Guiné Equatorial pela primeira vez em mostra gastronómica lusófona de Macau

A Guiné Equatorial está presente pela primeira vez na Mostra Gastronómica Lusófona da Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa, apresentada ontem no restaurante Tromba Rija de Macau com a presença de seis chefs.

Marcial Mangue nunca pensou que a Guiné Equatorial se pudesse reconhecer nos sabores de outros territórios da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Até chegar a Macau, onde, em conjunto com chefs de Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal, está a participar na mostra gastronómica da 15.ª Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa (PLP), que começa amanhã, e termina a 25 de Outubro, no restaurante Tromba Rija. “Diria que não haveria ingredientes semelhantes, mas partilhámos ingredientes, como a mandioca e o óleo de palma”, disse aos jornalistas, durante uma apresentação culinária.

Especialista em pratos tradicionais da África Central, coube ao jovem chef inaugurar a primeira presença da Guiné Equatorial na mostra gastronómica em Macau – o país aderiu oficialmente em 2014 à CPLP e apenas no ano passado foi aprovado como membro do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os PLP (Fórum Macau), responsável pela organização da Semana Cultural.

Sobre a cozinha equato-guineense, estranha para os pares dos países presentes, Marcial Mangue salientou que “tudo é natural” e que “todos os ingredientes se vão buscar à terra directamente para a panela”. Entre os pratos apresentados ontem, Mangue optou por homenagear “várias culturas”: a pepesup, sopa de peixe picante originária “de uma parte costeira do país”, e o bambucha, guisado do grupo étnico Fang, “que habita a floresta”.

Para a chef Cláudia Neves, de Cabo Verde, o contacto com a Guiné Equatorial é uma “descoberta de novos sabores” e que vai resultar em “mais bagagem”. Há pontos em comum, sublinhou: “Ele utiliza o milho, a nossa gastronomia é à base do milho, utilizou o marisco que é o búzio, nós também temos, a mandioca, a batata doce”, notou, salientando que “talvez o que muda é a forma de confeccionar e os condimentos”.

Afectos no prato

Sobre o evento que reúne culinárias do universo lusófono, a docente da Escola de Hotelaria e Turismo de Cabo Verde quer trazer para cima da mesa a cultura e as raízes do arquipélago “através da gastronomia, da cachupa, do modje de São Nicolau, da djagacida, um prato típico da Ilha do Fogo”.

Além da língua, acrescentou, os seis países representados nesta mostra ligam-se “pelos temperos, raízes e produtos”. “Depois é uma ligação afectiva e a comida é a melhor forma de afecto”. Afectos confecionados com ingredientes que chegaram, em parte, de avião com esta especialista em pratos crioulos: “A sopa [de peixe e atum], em Cabo Verde, fazemos com cabeça de atum, mas aqui como não havia, trouxe lata de atum, porque tem um tempero diferente, porque o nosso atum é de água salgada, então é diferente, mas na cozinha temos que reinventar, temos de saber reaproveitar e reutilizar”.

Já Caco Marinho, do Brasil, quer servir comida “o mais fresca possível”. Depois de ter encerrado dois restaurantes durante a pandemia da covid-19, o chef e empresário da Baía é hoje presidente do Instituto Ori, que “tem o alimento como transformador sócio ambiental”. “Trabalho directamente com agricultores e agricultoras, pescadores artesanais. Esses são os ingredientes que me interessam, não me interessa super processados, não me interessa comida sem alma”, explicou.

Marinho, que serviu durante a apresentação de ontem, entre outros pratos, moqueca de camarão acompanhada de farofa de dendê e molho lambão, resumiu o encontro em Macau das seis culinárias como uma “cozinha alegre, colorida, de temperos e pimentas”.

“O sentimento, apesar da distância geográfica, é de irmandade, é como se tivéssemos irmãos em outro lugar com ligações de afecto, de memórias, de aromas, que apesar da distância geográfica são parecidos”, disse. Para o curador do evento e actual chef do Tromba Rija de Macau, houve surpresas nestas culinárias com “500 anos de história”. “Não conhecia a malanga”, declarou aos jornalistas Telmo Gongó, referindo-se a uma raiz cultivada sobretudo na América do Sul.

“As pessoas que visitam o restaurante conseguem perceber que a cozinha portuguesa não é só de Portugal e Macau, mas podem perceber que a cozinha portuguesa, dos PALOP [Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa], a de Macau, veio de fusão por barco. Em Macau, temos especiarias da Índia, de África, e tudo o que está aqui demonstrado são os países por onde o barco passava antes de aqui chegar e que trazia as especiarias para Macau”, concluiu.

18 Out 2023

Startups | 928 Challenge muda de nome para incluir Guiné-Equatorial

O programa de empreendedorismo dirigido a startups e empresas criado em Macau, o “928 Challenge”, mudou de nome e passa a chamar-se “929 Challenge” devido à entrada da Guiné-Equatorial como membro permanente do Fórum Macau

 

Chamava-se “Macau-928 Challenge” e passa agora a chamar-se “929 Challenge” [929 Desafio]. A mudança de nome do programa criado em Macau para promover o empreendedorismo entre a China e os países de língua portuguesa, já em vigor, está relacionada com a entrada da Guiné Equatorial como membro permanente do Fórum Macau, anunciada no ano passado. De frisar que a Guiné Equatorial faz também parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), ao lado do Brasil, Cabo Verde, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Timor Leste, Portugal e São Tomé e Príncipe.

O “929 Challenge” é um concurso para facilitar o acesso de empreendedores às oportunidades disponibilizadas pelo facto de Macau ser uma plataforma comercial e de serviços, fomentando a cooperação entre empresas chinesas e dos países de língua portuguesa.

Esta iniciativa, criada por Marco Duarte Rizzolio e José Alves, director da Faculdade de Gestão da Universidade Cidade de Macau (UCM), é co-organizada pelo Fórum Macau e por uma série de universidades, nomeadamente a UCM, Universidade de Macau, Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, Instituto de Estudos de Turismo de Macau, Universidade de São José, Universidade Politécnica Normal de Guangdong e Universidade de Estudos Estrangeiros de Guangdong.

Mudança imperativa

Citado por um comunicado, Marco Duarte Rizzolio disse, sobre a mudança de nome do programa, que esta representa “o crescente número de países de língua portuguesa no mundo”. “Esta mudança simboliza o nosso compromisso em promover os ecossistemas de empreendedorismo lusófono e aproximar pessoas que partilham o interesse em desenvolver negócios entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, acrescentou.

Por sua vez, José Alves adiantou que esta alteração “reflecte a inclusão da Guiné Equatorial e a expansão do evento para uma comunidade mais diversificada: nove cidades na área da Grande Baía da China, duas regiões administrativas de Macau e Hong Kong e nove países de língua portuguesa”.

Sem as restrições da covid-19, o “929 Challenge” diz-se “pronto a criar novas oportunidades para o ecossistema de empreendedorismo GBA-PLP (Grande Baía da China e Países de Língua Portuguesa)”, disse ainda José Alves.

21 Fev 2023

Guiné Equatorial recomendada para aderir ao Fórum de Macau

A Guiné Equatorial foi recomendada para aderir ao Fórum de Macau, uma organização de cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa, anunciou esta terça-feira o embaixador de Portugal na China.

A recomendação surge “com base na candidatura e no facto de ser já membro da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa]”, explicou aos jornalistas José Augusto Duarte, à margem da 16.ª Reunião Ordinária do Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum de Macau).

A decisão caberá agora aos ministros dos países de língua oficial portuguesa e será tomada na Conferência Ministerial que deverá decorrer na última semana de outubro, “uma reunião virtual, com os ministros nas respetivas capitais e os embaixadores que estão na China aqui em Macau”, detalhou.

Em relação à questão dos direitos humanos no país africano agora recomendado para esta organização, o embaixador de Portugal na China disse que essa questão não foi discutida porque não era o contexto, apesar de ser uma “questão pertinente”.

“Mas a partir do momento que é membro da CPLP, não há contexto para aqui criar um contexto que não há na CPLP”, frisou.

Esta recomendação feita e aprovada pelos membros desta organização de cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa surge poucos dias depois da realização, em Angola, da XIII Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que decorreu em 17 de julho.

Em relação à Guiné Equatorial, que aderiu em 2014 e se comprometeu em abolir a pena de morte, os países voltaram a insistir no cumprimento desse compromisso.

Além do fim da pena de morte, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, fez referência “ao Estado de Direito, à democracia, aos direitos humanos, aos valores e princípios fundamentais”.

Sobre este assunto, o primeiro-ministro português, António Costa, referiu que se trata de “um problema que ninguém ignora” e recordou que a Guiné Equatorial tem a obrigação de cumprir os compromissos que assumiu. Caso não o faça, “não pode fazer parte” da comunidade, advertiu.

Na declaração final da XIII cimeira da CPLP, os chefes de Estado e de Governo “encorajaram as autoridades equato-guineenses a prosseguir ações que visam a plena integração na comunidade”.

Entre essas ações, estão “a abolição da pena de morte, a integração da língua portuguesa no sistema de ensino público nacional, a preservação do património cultural, o incremento da cooperação económica e empresarial com os restantes Estados-membros da CPLP, a promoção dos direitos humanos e a capacitação da sociedade civil”.

Em declarações à Lusa na sexta-feira, à margem do Conselho de Ministros da CPLP, o chefe da diplomacia da Guiné Equatorial, Simeón Oyono Esono Angue, disse que “já não se mata ninguém” naquele país, reagindo às críticas de analistas e observadores da CPLP.

“É uma questão que não tem debate, um processo irreversível. O país assumiu esse processo e vai honrar sem problemas. Mas não há pena de morte na Guiné Equatorial, não se está a matar ninguém”, disse o ministro.

Na declaração final, os chefes de Estado e de Governo da CPLP voltaram a manifestar o compromisso com o Programa de Apoio à Integração da Guiné Equatorial (2021-2022), que cobre áreas como a língua portuguesa, o acervo histórico-cultural, o desenvolvimento económico e os direitos humanos, nomeadamente através de apoio financeiro para a sua execução.

A Guiné Equatorial aderiu à CPLP em 2014, na cimeira de Díli, mas esta foi uma decisão controversa, uma vez que o regime do Presidente Teodoro Obiang Nguema, que está no poder desde 1979, é acusado por organizações internacionais de violação dos direitos humanos e de perseguição à oposição.

Obiang não participou na cimeira de Luanda e fez-se representar pelo chefe da diplomacia.

Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe são os nove estados-membros da CPLP, que celebrou, no sábado, 25 anos.

20 Jul 2021