queira apostar na venda de livros em português. “Vendemos sobretudo livros em chinês, não só de autores de Macau mas também de Hong Kong e Taiwan. A maior parte são livros de literatura ou arte. Na nossa loja não conseguimos vender todos os livros e penso que os residentes não têm o hábito de comprar livros de forma regular. Antes os turistas da China compravam muitos livros, e também os turistas de Hong Kong. Talvez os residentes não conhecessem esta loja, mas agora que a conhecem tendem a comprar mais livros infantis.” Apesar de as vendas serem difíceis, numa altura em que a informação está dispersa na Internet e tudo está à distância de um clique, a Universal Gallery and Bookstore consegue ter alguns clientes regulares. “Temos alguns clientes que regressam, temos um grupo de clientes regulares que gostam de ver os novos lançamentos.” Com as portas abertas e a tentar sobreviver a uma crise repentina, a gestora deste espaço criativo já tem novas ideias na manga. “Estamos a planear não apenas exibir e vender obras de arte, mas também ter produtos que possam ser facilmente adquiridos pelos clientes, tal como imagens impressas, postais, malas ou selos. Pretendemos adicionar valor às obras. Também queremos alugar obras de arte a empresas locais para que os trabalhos possam ter mais valor”, rematou.
Flora Fong Ócios & Negócios PessoasLivraria Júbilo 31 | “Aproximar as relações entre pais e filhos” Abraçada por um ambiente característico da Freguesia de São Lázaro, entre a cultura e a criatividade, mora a livraria Júbilo 31. Pequena, acolhedora e com cheiro a livros novos. Bem ali, no coração da Rua de São Roque, local tranquilo e pouco movimentado, encontrámos aquele espaço, que só pela cor e aposta nos livros infantis atrai miúdos e graúdos Da Xiang é a dona da Júbilo 31. Entre sorrisos, explicou, ao HM, que o nome da livraria foi decidido por duas coisas: “Júbilo”, que quer dizer alegria – sentimento que quer que predomine na livraria – e 31, o número da prédio. Na realidade, o nome da livraria em chinês (井井三一) tem outro significado. “A forma do caracter chinês 井 parece uma estante, isto quer dizer que aqui há livros”, acrescentou. A proprietária nasceu em Taiwan e chegou a Macau em 2003. A razão foi a mais bonita: amor. Apaixonada, Da Xiang voou até o território. O marido é de Cantão e a sua área de formação obrigava-o a estar sempre entre Hong Kong, Macau e o interior da China. Foi aí que Da Xiang percebeu que, depois de acabar a sua licenciatura, seria melhor viver em Macau. E foi aqui que se tornou professora. Um novo rumo A sentir que precisava de tempo para si, para descansar, a professora pensou que era a altura ideal para deixar um pouco de lado a sua profissão. Com o conhecimento, através de um amigo, de um espaço vazio à espera de ganhar alguma vida, Da Xiang não hesitou e pensou que poderia abrir a sua livraria. “No início, não pensava em abrir uma livraria assim, dedicada maioritariamente ao mundo das crianças. Mas depois do que tenho vindo a observar nos últimos anos, vejo que os espaços infantis são cada vez menores. Não há muitas escolhas em Macau para as crianças se divertirem e aprenderem ao mesmo tempo. Portanto abri a livraria com este tema: livros de ilustrações infantis”, explicou-nos. Tal como aconteceu naquela tarde que nos recebeu, os dias da semana são marcados pela entrada de poucos clientes. Algo que muda quando tocam as campainhas das escolas para a saída. É nessa altura que “muitos miúdos” enchem o espaço, folheiam os livros, conversam com Da Xiang e passam ali o seu tempo. “Tenho duas clientes irmãs que gostam tanto do espaço que começaram a trazer os irmãos mais novos. Eles adoram. Chegam aqui e deitam-se no chão, bem perto das almofadas, a ler. Passam horas nisto. Os livros que escolhem não são aqueles que estão nas estantes, são os que estão deixados sobre as mesas ou pelo chão de leitura. Estão cheios de ilustrações”, gaba-se. De fora para cá Os livros vendidos na Júbilo 31 são principalmente de editoras e artistas de Hong Kong e Taiwan, mas também existem publicações de artistas locais. Da Xiang recomenda um livro de ilustrações que relata o desastre nuclear em Fukushima, no Japão. “Este livro é considerado o “top de vendas”, muito valorizado. Não estou a falar do preço do livro mas sim do seu significado. É um livro que pretende alertar e educar as novas gerações para a ideia de anti-nuclear. Não são histórias felizes, conta a história de uma miúda que sofre com o desastre. Ela não chorou e até está calma, precisa de esforçar-se para enfrentar a tristeza e evitar que aconteçam mais desastres”, explica. Elo literário Da Xiang partilha ainda que acredita que pais e filhos que se dedicam à leitura em conjunto têm relações mais próximas, e isto, diz, traz uma felicidade incalculável à família. “Nas estantes há centenas de livros que fazem flores desabrochar no coração de crianças e adultos, levando-os para um mundo diferente”, é o slogan que dá as boas-vindas a quem visita o site da livraria. Questionada sobre as dificuldades de ter um negócio em Macau, a empresária explica que a renda da loja é partilhada com um editora local que ocupa o espaço do andar de cima. Isto, conta, ajuda a aliviar os custos da abertura de um espaço. Mesmo assim, nem é tudo fácil. “Temos que ganhar mais dinheiro, mas até agora, está difícil. As despesas e as receitas ainda não estão equilibradas”, confessa, explicando que “o movimento dos clientes é pouco”. “Existem pais e filhos que vieram cá só porque souberam da nossa existência através da internet ou pelos meios de comunicação”, apontou, admitindo que o espaço precisa de se tornar mais conhecido. Em jeito de brincadeira, Da Xiang disse que muitas vezes a livraria assume funções de creche, isto porque há empregadas domésticas que levam os miúdos à Júbilo 31 depois da escola e os pais vão lá apanhá-los ao fim do dia. Algo que não incomoda a dona que diz que pode conhecer muito mais pessoas. “A ideia é que se possa oferecer um espaço que junte crianças e que as ajude a desenvolver pensamentos e conhecimentos”, acrescenta. Mais do que ler Além de livros para vender, a Júbilo 31 organiza sessões de leitura e workshops na livraria, não só para crianças mas também para adultos. A proprietária garante que está atenta aos assuntos sociais deste território. “Como fizemos na semana passada. Realizámos um workshop de fazer açaimes à mão. Através do workshop explicámos às crianças o que os cães podem sentir quando precisam de usar açaimes na rua”, relembrou. A livraria realizou ainda outra sessão de partilha de opiniões, convidando um especialista de Taiwan para explicar as influências negativas de animais em cativeiro, e em parques de diversão. Outra das razões pelo qual os leitores devem ir a esta livraria, explicou Da Xiang, é o gato, bem redondo, o “Ar Pou”, que está a viver no espaço. “O Ar Pou tem muitos fãs, há pessoas que entram na livraria só para brincar com ele. Mas a verdade é que o gato gosta de passear lá fora e alguns deles ficam bastante desapontados”, rematou divertidamente.