Arrancou Feira do Livro de Hong Kong, mas com menos publicações políticas

A feira anual do livro de Hong Kong começou esta quarta-feira, com várias editoras de obras políticas impedidas de participar no evento e outras a admitirem cautela no tipo de publicações divulgadas.

O principal organizador da feira, o Hong Kong Trade Development Council, disse que não fez uma avaliação prévia das obras à venda. Contudo, o organismo admitiu que, após o reforço do controlo da liberdade de expressão e a detenção de ativistas pró-democracia, na sequência da aprovação de uma dura lei de segurança nacional, em 2020, os participantes devem cumprir a lei.

A editora independente Hillway Culture, que publica livros sobre Hong Kong e eventos políticos, estava na lista das entidades proibidas de participarem no evento. O mesmo aconteceu à One of a Kind, com obra publicada sobre os protestos antigovernamentais de 2019.

Kaying Wong, curador convidado da The House of Hong Kong Literature, a maior organização literária da cidade, referiu que as editoras estão a passar por um período difícil, devido ao impacto da pandemia e às preocupações com a censura.

“Não é certamente um trabalho fácil montarmos um expositor na feira do livro e sermos selecionados” para expor, disse.

Em 2020, devido à pandemia, a região administrativa chinesa adiou por várias vezes, o evento, que acabou por ser cancelado. A feira voltou a abrir portas em junho de 2021. A edição deste ano decorre até terça-feira, 26 de julho.

Citado pela agência Associated Press, o romancista Gabriel Tsang, que trabalha com a editora Spicy Fish Cultural Production Limited, realçou que, na conjuntura atual, os autores devem considerar se podem ou não ser publicados. Os escritores “podem recorrer a alguma alegoria ou fazer uso de habilidades retóricas, em vez de expressarem diretamente o que querem dizer”, explicou.

No ano passado, foram apresentadas queixas contra a Hillway Culture, uma das editoras que não foi autorizada a participar este ano, por disponibilizar obras politicamente sensíveis e passíveis de violarem os termos da polémica lei de segurança nacional.

As autoridades deveriam ser mais claras e transparentes sobre o tipo de atividades permitidas, disse, por sua vez, Hui Ching, diretor do ‘think tank’ sobre política Hong Kong Zhi Ming Institute. “Se não houver transparência, é razoável que o cidadão suspeite que os seus direitos estão a ser privados”, notou Hui.

21 Jul 2022