Rumi

A antiga Pérsia tem para nós o encanto das lendas e dela recorremos quando ao redor se esvaziam os sonhos e silenciam as regras da civilização que nos faz mergulhar diariamente em factos tangíveis, e sem nos darmos conta há uma voz interna que nos leva daqui para fora e nos coloca no caminho onde o poema ajuda a subir, que a cair, somos instigados em qualquer circunstância.

Mas esta Pérsia, onde era? Qual a razão para nos ter dado o melhor da condição humana quando tratamos de espiritualidade e poesia? É um território da Ásia Ocidental e o local das mais antigas civilizações do mundo, e nela nos focamos para entendermos melhor essa frente esmagadora chamada geopolítica.

É agora Irão desde 1935, e foi aqui que nasceu Rumi numa das suas províncias, o Afeganistão, sob o Sultanato de Rum, Turquia, no século XIII, para trás deixamos o maior império do mundo, e as sucessivas vagas de conquistas e reconquistas que o fizeram tão poderoso.

Nesta Pérsia os povos oravam aos poetas não havendo por isso uma diferenciação entre o seu estatuto e a espiritualidade vigente em terras do zoroastrismo, a primeira religião monoteísta que daria as bases para as Abraâmicas, que produziu um Rumi, como também já tinha dado um Omar Khayyam – Rumi, pode ser considerado um Sufi, o lado mais espiritual do Islão, e a expressão “ciências da alma” não pode ser mais justa nem mais sugestiva, quando lemos os seus poemas.

Ele é um poeta místico que se lançou no seu projecto divino estudando Filosofia, Teologia, Direito, que lhe deu uma grande capacidade de olhar as injustiças e fazer leis (não esqueçamos um dos primeiros marcos da Pérsia, libertar os escravos. A Grécia seguiu-lhes os passos) e sua principal obra, Dísticos Espirituais, o maior trabalho místico da poesia mundial que o coloca na voz lendária de um profeta, mas a sua obra é imensa e engloba a prosa, os sermões, e um cem número de anotações de seus discípulos que podem guiar aqueles que o perscrutem como o mais conseguido exercício para impedir as sombras que tão verticalmente caem agora sobre nós.

Os poetas também servem para isso: estancar o Fascismo! A imundice destas sociedades e os elos artificiais programáticos das políticas insanas, precisam de Rumi. Se necessita também que o ensino se oriente para um contexto diferenciado e mais solene na busca de fontes outras, ou seja, precisam que não se estanque nos artefactos ” criativos” e suba de degrau para se poder lançar do abismo predestinado que todos temos de enfrentar. Deve o legislador procurar por todos os meios introduzir as culturas onde o Poema foi lei, e a força espiritual, o seu elo, e se dois destes navegantes da Terra surtirem efeito nas mentes em formação, foi ganho o esforço de terem sido implementadas. Também o seu mundo nunca foi calmo, tendo que fugir à chegada dos mongóis, tornando-se um dervixe (nome turco) no caminho ascético da ” Tariqah”: a sua ordem chamou-se Mevlevi, que são os que dançam à roda com homens vestidos de branco.

União, Amor, Concórdia e Harmonia, foram os temas que compôs, para que nos encontremos com o «amado imortal» e quase desembocamos no «Amigo e o Amado» de Ramon Llull.

Amigos, retornemos à fonte da essência pura,

que nada mais pode ser igual. Lembrai-vos,

somos pérolas no oceano do espírito. Se assim não for;

por que razão brotam ondas constantes nos nossos corações?

A onda primeva criou a vasilha desse corpo,

E enquanto se rompe, estaremos em união com o Amigo.

13 Jun 2025